Como deve ser feito um manual, contrato ou similar?
Por que grande parte dos brasileiros não leem contratos e manuais e depois reclamam de experiências mal sucedidas ocorreram, sendo que estas poderiam ser totalmente evitáveis se a leitura compreensiva fosse um hábito saudável e automático?
Segundo a Unesco, setor da ONU que cuida de educação e cultura, só há leitura:
a) onde ler é uma tradição nacional
b) onde o hábito de ler vem de casa e
c) onde são formados novos leitores.
Mas as empresas não fazem assim, as empresas colocam especialistas para fazer os textos com o melhor português possível, termos técnicos impecáveis para impressionar o presidente da empresa, e ilustrações em vistas explodidas, 3D, que posteriormente serão miniaturizadas a nível atômico que ninguem poderá enxergar pois perdeu seu propósito. Então geram alguns problemas como:
1) Leitura rebuscada
Procurando com o texto cercar todas as possibilidades fazendo com que qualquer cidadão concentrado se perca em um labirinto sem fim de palavras.
2) Leitura vaga
Repleta de referencias, levando o leitor a visitar vários lugares como se estivesse estudando um livro canônico-arqueológico.
3) Leitura multiutilizável
O mesmo manual serve para vários produtos diferentes, sendo que cada leitor deve ter o trabalho de identificar o seu a cada parte do texto que varia em função do modelo, e em outras partes em função da voltagem, tipo, tamanho, e assim por diante.
4) Leitura catedrática
Ou de membro da academia de letras, rebuscando os termos e esquecendo-se de que muitas vezes o leitor é uma pessoa com conhecimento limitado e que ao iniciar a leitura, percebendo que não está a altura da prosopopéia verborrágica, abandonará e irá para a técnica do improviso intuitivo. Se der errado irá reclamar, irá para a entidade oficial, e fará barulho ficando o ônus da imagem para o fabricante.
5) Cliente limitado
Para um cliente cujo nível de informação é limitado, é necessário que se desenhe, ou seja a ilustração é fundamental a cada passo necessário para o funcionamento desde o setup de um aparelho, seu funcionamento e operação inclusive manutenção, sendo que para cada caso seja pensada da melhor forma de atingir qualquer camada intelectual, neste caso nivelando por baixo porque o fabricante deseja vender e o produto atende desde a classe A até a classe N.
Mas como fazer com que os consumidores leiam os manuais dos produtos para evitar tantos aborrecimentos?
A Leitura poderia ser:
1) Simples
Sem buscar impressionar, mas sim informar.
2) Objetiva
Transmitir o essencial sem confundir.
3) Dedicada
Para cada produto o seu manual.
4) Nivelada
Deve ser compreensiva tanto para A quanto para N.
5) Ilustrada
Tantas imagens quanto necessário.
6) Idioma
No idioma do cliente.
Outros fatores que complicam a leitura de um manual, contrato ou similar são:
a) Texto enorme fazendo o papel ficar até cinza de tanta letrinha...
b) Em letras pequenas que faz até um lutador de MMA bocejar em decisão de campeonato...
c) Repleto de condições que faria um perito advogado se perder nas cláusulas...
Para estes problemas tão graves é óbvio que o texto foi redigido por uma banca de juristas e não de técnicos comprometidos com a questão pedagógica de transmitir conhecimento e informação.
Como deve ser feito um manual ?
Um manual precisaria passar por algumas etapas para ficar perfeito para a utilização do produto, explicando-o claramente então:
I - Redação inicial
Um manual de instruções poderia ser redigido inicialmente pelo projetista que desenhou o produto e que conhece a fundo o seu funcionamento, sabendo a sequencia exata de cada etapa e podendo explicá-la de forma clara.
II - Primeira Revisão
A primeira revisão cabe a um engenheiro de produto perito em normas internacionais de materiais para avaliar se não existem materiais tóxicos, pontas que ofereçam riscos, e outros potenciais problemas que venham a se tornar motivos de eventuais processos futuros.
III - Segunda Revisão
A segunda revisão cabe ao advogado perito em patentes para verificar se nenhuma regra está sendo quebrada, se não há plágio parcial ou total, e se o produto está em acordo com as normas correspondentes e o produto pode ser aprovado para uso pelos organismos fiscalizadores vigentes.
IV - Terceira Revisão
A terceira revisão cabe a um profissional de letras para colocar o texto em perfeita coadunação com o idioma da praça onde este for comercializado, e se houver exportação, em tantos quantos idiomas forem necessários cuidando para que a linguagem e os coloquialismos locais de cada país seja traduzido satisfatóriamente sem corromper o sentido.
V - Quarta Revisão
A quarta e última revisão é feita por um colegiado composto pelos profissionais de cada área que retocaram o texto para uma verificação final e certificação de que as várias possíveis alterações não mudaram o sentido original das instruções iniciais indicadas pelo projetista e revisadas pelo engenheiro de produto.
Com o manual pronto, este deve ser impresso em papel de boa qualidade e com tamanho de fonte legível para que tanto pessoas jovens quanto idosas possam ler sem dificuldade.
Então, pelo motivo que dá trabalho fazer um manual, contrato ou similar bem feito, se faz de uma forma qualquer, consequentemente a obra não é lida e os problemas ocorrem na sequencia.
Existem aqueles que preferem não pedir permissão, e depois preferem pedir perdão.
Existem aqueles que preferem não pedir permissão, e depois preferem pedir perdão. O problema é que muitas vezes um pedido de perdão não irá apagar consequencias fatais.
Marco Canton