Como é bom ser simples
"Como é bom ser simples sem ter medo do pecado
Como é bom ser simples não bancar o derrotado
Como é bom ser simples sem estar aprisionado
Como é bom ser simples e aceitar que estou errado"
Recorro ao Titãs( a maior banda de todos os tempos da última semana) para enfatizar uma premissa que em minha visão é quase tautológica: a busca pela simplicidade!
A Navalha de Occam é um princípio filosófico que sugere que, ao enfrentar múltiplas explicações para um fenômeno, a mais simples (aquela que faz menos suposições) deve ser preferida. A ideia é que não devemos multiplicar hipóteses sem necessidade.
Em termos práticos, a Navalha de Occam nos incentiva a optar por explicações mais diretas e evitar complexidades desnecessárias, a menos que a evidência justifique essas complexidades. O princípio é amplamente aplicado em ciência, filosofia e lógica como uma ferramenta para simplificar e esclarecer raciocínios.
Porque essa digressão filosófica? O Buffet ( talvez o maior gestor de investimentos da história) é esclarecedoramente simples em seus princípios, escrita e honestidade intelectual ( acho inclusive que o Buffet interior, ou seja, os mecanismos cognitivos do Buffet são profundamente mais complexos que o Buffet expresso por uma linha de raciocínio formalizada nas suas cartas e entrevistas, mas tudo bem), o Peter Lynch, o Damodaran, o Mohnish Pabrai, o Goldratt, o Michael Porter e o Bruce Greenwald...Todos esses são indiscutivelmente providos de conhecimentos profundos sobre negócios, todos conseguem se expressas em uma linguagem incrivelmente simples, com um raciocínio formal super fácil de acompanhar e sem recorrer a um linguajar pensado exclusivamente para afastar as pessoas "comuns" e reforçar o senso de pertencimento a um grupo específico ( leiam Chomsky, reflexões sobre a linguagem). Entretanto, percebo que não expliquei o motivo aqui da busca pela simplicidade. Recentemente li alguns livros com a temática " finanças para Startups" que visam propor que a depender do ponto em que uma companhia se situa no seu ciclo de vida o arcabouço de análise financeira da mesma mudaria. Além disso ser uma falácia: as funções identidades da análise financeira não mudam ao longo da curva de maturação de uma companhia isso cria espaço para todo um arsenal de indivíduos se proporem a deflagrar um racional analítico para companhias emergentes que é simplesmente uma piada.
Qual o meu papel diante desses profetas que supostamente são providos de um processo analítico messiânico capaz de identificar os maiores potenciais de investimento da história e ( sempre após o viés de sobrevivente se manifestar) elucubram sobre como as teses se materializaram ignorando todos os cenários possíveis ( as decisões devem ser analisadas sempre á priori, nunca á posteriori) e focando apenas na realidade que se lhes revelou? Bom, o meu papel é munir os leitores dessa newsletter com o que eu considero o melhor ferramental disponível para que qualquer um possa pensar sobre modelos de negócio e analisar companhias emergentes( lembrano que ANALISAR é uma das 3 atividades impossíveis de Freud, juntamente com EDUCAR, felizmente eu sou casado e, portanto não me proponho a GOVERNAR nem a minha própria casa).
Dito isso há um livro brilhante do Geoffrey Moore chamado Gorilla Game que simplifica bastante os princípios analíticos para mercados emergentes. Vou discorrer um pouco sobre alguns pontos do livro e deixar a indicação de leitura.
Conceito 1: Níveis de tecnologia
Segundo Moore produtos de alta tecnologia são compostos por várias camadas interconectadas, cada uma desempenhando um papel na entrega do produto final. Cada camada é fornecida por empresas especializadas nessa tecnologia específica. Empresas que dominam uma dessas camadas são chamadas de "gorilas" pelo autor( daí o título) e podem influenciar outras camadas, aumentando seu poder no mercado. No longo prazo, empresas que dominam as camadas de tecnologia habilitadora tendem a se estabelecer como vencedoras, enquanto empresas focadas em camadas de aplicação têm menos poder de mercado. Empresas de tecnologia habilitadora possuem mais poder na indústria, enquanto as de camadas de aplicação têm mais poder sobre os clientes.
Conceito 2: Inovações descontínuas
Normalmente, segundo Moore mercados de consumo em massa frequentemente oferecem oportunidades para a introdução de produtos que agregam mais valor pelo mesmo preço. Normalmente, essas inovações são melhorias de produtos existentes, mas ocasionalmente surgem produtos revolucionários que não são compatíveis com os padrões atuais. Produtos revolucionários bem-sucedidos oferecem benefícios tão atraentes que novos padrões e modelos operacionais são rapidamente desenvolvidos para suportá-los. Produtos que se baseiam em padrões existentes são chamados de "inovações contínuas", enquanto aqueles que utilizam novos padrões são chamados de "inovações descontínuas".
Conceito3: Ciclos de adoção de tecnologia.
Moore descreve que, sempre que uma inovação descontínua é introduzida no mercado de consumo, surgem cinco perfis diferentes de consumidores:
Conceito 4: Ciclos de adoção de inovações descontínuas
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Moore descreve o ciclo de adoção de tecnologia para produtos de alta tecnologia descontínuos, identificando seis perfis de consumidores:
Conceito 5: Gorillas
Moore descreve o fenômeno que ocorre durante a fase de tornado em mercados de alta tecnologia, onde várias empresas competem com diferentes padrões tecnológicos. Eventualmente, uma empresa se destaca e estabelece um novo padrão, tornando-se um "gorila", dominando o mercado dessa tecnologia. Essa empresa verá sua valorização de mercado disparar, mantendo essa vantagem ao longo do ciclo de vida da tecnologia.
Os benefícios a longo prazo de ser um "gorila" incluem:
Conceito 6: Cadeias de valor de tecnologia
Moore explica que os "gorilas" só se estabelecem durante a fase de tornado do ciclo de adoção de alta tecnologia, que ocorre quando surge uma nova cadeia de valor. Para que o valor econômico de uma nova inovação seja realizado, novos produtos com a tecnologia devem ser desenvolvidos e integrados em sistemas existentes, tornando-os vendáveis.
Pontos principais:
Para se posicionar diante de mercados na iminência de passar por uma inovação descontínua ( disrupção) Moore orienta sobre como identificar mercados de consumo que estão prestes a entrar em uma fase de hiper crescimento. Para isso, é necessário identificar quando uma nova cadeia de valor foi estabelecida e um novo produto está prestes a entrar no mercado de massa e gerar vendas.
Moore também adverte sobre dar ouvidos a notícias sobre o mercado ( qualquer paralelo sobre AI estar em todos os jornais todo dia é mera coincidência).
Pontos principais:
Qual o papel de um investidor de Venture Capital então? Arbitrar curvas de demanda, pura e simplesmente isso. Quais os principais fatores de risco? a reflexividade do mercado( leia Soros) e o fato de que tocar negócios requer um conjunto de habilidades que só serão reconhecidas á posteriori, tão difícil quanto isso .
O trabalho de um investidor de estágios iniciais é tão simples quanto árduo e todo ou qualquer candidato a messias está somente cometendo uma heresia. Lembrem-se do falseacionismo de Popper, ou para os menos interessados em métodos científicos:
A dúvida é o preço da pureza!
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4 mFarley!!! Mais uma vez se superando! Parabéns! Artigo esclarecedor e de muita sustância!
Relações com investidores e Fundador do @Ibnapratica curso de formação executiva em Private, Corporate e Investment Banking
4 mSensacional, Farley! Artigo de muito valor sobre a indústria de VC, obrigado por compartilhar🚀🏆💡👏