Como está sendo nossa relação com os amores em meio a cultura da comparação?
Renan Landucci - Psicólogo | CRP: 06/198257

Como está sendo nossa relação com os amores em meio a cultura da comparação?

“Num mundo de possibilidades ilimitadas, o amor não tem vez” 💭

Essa afirmação do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, tirada do seu livro Agonia do Eros me fez refletir bastante a respeito da nossa relação com os amores em meio a uma sociedade cada vez mais narcisista e adepta à ideia das possibilidades infinitas - tópico recorrente que encontro na clínica, inclusive.

 A cultura atual da comparação constante não admite a negatividade da surpresa do encontro. Estamos constantemente comparando tudo com tudo, e com isso nivelamos tudo ao igual, porque perdemos de vista justamente a experiência da surpresa “do conhecer”, algo que Bauman já vinha explorando com sua modernidade líquida.

O tema central de Han é, como podemos deduzir do título, o amor (Eros, na mitologia grega, é o Deus do amor). Para ele, o amor é uma experiência radical, que se baseia no esvaziamento de si, para o encontro com o outro. Este outro não é apenas um diferente, mas um totalmente outro, isto é, alguém que não diz respeito ao nosso eu, ao nosso mundo, ideal de vida, etc. Ele diz respeito apenas a ele mesmo. Abrir mão de si, dos próprios limites, num profundo esvaziamento (uma espécie sui generis de morte) é o amor. Mas, ao contrário do que pensamos, tal experiência não traz a morte, nem a dissolução do sujeito: é antes a salvação que vem com o amor.

E como experienciamos o amor nesta radicalidade toda? Han afirma que, muitas vezes, não experienciamos. Eros agoniza porque na sociedade neoliberal não há espaço para o diferente: o amado é o atopos, aquele que não tem lugar, e o consumo exige algo de igual. Deste modo, as diferenças aceitas são apenas as consumíveis, mas não aquelas que exigem uma verdadeira alteridade. 

Creio que vivemos em uma sociedade que se faz cada vez mais narcisista. A depressão é o efeito mais visível desta destruição da alteridade; é a sintomática de alguém que está cansado, esgotado de si mesmo. O narcisismo dissolve todos os limites do eu, de modo que se projeta para o mundo de tal forma que só reconhecemos algo se isto for uma sombra de nós mesmos.

Toda essa análise levanta uma preocupação importante. A constante comparação, muitas vezes exacerbada pelas redes sociais e pela sociedade de consumo, pode ter vários efeitos sobre as nossas relações e a nossa capacidade de experimentar a surpresa e o encontro genuíno com os outros. Estes são alguns pontos que levantei a respeito:

  • Desumanização das Experiências: A cultura da comparação pode levar a uma desumanização das experiências e das pessoas. Quando comparamos constantemente, tendemos a ver os outros como objetos de avaliação em vez de indivíduos únicos com suas próprias histórias e qualidades únicas.
  • Perda da Espontaneidade: A constante comparação pode nos impedir de vivenciar o momento presente de forma autêntica e espontânea. Ficamos tão preocupados em comparar e competir que perdemos a capacidade de nos surpreender e de nos conectar de maneira genuína.
  • Pressão para a Conformidade: A cultura da comparação muitas vezes gera pressão para a conformidade, levando as pessoas a tentarem se encaixar em padrões predefinidos em vez de serem autênticas. Isso pode afetar negativamente a expressão individual e a criatividade.
  • Redução das Relações a Status e Realizações: Quando nos concentramos excessivamente em comparações, tendemos a avaliar as pessoas com base em seu status, realizações e aparência externa, em detrimento de outras qualidades importantes, como empatia, compaixão e compreensão mútua.
  • Impacto na Saúde Mental: A cultura da comparação também pode ter implicações negativas para a saúde mental, pois pode contribuir para sentimentos de inadequação, ansiedade e depressão, especialmente quando as pessoas constantemente se comparam desfavoravelmente aos outros.

Por fim, decidi fazer essa análise para refletirmos, juntos, qual é o rumo que estamos tomando quando lidamos com as expectativas de amar alguém. Afinal, qual é o impacto que as redes sociais, tecnologia e as relações modernas como um todo estão tendo no modo que nos relacionamos? E como voltarmos a nós mesmos diante de uma cultura que incessantemente cutuca nossas feridas narcísicas nos tornando nossos próprios objetos de amor? Para amar o outro, antes é necessário deixarmos as paixões pelos nossos próprios reflexos de lado. 

Vivemos em uma sociedade sem Eros.

Agora diz aí, qual é sua opinião a respeito desta temática? Como você vem enxergando e experienciando as relações amorosas? Deixe seu comentário!


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