Como exorcizei a demissão do Globo
Cada um reage à sua maneira aos acontecimentos da vida. Mas uma demissão inesperada, às vezes tira o chão da gente.
Pela primeira vez, 9 anos depois do ocorrido no final de fevereiro de 2012, estou falando publicamente sobre minha demissão do jornal O Globo.
Era uma sexta-feira, véspera de Carnaval. Recebi uma ligação do diretor da Sucursal de Brasília pedindo para que eu passasse na redação. Chegando lá, me deparei com os meus 2 chefes diretos, sentados lado a lado.
A conversa começou meio estranha até que ouvi a seguinte frase: “Você não fez nada de errado. Nós gostamos do seu trabalho, mas seu perfil...”
Demorei a entender o que estava acontecendo e perguntei: “Vocês estão me demitindo?”
A coordenadora de Política confirmou com a cabeça, deixando as lágrimas escorrerem.
'Depois de 17 anos de Casa meu perfil não combina mais com o jornal?', pensei alto. O coração disparou e mas eu tinha uma meta naquele instante: ‘Não vou chorar!’
Meu ex-chefe perguntou se eu poderia anunciar minha saída por e-mail à redação. Disse que deixava a tarefa para ele e sai sem me despedir de ninguém. Precisava respirar e não queria que ninguém me visse chorar.
Peguei minha bolsa, entrei no carro e sai por Brasília, minha linda cidade. Tentava digerir o que havia acabado de acontecer comigo.
Um buraco se abriu na minha alma, uma dor me consumiu por alguns dias. Foi um carnaval de muitas recordações e lágrimas. Iniciava-se naquele instante a despedida de uma época boa e muito importante da minha vida, durante a qual aprendi tanto e fiz grandes amigos.
Um filme passou pela minha cabeça. O privilégio de ter conhecido ícones da política brasileira, do jornalismo político e econômico.
Foram 5 anos como setorista do Palácio do Planalto, 12 anos acompanhando as piores crises do Senado e 4 campanhas presidenciais só pelo Globo. Foi assim que conheci o Brasil todo e uma boa parte do mundo.
Sem falar no frio na barriga que sentia a cada vez que era convidada para participar de alguns programas da GloboNews ou para fazer entradas especiais na CBN, durante o período eleitoral. E da grande responsabilidade de coordenar por vários períodos a principal equipe de cobertura política do país.
Como esquecer o grande prazer que tive de assinar durante as eleições de 2010 a primeira coluna do Globo sobre a campanha nas redes sociais. Na época, o Twitter havia sido descoberto pelos políticos brasileiros, que vislumbravam com a possibilidade de estabelecer um canal de diálogo direto com a sociedade, sem o jornalista como intermediário da notícia.
Antes mesmo de chegar em casa, naquele dia da demissão, recebi inúmeras ligações de amigos, colegas e também de políticos dos mais diversos partidos. Entre os telefonemas, o primeiro convite para mudar do lado do balcão.
Ali nascia a minha empresa, AV Comunicação Multimídia, e uma nova jornada profissional como Consultora em Comunicação Política e Estratégica.
Mas esse é um assunto para meu próximo artigo.
Chefe da Comunicação Social na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SEDUH DF)
3 aAmiga, como te entendo . Aconteceu o mesmo comigo , 16 anos na Record , várias promoções e um dia voltando de férias soube que estava fora. Despedida, mãe solteira com uma filha de cinco anos. Mas a vida me abriu caminhos do outro lado do balcão. Em dois meses comecei a trabalhar com assessoria de imprensa, função que exerço há 7 anos e estou bem feliz 😀
Coordenadora de Comunicação Gabinete/Liderança - Assessora de Imprensa - Parlamentar / Comunicação no Senado Federal | Estratégia e análise de cenário. Especialista em fluxo da informação e storytelling.
3 aCompetência 🥰
Journalist
3 aSó quem passou por isso conhece a profundidade do trauma. Muito admirável a sua nova experiência.