Como garantir a credibilidade da ciência em tempos de prosumer?
Eis um dilema moderno: como valorizar a ciência numa época em que todos somos, ao mesmo tempo, produtores e consumidores de conteúdo (prosumer)?
As informações circulam livremente pela web e não há o menor controle sobre o que o 5G leva de um lado para outro. Contraditoriamente, nunca estivemos tão à deriva.
É um paradoxo previsível que na era da informação, seu lado B - a desinformação - também ganhe espaço. E foi nessa onda de liberdade de expressão e “eu posso falar o que eu quiser porque o Facebook é meu” que vimos crescer uma onda de informações mentirosas, distorcidas, exageradas ou incompletas.
O resultado é uma galera duvidando da ciência, colocando em xeque pesquisas sérias e, consequentemente, arriscando a própria vida e a dos outros – vide o movimento antivax que está trazendo de volta doenças já erradicadas e o show de horrores que estamos vivendo em relação ao combate ao novo (velho) coronavírus.
A grande questão é: como fugir disso tudo?
Eu já venho dando algumas dicas por aqui, mas achei prudente trazer um aprofundamento maior desse tema para esta rede com o intuito de chamarmos a atenção para a gravidade dessa situação.
Houve um tempo em que só a fé se contrapunha à ciência, hoje qualquer um faz isso, baseado em achismos quando a gente precisa trabalhar com evidências.
Acredito que o único caminho para recuperarmos a credibilidade perdida é a informação. O primeiro passo é contextualizarmos os saberes:
- Comunicador fala sobre comunicação
- Médico sobre saúde
- Professor sobre educação
- Psicólogo/psiquiatra sobre saúde mental
- Profissional de RH sobre recolocação profissional
E por aí vai...
Já diz a cultura popular: cada um no seu quadrado. Todo o resto é achismo.
O fato de a pessoa ter um diploma garante idoneidade e excelência? Obviamente, não!
Mas você há de convir que um nutricionista sabe mais de alimentação infantil do que eu que sou jornalista e educomunicadora aprendiz, certo?
E aí eu entro num ponto importante.
A minha ideia neste artigo é trazer algumas saídas para o dilema proposto no título tendo como base meus estudos sobre educação midiática e a participação em eventos virtuais ao longo de 2020, ouvindo pessoas que dedicam a vida a esse estudo.
O que você vai ler aqui é um compilado de conhecimento embrulhado na minha visão pessoal sobre o tema, certo?
Não tirei nada de trás da minha orelha.
Aprender e ensinar sobre gêneros textuais
Esse é o principal ponto para começarmos a separar o joio do trigo.
Por quê?
Porque tem muito artigo de opinião sendo tomado como reportagem, muita crônica interpretada como notícia e isso é uma porta aberta para confusão.
Se você sabe bem a diferença entre os diferentes gêneros textuais, use todas as oportunidades que tiver para ensinar para as pessoas próximas.
Se você ainda tem dúvida, não tenha vergonha, busque esse conhecimento. Ninguém é obrigado a saber tudo nessa vida.
Quando a gente consegue identificar que determinada postagem é uma propaganda e outra é um editorial fica bem mais fácil interpretar do jeito certo.
Incentivar cientistas a usarem as redes sociais
Ainda existe certo preconceito do meio acadêmico em relação ao uso das redes sociais e isso é um erro porque abre espaço para a desinformação, entende?
Se você é ou conhece algum professor, mestre, doutor ou phD em qualquer área das ciências humanas, sociais, biológicas ou tecnológicas, incentive-o a desmistificar a ciência.
E aí eu vou dar uma super indicação. O Erivaldo Carneiro faz um trabalho incrível nessa área com a sua Escola de PhDs, ajudando acadêmicos a trazerem seus saberes para o universo digital para além da publicação de artigos científicos.
Por que isso é importante?
Porque são os cientistas que detêm o saber sobre temas sensíveis, questões importantes para a nossa sociedade. E eles precisam estar onde a população está para democratizar o acesso à informação em tempos em que o jornalismo está em descrédito.
E isso nos leva ao próximo ponto.
Valorizar o jornalismo profissional
Não há como negar que o jornalismo é uma ferramenta indispensável à democracia. Você pode não querer dar audiência aos grandes conglomerados de comunicação, mas jamais deve desacreditar o trabalho jornalístico.
E não falo isso para fazer autopromoção, não! Já estou longe das redações há muito tempo e não pretendo voltar. Pelo menos não nos moldes de antes.
Só que esses profissionais são essenciais para escancarar escândalos, trazer dados e divulgar a ciência. Quanto mais a gente valoriza essa atividade mais ela cresce e se fortalece.
E quanto mais forte for o jornalismo mais forte é a nossa democracia. Silenciar jornalistas é silenciar a população.
Não gosta do canal X, assista o Y. O jornal A é tendencioso, leia o B, o C, o D... aliás, quanto mais jornais com linhas editoriais distintas você acompanha, mais ampla será a sua visão de mundo.
Para garantir que você está lendo um veículo sério, avalie:
- Se a informação tem fonte
- Se são cometidos erros grosseiros de português, layouts mal feitos entregam uma produção pouco criteriosa e nada profissional.
- Se os textos estão em primeira pessoa (eu vi, eu penso, eu acho) e palavras como “perspectiva” ou “editorial” revelam artigos de opinião.
- Lembre-se de que a opinião do colunista e do veículo pode divergir. Os melhores veículos, inclusive, fazem questão dessas vozes divergentes.
- Veja onde o texto foi publicado. Se a informação só aparece em um site específico, provavelmente, não é real. A imprensa segue uma agenda mais ou menos similar.
- Desconfie de textos com muitos adjetivos, letras maiúsculas ou exclamações. Esses são recursos emocionais, usados para atrair a atenção e conquistar a confiança do leitor.
- Saiba que peças de humor muitas vezes reproduzem conteúdos jornalísticos
- E campanhas que divulgam uma causa devem estar claramente assinadas por alguma organização ou entidade e jamais devem vir como notícia.
Essa lista foi compilada pelo pessoal do MidiaMundo.org e é extremamente importante ter tudo isso em mente sempre que uma informação chegar até você por qualquer meio.
Cobrar responsabilidade dos influenciadores
Esse é um ponto importantíssimo. Precisamos falar até o canto da boca espumar com qualquer pessoa que produz conteúdo para web sobre a responsabilidade em relação ao que divulga.
Em maior ou menor escala somos todos influenciadores porque estamos sempre falando para alguma audiência e temos zero controle sobre o impacto do que vamos escrever na vida dessas pessoas.
Dessa forma é importante cuidarmos para evitarmos polêmicas, discursos de ódio, espalhamento de boatos e informações sem evidência.
Uma das primeiras regras da produção de conteúdo é o domínio do assunto a ser abordado e a análise do público para o qual se fala.
Do outro lado, enquanto consumidores de conteúdos digitais é preciso cobrar atitude e responsabilidade daqueles influenciadores já consagrados. Eles não chamados de influenciadores à toa.
Seu youtuber favorito teve uma atitude duvidosa, deixe isso claro para ele. Chame-o para uma análise daquela situação. Às vezes, nem foi por mal e um comentário seu pode abrir os olhos dele.
Não rolou? Deixa de seguir. Pode ser que o seu unfollow não faça nem cosquinha na audiência dele, mas se centenas e milhares de pessoas fizerem o mesmo, com certeza, ele será forçado a uma auto avaliação.
Nem que isso seja imposto pelos seus patrocinadores.
Juntos somos mais fortes, lembra?
Popularizar a educação midiática
Por último, mas não menos importante, precisamos falar sobre educação midiática. Este artigo todo trouxe informações de educação midiática e a gente precisa levar esse conceito para todos os espaços.
A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) contempla o a educação midiática de forma transdisciplinar, mas nem toda escola conhece o conceito. Conheço uma doutora em Educação que nunca tinha ouvido falar sobre o assunto até eu chamar sua atenção.
E isso é grave.
As crianças que hoje estão nos bancos escolares nasceram conectadas e precisam ser educadas para usar esses meios de uma forma mais eficiente para que sua voz seja ferramenta da paz e não agente do caos.
E não é só na escola que devemos falar sobre isso.
Pesquisas revelam que quem mais espalha desinformação atualmente são os idosos, então, precisamos levar a educação midiática para esse público também.
E se você ficou curioso, indico alguns perfis incríveis que tratam a educação midiática com maestria no Instagram e no Facebook:
- Educamídia
- Redes Cordiais
- Vaza Falsiane
- Midia Mundo
Isso só para citar alguns. Da minha parte, tento abastecer a Mídia na Família sempre que possível para levar o debate para dentro de casa também.
Quanto mais a gente fala sobre um assunto, mais popular ele fica. Ou você nasceu preocupado com o mecanismo de ação das vacinas?
Se academia, sociedade civil e jornalismo estiverem alinhados, não tem pra ninguém!
O que você faz, como produtor e consumidor de conteúdo digital, para valorizar a ciência?
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Marinella de Souza acredita na comunicação e na educação como ferramentas de transformação social, não a toda encontrou na educomunicação uma missão de vida. Escreve desde que se entende por gente e precisa disso para existir. É jornalista de formação, educomunicadora aprendiz, escritora em construção e autora do blog Mídia na Família. Adora ler e cozinhar. E é viciada em açúcar. A maternidade é a sua melhor parte.
Escrita Criativa & Storytelling • Coordenador de Marketing • Copywriting • CRM • LinkedIn para Marcas Pessoais • Mentor • Palestrante • @dimivieira no Instagram
3 aNão faz uma semana que estava conversando justamente sobre esse tema com o Erivaldo! É um tema que precisa demais ser abordado, principalmente numa rede com tantos "especialistas em tudo". E você soube trazer ele bem demais nesse artigo, Marinella!
Marathoner | Founder at Gombo Agency | Speaker | Business Influence Specialist | Creator Economy | ESG | Influence Marketing | Lecturer | Columnist | Curator | Instagram and TikTok @erihcarneiro
3 aMari, este teu artigo e um primor de tão bem escritor e cheio de conceitos. É um mapa para qualquer pessoa da ciência que quer começar a criar presença digital!
Doutorando em História, mestre em Mídia, pós em Sociologia Política e Comunicação Pública, graduado em Jornalismo e Cinema/Audiovisual, assessor de comunicação em políticas públicas. Pesquisa divulgação científica
3 aMuito bom texto!! Muito a ver com o que venho pesquisando. Abçs e obgd!
Comunicação Corporativa | Estrategista de Marca | Palestrante e Trainner | Especialista Linkedin | Personal Branding Executivo | Idealizadora da RealizaMulher
3 aAdorei seu artigo Marinella de Souza, principalmente porque acredito que nós como jornalistas, temos um papel importante na educação da nossa rede de relacionamento. Eu tento fazer a minha parte, já fiz artigos aqui no Linkedin falando sobre isso e ajudo minha família a esclarecer fatos que muitas vezes são distorcidos pelos gurus na internet. Vamos assim tentando separar o joio do trigo.