Como o capacitismo e a falta de acessibilidade impactam a trajetória de pessoas com deficiência - uma perspectiva pessoal
Essa semana, a discussão relacionada ao capacitismo, acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência ganhou destaque nas redes sociais, após o participante do BBB 24 Vinícius Rodrigues ser vítima de capacitismo e falta de acessibilidade durante a primeira prova do líder da atual edição do programa.
O tema me impactou muito, pessoalmente falando, e trouxe à tona diversos gatilhos, me fazendo relembrar episódios marcantes em que tive que lidar com situações semelhantes na minha vida profissional.
Minha impressão é que nós, pessoas com deficiência, precisamos provar diariamente que sim, somos capazes. Precisamos encontrar maneiras de driblar as diversas barreiras ambientais e tecnológicas que existem e impactam nosso desempenho, porque a falta de acessibilidade, que está no ambiente, raramente é contornada pelos responsáveis pelo ambiente. Precisamos sempre encontrar maneiras e soluções criativas para seguirmos, encontrar de alguma forma força e motivação, quando o mundo inteiro parece não estar preparado para lidar conosco.
Assim que me formei na faculdade, fiquei desempregada por pouco mais de um ano. Fiz diversos processos seletivos, indo até as etapas finais, e aí não era escolhida. Os motivos podem ser diversos. Mas tem dois episódios que me marcaram demais.
O primeiro deles foi um processo seletivo que fiz pra uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo. Teoricamente, fui aprovada, fiz os exames adimissionais, levei na empresa, parecia estar tudo certo, até simplesmente desaparecem. Quase 10 anos depois, não tenho como ter certeza do motivo, já que nunca tive nenhum tipo de retorno. Mas tendo a acreditar que a deficiência possa ser um deles.
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O segundo foi ainda mais traumático. Fiz um processo seletivo bem grande, com muitas etapas, para a maior empresa de comunicação da América Latina. Quando cheguei na entrevista final, o feedback que recebi foi que haviam gostado de mim, do meu currículo, que eu parecia ter muito potencial, mas que precisavam de alguém que ouvisse muito bem para a posição.
Vejam bem: eu nunca escondi, menti ou mesmo omiti a deficiência. O processo tinha com incontáveis etapas, até chegar a essa última. Se a vaga realmente necessitava de alguém que ouvisse muito bem, por que me deixaram chegar até a última fase, para ter que - olha a ironia - ouvir isso?
Como eu, sei que existem milhões de pessoas com deficiência que enfrentam diariamente situações semelhantes. O ponto é que estamos em 2024 e é inadimissível que casos como esses continuem acontecendo.
Fico triste que Vinícius Rodrigues precise estar enfrentando tudo isso. Mas de alguma maneira, ao menos está servindo para levantarmos essa discussão, que é urgente.
Como diz Verna Myers, "diversidade é convidar para a festa. Inclusão é chamar para dançar". Chega de só convidarmos as pessoas com deficiência pras festas. Que a cada dia mais pensemos nas músiscas, na pista e e em todas as adaptações necessárias para que elas dancem plena e livremente.