Como Desistem Fácil!
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Como Desistem Fácil!

Uma geração muito protegida pelos pais, cada vez mais preocupados em prover o que for necessário aos seus filhos, mesmo que isso signifique privá-los de algumas "dificuldades" necessárias para o seu processo de maturação.

Mas quando falo de "desistir fácil", não me refiro somente aos jovens adolescentes. Refiro-me aos jovens adultos e até adultos que tenho observado, muitas vezes, trilharem suas metas profissionais somente muito adiante, desperdiçando um tempo de forma que o período em que poderiam colher de seus frutos, ainda estão plantando.

Mas o que mexeu comigo essa semana é o "desistir fácil das oportunidades", que é o tema que gostaria de compartilhar com vocês hoje. Falo de desistir fácil do trabalho, da chance de aprenderem e se tornarem mais fortes, de forma que enfrentem tudo adiante de forma muito mais pacífica, tranquila. Tudo é exploração, injustiça, para tudo eles merecem mais porque "já estão na faculdade" ou porque "são mais inteligentes do que aquilo", "ganho pouco", "não gosto do meu chefe", "eu não sou obrigado(a) a ajudar", ou "não faço esse tipo de trabalho"... Mas vejam bem...


Vou dar um exemplo de quando buscava por uma nova armação de óculos. Meu oftalmologista seria só 1 mês depois, mas se fechasse naquela ótica, eles me levariam para consulta especializada na hora. Decidi "testar" o médico e aceitei. No fim o Dr. foi super atencioso, mas o que me chamou atenção foi a funcionária que me acompanhou por apenas 3 quarteirões até o consultório. Deveria ter minha idade, 20 anos, e não levou um quarteirão de distância da ótica até que se conectasse ao smartphone. Com ele, falava no Whatsapp como odiava seu emprego, pois eles "até a faziam andar no sol"

... Oi?

Sem qualificação acadêmica aparentemente, a julgar por seus erros básicos de Português, reclamava na frente da cliente (no caso, eu) sobre seu trabalho no meio de seu expediente, porque o que fazia comigo estava em suas funções: acompanhar uma cliente. Cliente!, quem dá dinheiro para a empresa lhe pagar o salário!

Não pediam para que ela fizesse hora extra, turnos dobrados, não pediam extensos projetos para no dia da entrega descobrir que foi em vão. O trabalho não lhe requeria qualificação nenhuma, experiência nenhuma, ela apenas tinha que andar 3 quartões.

E ela queria desistir por conta disso?

Me perguntei quanto tempo ela aguentaria nas empresas por onde passei: hora extra, precisar trabalhar aos sábados com a empresa vazia, refazer contratos e mais contratos devido a um erro em uma mísera assinatura, ter retrabalho em redação de tudo que era tipo, correr atrás de projetos feito louca em 48 horas para na hora de entrega a direção decidir que não queria mais, passar estresse por solicitações feitas nos últimos 15min do expediente do dia ciente de que me atrasaria para uma prova na universidade para entregar a tempo, comparecer a reuniões surpresas e não cumprir mais nada planejado do dia, imprimir feito louca toneladas de papel solicitados na ordem para que fossem rejeitados pela gerência que "esqueceu de avisar que não precisava mais", tolerar fofocas na empresa quando fazia bem o seu trabalho mas também ser ofendida se precisava da cooperação do time, entre outros apertos que no fim foram positivamente relevantes na minha vida profissional e na de muitos outros. Sem reclamar. Afinal, tudo é aprendizado. Tudo.

Mas não pra ela, que não aceitava andar 3 quarteirões. Uma tarefa extremamente fácil, simples, sem grandes responsabilidades.


Outra situação que me deixou um pouco confusa. Não foi a preguiça que me surpreendeu, mas a total falta de Empatia da funcionária.

Empatia significa você saber se colocar ao lado do outro. Tanto dos seus colegas de trabalho, para entender o porquê tudo foi feito da forma X e não da forma Y para te prejudicar, como principalmente se colocar no lugar dos clientes. A ocasião é que a profissional realizava exames para pacientes em tratamento de câncer - veja bem... Câncer. Seu horário de almoço era entre 12h e 14h30.

Havia um médico oncologista ("oncologia = especialidade médica que se dedica ao estudo e tratamento da neoplasia, incluindo sua etiologia e desenvolvimento"). que estava tentando descobrir se tinha câncer. Ele poderia fazer os exames nesta clínica entre 12h e 13h, seu horário de almoço. Não queria fazer fora do período para não precisar desmarcar nenhum paciente - afinal, o oncologista trata de pessoas com câncer! Ele exercitou a empatia. Não atrasaria o tratamento de nenhuma pessoa com esta patologia, pela qual ele mesmo atravessaria. Para evitar isso, precisava fazer os exames neste período de tempo.

A funcionária se recusava atendê-lo.

"Eu saio para o almoço 12h. Para eu atendê-lo, o senhor precisa chegar um pouco antes das 12h... 11h30 no mínimo."

É claro que o médico se recusou a desmarcar seus pacientes. Ele teria que encerrar consultas a partir das 11h10, para chegar a tempo de realizar os exames. Ele não queria atrasar a cura ou o alívio de pacientes terminais.

O oncologista se esforçou muito, e chegou 11h55.

A funcionária o atendeu com tremendo desgosto.

Poxa vida. Onde estava, eu lhes pergunto, a empatia da mulher?

Para quem tem duas horas e meia de almoço, sair um único diavinte minutos mais tarde não é absolutamente nada, se isso significa ajudar uma pessoa a salvar sua vida sem prejudicar a de outras pessoas com o mesmo diagnóstico.

Quem quer ir além, entregar além do básico no trabalho, nunca perde prazos e prioriza os clientes. Não estou dizendo que trabalho escravo é bem-vindo, mas se recusar a ficar um pouco até mais tarde uma - uma vez! - pelo trabalho significa que a pessoa não está tão disposta a se dedicar. Mesmo que você não ame onde está, o que faz, que tipo de profissional quer ser? Tudo é aprendizagem e exercitar a paciência, calma e compaixão faz parte disso.

O médico conseguiu seu exame e não desmarcou nenhum paciente.

A funcionária reclamou com seu superior sobre o "absurdo de perder 20 minutos de seu almoço de 2 horas e meia por causa de uma pessoa com câncer."

Ela foi demitida depois de bater boca com seu superior.


Agora não estamos falando das mulheres de 30 e 50 anos de idade, estimei.

Falamos de um rapaz de vinte e um anos de idade, universitário de Direito, em seu estágio. Ele pediu demissão após 4 meses de trabalho porque se considerava bom demais para carregar contratos no fórum. "Onde já se viu?", dizia. "Eu sou melhor do que isso, eu tenho faculdade! Isso é trabalho de quem quer ser juiz?"

Hum, juiz... O juiz patinou muito, muito mais para chegar onde estava. Para quem não tinha experiência nenhuma na área, sim, era preciso subir o primeiro degrau. Afinal de contas, o topo da escada estava muito além do chão, onde aquele rapaz ainda pisava.


Respiremos fundo.

Como desistem fácil.

Exponha, sim, seus filhos e subordinados aprendizes, para impedir que as próximas gerações prevaleçam assim. Eu, por exemplo, abri mão dos amigos e relacionamento aos finais de semana - todos os sábados e domingos dedico exclusivamente a estudar inglês, iniciação científica, trabalhos acadêmicos e cursos extras. É exaustivo, mas não vou desistir, porque quero realizar os meus sonhos, e essa é a minha forma de chegar até lá. Sem parar de trabalhar durante a semana, ir para a aula todas as noites, e estar sempre atenta a desafios maiores. Cortar o meu lazer não é tão forte quanto a vontade de chegar ao final da escada.

Você, caro leitor, para chegar onde está, certamente está ciente dos degraus que subiu e aqueles ainda que faltam.

Não desista fácil.

E fortaleça aqueles ao seu redor. E olhe que aqui dei exemplos fracos, mas certamente você e eu conhecemos histórias de quem por motivos pessoais passou por perrengues muito piores... E está onde está hoje. Superaram, vitoriosos.

Não deixe que eles, também, desistam tão fácil assim. Deus, o universo, seja lá em qual energia você acredita, coloca escadas em sua frente e você acha que são pedras, como diria Geraldo Rufino. Suba!


Gabriela M F Rodrigues

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