Commodities e transição energética
O último relatório semestral do Banco Mundial sobre commodities, divulgado em abril deste ano, observa que a invasão da Ucrânia reforçou os incentivos à transição de combustíveis fósseis para fontes renováveis, bem como à redução do consumo de energia, especialmente nos Estados Unidos e na Europa. No país norte-americano, a geração a partir de fontes renováveis já ultrapassou a geração baseada em carvão; na China, a maior parte da demanda adicional de energia tem sido atendida por fontes renováveis.
Num prazo mais longo, a chamada transição energética pode aumentar significativamente a demanda e os preços de alguns metais, como alumínio, cobre, níquel e estanho. Seus usos são amplos nas tecnologias de energias renováveis ou infraestrutura, como turbinas eólicas, veículos elétricos, painéis solares e redes elétricas. Novas tecnologias, como as baseadas em hidrogênio, podem criar demanda adicional por níquel. Há ainda uma grande variedade de minerais necessários à transição energética, alguns exemplos adicionais sendo cromo, chumbo, manganês, molibdênio e zinco. A produção desses minerais chamados críticos tem concentração geográfica maior que a energia atual e que os minerais básicos, com um número limitado de produtores responsáveis por uma grande parcela da oferta global.
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Ainda no tema transição energética, o relatório do Banco Mundial observa que políticas para acelerar essa transição podem desencorajar a produção de combustíveis fósseis, enquanto aumentam a demanda por metais, particularmente cobre, níquel e lítio. Os produtores de energia a partir de combustíveis fósseis podem preferir usar os lucros para reforçar seus balanços e recompensar os acionistas, em vez de investir na expansão da produção. Isso levaria a preços mais altos das commodities de energia intensivas em carbono, mas também de metais e minerais. Essa análise está em linha com a do World Economic Outlook de abril de 2022 do Fundo Monetário Internacional (FMI), resumida em um box da seção Economia Mundial da Carta de Conjuntura do Ipea de junho do mesmo ano, segundo a qual a antecipação de menor demanda por combustíveis fósseis provavelmente reduziu as despesas de capital em petróleo e gás mundialmente nos últimos três a quatro anos – especialmente no caso de empresas listadas em bolsa –, causando queda nos investimentos do setor de cerca de 20%. Produtores que não fazem parte da Opep+ focaram em geração de caixa mais do que em investimento, em parte por causa da transição energética. Segundo o estudo do FMI, a transição para a energia limpa requer redução substancial no investimento em combustíveis fósseis. A recente crise energética – trazida pela pandemia e pela guerra –, porém, levantou preocupações sobre a possibilidade de o ritmo de desinvestimento em combustíveis fósseis, especialmente petróleo e gás, estar rápido demais em relação à velocidade de adoção da energia renovável. Os combustíveis fósseis ainda respondem, globalmente, por mais de 80% do consumo total de energia; além disso, três quartos das reduções de CO2 na próxima década, em uma redução global eficiente, viriam da diminuição do uso de carvão, e não de petróleo e gás.
Leia mais sobre a economia mundial na Carta de Conjuntura do Ipea: https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/category/economia-mundial/