COMO DECIDI MEU VOTO NO SEGUNDO TURNO ATRAVÉS DE UM PROCESSO DECISÓRIO
Numa eleição tão polarizada como essa, não é fácil a decisão para quem consegue enxergar de cima. De cima quero dizer fora dessa confusão absurda "tsunamizada" nas redes sociais, culpa não exclusiva de seus apaixonados militantes.
Os dois lados têm aspectos positivos e muitos aspectos negativos. Avaliar o peso desses aspectos, com olhar crítico, de avaliação técnica e sensibilidade é de suma importância para a definição do voto de cada um. Se você é um apaixonado por ser contra o outro, ótimo, decisão vai no coração e durma feliz.
Mas se alguém é, assim como eu, um crítico contumaz da política como é feita e dos políticos de um modo geral, como fazer numa situação caótica como essa?
Resolvi partir para uma decisão mais técnica.
A primeira coisa que fiz foi pontuar numa planilha o que cada candidato verbalizou sobre 21 temas de interesse:
As etapas básicas de um processo decisório consistem em:
1 – Estabelecer um problema ou objetivo;
2 – Estabelecer as alternativas;
3 – Avaliar ou medir a consequência de cada alternativa;
4 – Escolher a melhor alternativa;
Bem, isso parece fácil na teoria. Mas na prática...
Levando em consideração que essa decisão que temos que tomar não é tão simples, precisei construir um modelo decisório um pouco mais complexo, que me ajudasse a decidir, digamos assim, sem a ajuda do coração.
Nas empresas, quando eventualmente você precisa tomar uma decisão baseada em múltiplos critérios, o que você faz? Pesquisa, verifica todas as possibilidades, define critérios mais importantes e toma uma decisão. Observe que a definição de critérios importantes tem a ver com o objetivo do que te atende melhor. Nem todas as empresas que compram um software do mesmo fornecedor, definem a compra pelos mesmos critérios. Para uns o preço pode ser o principal critério, para outros a segurança pode ser mais importante. O mesmo vale para os temas dos candidatos. Para uns a questão da segurança pública pode ser mais importante, para outros pode ser a saúde, e assim vai.
Elaborar um modelo decisório com 21 critérios não parece uma coisa tão lógica. Por isso, o que fiz, ao criar meu modelo decisório foi dar notas a cada resposta dos candidatos sobre cada tema, conforme o critério abaixo:
5 - FORTEMENTE ATENDIDO
3 - MODERADAMENTE ATENDIDO
1 - FRACAMENTE ATENDIDO
0 - NÃO ATENDIDO
“Atendido” entenda como o que eu gostei / aceitei ou não da resposta do candidato.
Ok, vocês já devem ter visto na figura lá de cima como ficaram as colunas das notas.
Agora é fácil, basta somar as colunas e verificar quem levou a maior nota, o que aparentemente seria o que mais se aproximaria do “Atendido” e consequentemente do que eu quero para o país. Certo? Não, ainda não.
Não podemos considerar que assuntos como Economia e Teto de gastos, por exemplo, tenham a mesma importância no cenário que imagino para o Brasil. Eu, pessoalmente, posso considerar que as decisões que serão tomadas para a economia do Brasil são mais ou menos importantes que o que será feito no teto de gastos. Mas é uma decisão pessoal. Outras pessoas podem achar que o tema política externa é irrelevante perto do problema da segurança pública. Como resolver esse problema?
Num processo decisório com múltiplos critérios, o decisor teria que ordená-los através de uma hierarquia de prioridades. No exemplo da compra do software por uma empresa, poderia estabelecer que a prioridade 1- é comprar pelo menor prazo de entrega, e 2 - importância da segurança dos dados.
Para tentar solucionar essa questão da hierarquia, decidi por dar um “peso” a cada tema.
PESO:
3 - MUITO IMPORTANTE
2 - MÉDIA IMPORTÂNCIA
1 - POUCA IMPORTÂNCIA
Feito isso, o próximo passo foi multiplicar as notas pelo seu peso correspondente, ficando um quadro assim:
Reforço que, como foi dito antes, que assim como nas empresas, os interesses, visões, crenças de cada um podem ser diferentes e consequentemente o “peso” de cada tema.
Chegamos finalmente numa nota final. Final? Talvez não. O processo decisório permite que você ainda possa elaborar outros critérios, por exemplo eliminando as piores notas de cada um ou eliminar todos os temas de peso 1, etc.
Entenda que processos decisórios técnicos precisam apenas que sejam definidos por critérios lógicos. Que resultem em ajudar o decisor a uma tomada de decisão que vá ajudá-lo a solucionar um problema.
Herber Simon (1976) classificou as decisões racionais em regimes, que nomeou como “certeza”, “incerteza” e “risco”. Um processo decisório que leva em consideração eventos futuros, temos sempre a perspectiva do “risco”.
Poderíamos criar um processo decisório sob regime de incerteza, elaborando cenários de modo “otimista”, “médio” e “pessimista”. Mas acho que complicaria ainda mais minha decisão.
Cheguei enfim a minha decisão técnica.
Vou optar pelo candidato em que, somadas todas as notas finais (nota x peso), apresentar o maior resultado. E só por isso.
Boa sorte a todos, e quem desejar a planilha em excel com todos os temas e fontes onde as propostas foram apresentadas, é só me pedir.
Grande abraço e bom voto à todos!
Economist & Financial Analist na Petrobras
6 aMe diga: Qual a punição para o não cumprimento do que foi dito, planejado e descrito em programa de governo? Se não existe essa punição, numa escala de simples punição até a perda do mandato, esse processo decisório por base nos programas eleitorais torna-se sem efeito. Não quero dizer que não é válido, sim. Pode ser. Afinal de contas, pensar, rivalizar, debater e incorporar ideias costuma (e é) ser um "bem não rival", ou seja, não toma espaço de "algo no cérebro" anterior ou posterior. O que quero dizer é que, para mim, a decisão de voto ou não, em casos como esses, torna-se bem pessoal por motivos intrínsecos, algo como formação ideológica, vivência, experiências passadas, expectativas futuras e, principalmente, adequação ao que está em jogo. Um exemplo: posso gostar demais do futebol jogado pelo Man. City mas será que ele seria tão eficaz e eficiente em uma campeonato brasileiro? Pela sua planilha, o candidato que falar mais asneiras não factíveis pode ser o preferido, assim como o candidato que mais mentir! De qualquer forma, valeu!