Como criar uma cultura de aprendizagem na sua empresa
Podemos dizer que com a chegada da pandemia, para as empresas sobreviverem, muitas coisas tiveram que mudar. Podemos até mesmo comparar que a teoria de Darwin não se aplica apenas para as espécies, mas também para as organizações. Não é a mais forte ou mais inteligente que sobrevive, mas sim, a que melhor se adapta às mudanças. Esse é o verdadeiro diferencial entre as empresas, a sua capacidade de se adaptar às mudanças. E a única forma de fazer isso dentro de uma organização é criando uma cultura de aprendizagem.
Isso vai muito além de um departamento de treinamento ou uma universidade corporativa. Essas estruturas são focadas em desenvolver habilidades técnicas e comportamentais voltadas às tarefas rotineiras do colaborador. Elas partem do pressuposto de que uma área sabe e outra não. É uma visão que o conhecimento existe e precisa ser disseminado para quem não sabe na ponta. Claro que esse é um passo importante e nunca pode ser ignorado, mas o desafio hoje é mais complexo e em constante evolução.
Diferente das visões anteriores, o conhecimento não está centralizado na mão de poucos sentados no topo do organograma. E o maior desafio é que ele também não está na ponta com os colaboradores. Dessa vez, o conhecimento não existe e, portanto, não pode ser ensinado. Ele precisa ser descoberto.
A cultura de aprendizagem é diferente de uma instituição de ensino. Não é apenas ministrar treinamentos para nivelar o conhecimento, mas sim, como aprender através de experiências práticas. É uma cultura que permite o erro, que analisa dados e testar novos modelos para se adaptar constantemente. A grande dificuldade para estabelecer essa cultura é que nós fomos ensinados na escola que não podemos errar. Para tirar dez, precisávamos acertar todas as questões. O resultado sempre foi mais importante do que o processo.
Na cultura de aprendizagem é o contrário. A empresa precisa errar várias vezes para aprender. O processo é o que ensina fazer melhorias contínuas, evoluir constantemente para alcançar o resultado.
Mas será que o gestor permitirá a sua equipe errar? Por isso, a cultura de aprendizagem precisa começar pela liderança. Não basta envolvê-la, ela precisa ser o principal patrocinador da mudança. Modelos de gestão, hierarquia, formas de trabalho e quase tudo precisa ser questionado e, sem a liderança estar ativamente promovendo a transformação, o projeto não sai do PowerPoint.
Isso acontece porque modelos de comando e controle precisarão ser substituídos por autonomia com responsabilidade. O gestor precisa controlar entregas e não horários. Quem determina se a entrega é bem-feita é o cliente e não o gestor. Isso é feito por meio de pesquisa e dados, não achismo.
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Nesse modelo, "certezas" são transformadas em dúvidas. A palavra certezas está entre aspas porque na maioria das vezes ela é um achismo autoritário. É quando o gestor diz: "isso não vai dar certo", "o caminho é esse", "a melhor campanha é essa" ou "faça assim porque funciona". Essas "certezas" deveriam se transformar em perguntas, porque o objetivo é testar hipóteses, e não estar certo ou errado.
"Não faça assim porque vai dar errado" se torna "vamos testar essa hipótese e fazer dessa maneira?" Como é uma pergunta ou um teste de hipótese, não existe vaidade, hierarquia, certo ou errado. Só existe o resultado. Quando algo fora do esperado acontece, isso é bem-visto, porque cria-se uma oportunidade para aprender.
O líder não é mais quem tem as respostas e aponta a direção, o seu papel muda para ser a pessoa que faz as perguntas e estimula os testes. Ele cria grupos multidisciplinares, também conhecidos como squads, para provocar hipóteses e respostas. Aos poucos, ele ajusta o caminho, faz outro teste, erra de novo, aprende mais um pouco e ajusta o seu processo.
Esse é o modelo que as startups usam para saírem de uma garagem e virarem unicórnios na bolsa de valores. É o modelo que faz o Nubank em poucos anos desafiar o Itaú ou Bradesco. Foi assim que o Uber quebrou o monopólio da indústria de táxis do mundo e até mesmo o Airbnb que se transformou na maior empresa de hospedagem do mundo sem ser dona de um quarto sequer.
A história do Airbnb talvez seja o maior exemplo da cultura de aprendizagem. No início, ela testou uma hipótese de que fotos profissionais seriam mais atrativas. Então, os fundadores contrataram um fotógrafo profissional e foram pessoalmente visitar apartamentos para tirarem fotos. Através de dados, comprovaram a sua hipótese, mas logo viram que não era viável eles tirarem fotos de todos os apartamentos. Partiram para a próxima hipótese, como maximizar o número de fotos profissionais? Então, criaram uma funcionalidade para fotógrafos freelancers prestarem serviços para os proprietários. E a partir daí, novas hipóteses foram criadas e testadas. A maioria delas deu errado, mas como foram vistas como hipóteses e não soluções definitivas, não tem problema, elas viraram aprendizagem.
Imagina se o Airbnb fosse uma empresa hierarquizada e um analista júnior apaixonado por fotografia sugerisse que todos os apartamentos tivessem fotos profissionais para aumentar a receita. Em qualquer outra empresa essa ideia seria descartada com a frase "isso não é viável" ou talvez algo mais grosseiro. Mas quando se estabelece uma cultura de aprendizagem, tudo se torna hipótese e, até que os dados comprovam o contrário, tudo é possível.
Deste modo, sabemos que é uma mudança profunda para qualquer organização. Tirar o poder do gestor e permitir erros não é para qualquer um. Claro que uma empresa aérea não pode permitir que seu piloto teste uma nova rota ou manobra para validar a sua hipótese. Mas pode testar o nível de satisfação ou recompra dos seus clientes a partir da comida servida a bordo, agilidade no seu site ou qualidade do seu serviço de pós-venda e esses dados valem ouro. Imagina o poder de pequenos ajustes nas empresas tradicionais listadas no começo desse artigo se elas começassem a usar esses modelos para tomar decisões e não as "certezas" do CEO, CFO ou qualquer outro CO da vida. A cultura de aprendizagem não está limitada a startups. Serve para qualquer empresa, principalmente as tradicionais. Até porque, atualmente, aprender é mais importante do que saber.
Profissional independente de Gestão educacional
3 aExcelente, Registo e Dou Boa Nota, Caro Prof. Richard Uchoa Vasconcelos. Subscrevo. Está como nele Contém. De forma directa problematiza-se a partir de a cultura de aprendizagem diferente de uma instituição de ensino contribuir para Circuitos de Conectividade: Empresas x ECTS x Sustentabilidade ou se quiser Universidades e Pesquisa como o Eixo Estruturante da Sustentabilidade. Desde logo, a Aprendizagem gera Conectividade, Conectividade gera Conhecimento: Diversidade x Digitalização x Deslocalização e por conseguinte o Conhecimento gera Inovação como factor de Vantagem Competitiva e de Desenvolvimento Sustentável. Daí que, faz todo sentido 1 Rh Extensivo á Família, Clientes para além dos Colaboradores, originário das Universidades Corporativas ou Academias Corporativas.
Professora de Língua Portuguesa | Revisora textual | Corretora de Redação | Produtora de conteúdo | Potencialize sua comunicação através de textos que inspiram e encantam
3 aExcelente artigo. A aprendizagem transforma e promove crescimento pessoal, profissional e social. Imprescindível a qualquer gestão no formato moderno e inovador.
Lider de Pessoas e processos/ Liderança humanizada/ Consultoria Na área escolar: Gestora / Direção / Coordenação pedagógica/ Orientação Educacional
3 aAprender é mesmo mais importante que saber!!!!!
Metodologias ativas, professor influenciador, tecnologia aplicada a educação. Capacitação de professores. Inovação. Orientação de Estudos. Orientação Profissional. Desempenho escolar. Dificuldade de aprendizagem
3 aParabéns Richard! texto sensacional, ótimo para reflexão e virada de chave, sair da zona de conforto, espero que os grandes gestores sigam suas dicas.
Gerente de Assuntos Corporativos | Bacharel em Ciências Econômicas
3 aEmpresas tradicionais geridas por centralizadores tendem a involuir cada vez mais a uma velocidade que talvez, nao estejam vivas para contar como será o novo normal!