Como a Guerra entre Rússia e Ucrânia pode afetar o Varejo no Brasil?
A invasão russa no território da Ucrânia se tornou o assunto mais destacado nas manchetes de todo o mundo nas últimas semanas desde do dia 24 de fevereiro, data em que a ofensiva militar se iniciou. Além da violência e dos relatos que chocaram a comunidade internacional, as consequências dessas ações devem ir além dos conflitos e, além disso, devem afetar o desempenho de diversos setores da economia do Brasil, inclusive o varejo.
O conflito trouxe uma preocupação a mais em relação à inflação, que já está bastante elevada. Com os preços aumentando e as atividades ficando estagnadas, não apenas os produtores sentirão o impacto do conflito, mas o consumidor final também, afinal, a alta nos preços afetará alguns pontos que são essenciais para a atividade econômica de todo o país. O cenário, além de delicado, também é bastante complexo e precisa ser entendido.
Além dos preços, o Brasil precisará buscar alternativa para o abastecimento de alguns insumos. Isso porque tanto a Rússia como a Ucrânia são produtores de commodities agrícolas que interferem na produção de alimentos e outras mercadorias. Parte dos impactos desse abastecimento será determinada pelo modo como o agronegócio irá se comportar diante desse cenário, no qual o dólar está passando por uma tendência de valorização.
Impactos Para o Varejo
Os impactos para o varejo serão consequências que a guerra provocará na economia global. Com a importação mais cara, inflação e aumento no preço dos combustíveis, tanto o comércio quanto o consumidor final terão que pagar um valor mais alto pelos produtos.
Aumento da inflação
Uma das consequências mais graves para a economia foi a alta no preço do barril de petróleo, que ultrapassou o valor de US$100. Isso fez com que a Petrobras anunciasse um aumento no valor do combustível em todo o Brasil nesta quinta-feira (11), o que também irá gerar consequências principalmente nos custos do setor de transporte de mercadorias.
Essa alta irá puxar o aumento da inflação, que já está alta. Além disso, esse fator levará a um aumento do juros, o que trará problemas para o crescimento da economia brasileira.
A pressão inflacionária também será causada pelos commodities agrícolas, pois a Ucrânia e a Rússia são exportadores de commodities agrícolas como o trigo, o milho, e também energéticos, como o próprio petróleo. Dessa forma, o aumento dos juros e da inflação traz risco de perdas no varejo e na indústria, o que fará com o que o consumo desaqueça além do que havia sido previsto.
Juros puxam alta do dólar
No mês de março, o Federal Reserve, que é o Banco Central dos EUA, anunciou um aumento na taxa de juros de 0,25%. Com esse aumento, a tendência é que o dólar se fortaleça devido ao aumento de investimentos nos EUA, pois a taxa em um valor mais alto traria maior retorno financeiro para os investidores.
No entanto, o problema disso para o Brasil é que acabaria resultando em uma queda de investimentos no nosso país, o que resultaria em uma diminuição do valor do real. Porém, os juros brasileiros também estão altos e isso pode ser um fator capaz de contribuir para que os impactos da fuga de investimentos não sejam ainda maiores.
Essa variação no valor das moedas impacta na venda de produtos, uma vez que o dólar alto motiva muitos produtores a vender para o mercado estrangeiro para aproveitar a alta da moeda - o que faz com que os produtos encareçam no mercado interno. As exportações acabam subindo de preço também, o que interfere no aumento do valor de uma série de produtos e insumos vindos de fora do país.
Agricultura
O boicote que vários países fizeram contra a Rússia fará com que o Brasi tenha que buscar fontes alternativas de abastecimento para o milho e o trigo. Os impactos disso podem afetar até mesmo a alimentação de animais, visto que o milho é usado principalmente para a produção de ração.
E, em consequência disso, os preços de produtos de origem animal já estão apresentando aumento no mercado interno brasileiro
Mas, além desse problema, a maior preocupação é com os fertilizantes, que são os produtos que o Brasil mais compra da Rússia e que também ficarão mais difíceis de serem importados por causa das sanções, o que trará impactos para a produção dos commodities brasileiros e, naturalmente, contribuirá para um aumento no preço de seus derivados.
Isso deve provocar aumentos que serão sentidos no varejo e na indústria, fazendo com que o poder de compra do consumidor diminua, o que é bastante delicado no momento de crise que estamos vivendo. Por fim, isso pode representar um grande problema para o crescimento econômico do país.
Por outro lado, o Brasil também é um grande exportador de commodities agrícolas, o que deve fazer com que o país seja uma alternativa mais procurada e consiga vender mais, contribuindo para a valorização do real.
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O Que Pode Conter as Perdas?
Com a guerra, muitos investidores preferem colocar o seu dinheiro em economias mais fortes, o que deve gerar um fortalecimento do dólar. No entanto, a moeda brasileira também já vinha acompanhada de uma tendência de valorização motivada por alguns fatores, entre eles, o aumento dos juros.
A guerra na Ucrânia fez com que o real se desvalorizasse um pouco, mas a tendência de crescimento da moeda nacional não deve ser afetada, a menos que o conflito se estenda por muito tempo. Muitos dos investimentos que estavam sendo feitos na Rússia agora devem ser redirecionados para economias emergentes, como a nossa, visto que o Brasil é um grande exportador de commodities, que agora estão em alta.
Embora isso não represente um ganho tão grande a ponto de gerar um superávit para o Brasil, é possível que o nosso país sinta menos os impactos da guerra em relação a outros lugares, mas tudo isso depende do direcionamento que esses investimentos vão ter e, sobretudo, de como será o desenrolar dos eventos ligados ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Conclusão
A invasão militar que a Rússia investiu contra a Ucrânia provocará diversas consequências econômicas no mundo todo, o que inclui o mercado varejista do Brasil. As consequências envolvem principalmente a alta da inflação, puxada pela alta no preço do barril do petróleo, o que acaba gerando um aumento no valor dos serviços e produtos que, por sua vez, afetará o poder de compra do consumidor final, já que as compras de supermercado se tornarão mais caras.
A alta da inflação também está ligada aos commodities agrícolas exportados pelos países envolvidos na guerra. Isso acontece porque a Ucrânia terá sua produtividade comprometida e a Rússia, por sua vez, está sofrendo uma série de sanções, inclusive econômicas. O aumento do custo de produtos como o trigo e o milho (este é usado principalmente na alimentação animal) provocará impacto no valor final dos produtos de diversos derivados desses insumos.
Além disso, a importação de fertilizantes vindos da Rússia também será afetada, o que irá trazer consequências na produção de commodities agrícolas no Brasil. Isso acarretará em um aumento nos preços desses insumos e de seus derivados.
O momento de aumento de juros nos Estados Unidos fará com que o dólar aumente, o que pode gerar um aumento nas exportações e encarecer alguns produtos no mercado interno. Por causa dessa tendência, as exportações também devem ficar mais caras.
O aumento nos preços diminuirá o poder de compra do consumidor final. Diante disso, é possível que haja algumas mudanças nos padrões de consumo da população de modo geral.
A boa notícia é que, em relação a outros países, o Brasil pode sentir menos o impacto das perdas, que devem ser menores por causa dos juros internos, que também estão elevados. Também contribui o fato de que o Brasil é um grande produtor de commodities agrícolas, que estão em alta. Além disso, o país ainda possui a chance de se beneficiar com investimentos destinados a países emergentes. Os desdobramentos, no entanto, dependem de como será a evolução dos conflitos.