Como explicar para o cliente o seu trabalho de designer gráfico e diagramação (ou Pela conscientização no design gráfico: entre prazos e respeito)

Como explicar para o cliente o seu trabalho de designer gráfico e diagramação (ou Pela conscientização no design gráfico: entre prazos e respeito)

Se tem uma coisa que dá um calorzinho no coração é quando alguém conhece seu trabalho (ou indicam seu trabalho) e vêm te procurar para fazer um freela, um trabalho pontual. Quando a gente trabalha na área de projeto gráfico e diagramação, normalmente, isso acontece com frequência. Por quê?

Pois bem: inclusive no Jornalismo e na Comunicação Organizacional, há diversos trabalhos digitais - e outros ainda impressos - que necessitam de um profissional qualificado, que saiba as diversas técnicas e entenda não só de dispor os elementos de página em seus devidos lugares, mas também de criar algo interessante para que o leitor absorva a mensagem da melhor forma possível. Dispor os elementos, criar, “ah, coloca essa cor assim”, “coloca essa letra assim”. É aí que começa o problema.

Dispor os elementos em uma página (seja impressa ou digital), de forma bem simplista, é o que chamamos de diagramação. Mas antes disso tudo acontecer há outro elemento importante. Sem ele, tudo fica solto, esquisito: o projeto gráfico.

O projeto gráfico é aquilo que traz um milhão de coisas com ele: é o trabalho intelectual e artístico do designer gráfico. É a preocupação com o stakeholder, com a persona, com a estética, com a Gestalt, com cores, tipografia, com as formas e, possivelmente, com a impressão. Sem isso, como o diagramador vai seguir um norte?

Quando o cliente pede para você fazer um PDF sobre tal coisa, felizmente - ou infelizmente - tudo isso vem junto e, às vezes, o estudante ou profissional fica tão empolgado e lisonjeado com a lembrança e com o dinheiro que vai entrar que não percebe que aceitar um trabalho como este traz outras preocupações, muitas delas envolvidas com uma coisa só: o prazo.

Entre prazos e desesperos

O prazo, na maioria das vezes, é apertado. Muitos clientes acham que diagramar é apertar um botão: “ué, eu também sei design gráfico. Eu uso o Canva”. Sim, queridos leitores, eu não tenho nada contra esta ferramenta. Ela ajuda bastante, mas ainda sim faltam muitos recursos profissionais nela. Meus alunos em quarentena entenderam agora as diferenças de uso do Adobe Indesign e do Canva na prática, ao tentarem diagramar um jornal digital. O Canva dá um norte e tem várias inspirações, ajuda muito na criação de postagens para redes sociais, ajuda a fazer portifólio, currículo, apresentações (que por sinal ficam muito boas), mas há uma grande limitação de uso de margens, colunagens, alinhamento e outras coisas.

Voltando ao prazo. Ele é o principal fator de ansiedade e pânico nos profissionais de Comunicação. É raríssimo uma agência ou uma equipe de Comunicação seguir o planejamento de Comunicação a risca. No período de pandemia, esses profissionais estão sendo guerreiros, sobrecarregados e fazendo um duplo twist carpado para redirecionar o que foi planejado para 2020.

Este ser chamado prazo faz com que o cliente não entenda nada destes processos de encaixar as coisas, criar, readequar, refazer. O lance envolvido é entregar. E o profissional fica noites sem dormir desenvolvendo o que não era seu trabalho principal: diagramar.

Mas, o que fazer quando você quer aceitar o job? Quando o pedido é feito, a nossa melhor arma é um contrato. Isso mesmo. Lá, você deve educar seu cliente e dispor as diferenças de trabalho envolvidas e os valores. Use o texto no contrato, o áudio do Whatsapp, use tudo para que a mensagem abaixo chegue até ele. Vamos entender as diferenças:

1 - Diagramação: “Arte de dispor grafismos e contragrafismos como fundos, textos, letras e imagens que compõem a estética de um layout” (COLLARO, 2012, p. 188), ou seja, distribuir os elementos gráficos na página de forma hierárquica, respeitando os elementos de página, os respiros (brancos) e demais especificações do projeto gráfico.

2 - Projeto Gráfico Editorial: dentro do projeto gráfico, o design gráfico irá desenvolver várias especificações de acordo com o objetivo do material. Dentro do objetivo, podemos definir:

- O que é este material? (se material jornalístico, também, qual o conceito editorial)

- Para quem vou destinar este material?

- Qual a periodicidade deste material?

- Como isso vai chegar nestas pessoas? (distribuição)

- Qual o preço para se fazer este material? Este material será pago pelos leitores?

A partir destes itens, podemos definir: se será impresso ou digital, formato de página (se impresso, tipo de folha, gramatura, modo de finalização e acabamento: com lombada, grampo, etc), número de páginas (para impresso, pensaremos em lâminas), margens, número de grids e colunas, seções (se jornal ou revista, editorias), se haverá anúncios. A partir disso, há os elementos de tipologia e tipografia (estudo, estilo e escolha das “fontes”), legibilidade e leiturabilidade, combinação e paleta de cores, formas usadas para cada seção, itens de simetria (ou assimetria), contraste e alinhamento.

Além disso, o projeto gráfico deverá ter todos os itens de repetição, ou seja: como cada elemento estará posicionado, sua forma e como vai se comportar. Dentro disso, elencamos os número de páginas, espaço das editorias (se houver), elementos decorativos, boxes ou fios, alinhamento dos parágrafos, entrelinhas, intertítulos (ou entretítulos), olho (ou destaque textual), capitulares, linha fina, título, créditos das imagens e legenda e também se haverá gráficos ou infográficos. Ufa quanta coisa, não é mesmo?

E, caso o cliente peça, há outra coisa envolvida - inclusive para nós, jornalistas – edição e revisão de texto. Pois é, estes são OUTROS serviços, galera.

3 - Revisão de texto: o cuidado de olhar minuciosamente, frase por frase, para corrigir possíveis erros de ortografia, gramática, concordância verbal e nominal, acentuação, erros de formatação, coesão, coerência, dentre outros.

4 - Edição de texto: a arte de pensar de forma estratégica de acordo com o material. Alterar, cortar, juntar ou alongar frases para que haja uma melhor compreensão do texto. Se digital, também pensar no trabalho de SEO, possíveis conversões (CTA) . Se o trabalho for um e-book (livro digital para dispositivos como Kindle, Kobo, etc), pensar na leiturabilidade e experiência do usuário (onde ele vai depois de clicar aqui? essas coisas).

E qual o motivo de eu ter falado sobre tudo isso? Simples: explique as diferenças para seu cliente, de forma educada (pois ele não é obrigado a saber e uma boa comunicação salva trabalhos) e cobre separadamente. Informe e eduque-os para não passar perrengue quando for diagramar. Até a próxima, pessoal!

 

Referências:

COLLARO, Antonio Celso. Produção Gráfica: arte e técnica na direção de arte. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012.

 

 

 

 

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