Como Funciona a Nova Escada Corporativa.
Os últimos anos mudaram drasticamente as relações de trabalho e a forma como planejamos cenários para o desenvolvimento profissional. No passado, planejar a carreira significava mirar um cargo e definir um caminho para chegar lá. Hoje, esse sistema linear não faz sentido. Fixar o futuro em cargos é uma aposta em um sistema rígido cada vez mais incerto. O cargo projetado pode nem existir em poucos anos.
Além disso, esse sistema de crescimento linear era baseado na premissa de que a carreira está formada por um sequenciamento de cargos. Hoje, definimos a carreira como uma sequência de experiências significativas.
Como diz Mark Savickas, professor da Universidade de Ohio, a carreira não surge, ela é construída.
Nesse período do ano, é costume pensarmos em metas profissionais. Nas empresas é tempo de falar de PDI (Plano de Desenvolvimento Individual), fechar as cansativas avaliações de desempenho e falar sobre perspectivas. Fomos treinados para pensarmos em metas lineares, crescimento focado em cargos e educação formal como caminho de desenvolvimento.
Alguns fenômenos como a “great resignation” refletem a mudança de paradigma, com profissionais optando por deixar seus empregos em busca de ambientes mais alinhados com seus valores e aspirações. Essa revolução no mercado de trabalho influencia a forma como as pessoas planejam sobre suas carreiras, incentivando a busca por oportunidades que proporcionem equilíbrio entre vida profissional e pessoal, desenvolvimento e propósito.
A tendência definida como “quiet ambition” confirma o movimento em busca de realizações significativas de forma mais reservada, muitas vezes priorizando satisfação pessoal sobre reconhecimento externo. Isso pode impactar a maneira como objetivos são definidos, com um foco em metas intrínsecas, como aprendizado contínuo e contribuição significativa, em oposição a objetivos externos tradicionais.
Estudo recente da plataforma Visier mostrou que apenas 4% dos jovens têm como meta de carreira chegar às posições chamadas C-level. Isso mostra um desinteresse do modelo de ambição linear. O que não significa necessariamente falta de interesse em realizar, mas sim menos apetite em crescimento linear. O planejamento de carreira precisa abandonar a projeção de cargos e refletir as experiências significativas, interesses e caminhos múltiplos para construir o desenvolvimento.
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Essa construção passa pela exploração de áreas, projetos, desejo ou não de liderar pessoas. Não existe um caminho único. Um profissional pode iniciar em vendas, participar de projetos na área de tecnologia e liderar um time remoto de sistemas.
São os interesses e a leitura de cenários que vão desenhando a estratégia de desenvolvimento. A partir desses macro objetivos móveis, o protagonista da carreira vai passando seus pontos de desenvolvimento ajustando as estratégias. Avaliando tendências e construindo sua trajetória para estar pronto para os desafios que forem surgindo consoante a evolução do negócio. Esse crescimento passa pela cultura de aprendizagem onde o desenvolvimento acontece através de atividades, mentorias (aprendizagem social) e educação formal.
O Fórum Econômico de Davos listou as principais competências dos profissionais do século XXI, e uma das principais é a “future literacy”, alfabetização sobre o futuro, que é a leitura de cenários e construção de possibilidades múltiplas.
Mas, se a sua empresa presa na redoma do século passado perguntar qual é o cargo que você gostaria de ocupar daqui a cinco anos? Responda: Não estou focado em cargos, busco experiências significativas. Meu planejamento é feito sobre cenários múltiplos e não um alvo fixo.
Por Rafael Souto, sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado.
Publicado no Jornal Valor Econômico em 28.12.2023.
Gerente de Novos Negócios na Business Mindset Consulting
10 mO trabalho é um lugar (às vezes virtual) em que passamos muitas de nossas horas do dia e que deveria nos fazer encontrar nosso propósito e nos sentir valorizados. Com a instabilidade atual em várias áreas, a ascensão da IA e ondas de demissões, é difícil encontrar esse ideal, e uma carreira gratificante parece estar fora de alcance. Mas do que nunca vivenciar experiências que alimentem nossa bagagem, passa a ser a forma de construir carreiras e identificar o nosso potencial.