Como o mercado financeiro pode contribuir na transição para uma economia de baixo carbono
Nunca foi tão urgente falar sobre transição para uma economia de baixo carbono. Em julho do ano passado, a temperatura média global foi cerca de 1,5°C mais quente do que a era pré-industrial, segundo o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia. É preciso lembrar que, como parte do Acordo de Paris, os países se comprometeram a manter o aquecimento global abaixo de 2°C.
Se nada mudar, não vamos conseguir cumprir o acordo e isso significa uma mudança drástica na vida aqui na Terra.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), grupo que reúne cientistas climáticos, avaliou os impactos de um aumento de temperatura acima de 1,5°C. Se chegarmos a 2°, por exemplo, haverá ondas de calor extremo a cada 5 anos, encadeando degelo no Ártico e aumento do nível do mar. Isso, sem falar na extinção de espécies de plantas, vertebrados e insetos.
Certamente há muitos projetos com foco em economia verde, assim como há muitos investidores à procura de soluções baseadas em fontes de energia de baixa (ou zero) emissão de gases do efeito estufa.
No entanto, o que precisamos ainda é estandarizar as regras, para que essas pontes sejam de fato construídas. Explico.
Dentro de cada letra do ESG cabe um mundo de coisas. Assim, mesmo quando duas pessoas estão conversando sobre sustentabilidade, elas acreditam que estão falando sobre a mesma coisa quando, na verdade, não estão. Se não houver uma padronização mínima dos projetos e das regras de financiamento, por exemplo, nosso caminho será mais longo.
Hoje, o que geralmente acontece é que esses atores - quem busca e quem oferece recursos - precisam montar estruturas dedicadas a cada projeto, o que muitas vezes inviabiliza que saiam do papel.
Mas estamos avançando e quero celebrar essa caminhada. Fazer parte de um banco global, que me dá oportunidade de trocar experiências com pares de outros lugares do mundo, me dá confiança e me motiva. Sei que os mercados não são iguais, mas poder conhecer soluções que já foram testadas em outras regiões, mesmo que precisem de adaptação, me deixa segura de que é viável seguir.
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Estudo da FGV avalia que a transição efetiva para uma economia de baixo carbono requer uma atuação conjunta de diferentes setores e comprova que é preciso trabalhar na conexão das intenções. “Apesar de haver linhas disponíveis, o volume de recursos utilizados é baixo e ainda insuficiente para financiar plenamente a transição para a economia de baixo carbono. Para avançar será necessário, além da disponibilização de mais recursos, rever processos internos e capacitar os envolvidos na análise de projetos, análise de crédito e avaliação de risco; adequar as práticas de monitoramento adotadas e rever as garantias para melhorar a alocação e eficiência no desembolso dos recursos.”
Além de preservar o planeta, a economia de baixo carbono cria oportunidades econômicas e empregos. De acordo com a consultoria Systemiq Brasil e coalizão AYA Earth, em menos de dez anos, a economia verde pode aumentar até US$ 150 bilhões por ano o Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil.
Nos EUA, o setor de energias renováveis vem criando 12 vezes mais empregos que outros segmentos da economia, devido à queda dos custos de geração da energia solar fotovoltaica e eólica. Vejam a potência de uma única ação!
Em entrevista ao Valor Econômico, Rafael Dubeux, coordenador especial do Plano de Transformação Ecológica do Ministério da Fazenda, afirma que o país pode, “no lugar de focar em venda de commodities, agregar valor e vender, por exemplo, amônia e aço verde produzidos a partir do hidrogênio verde, e componentes para a indústria da transição energética.”
O coordenador também diz que, para isso acontecer, “é fundamental a aprovação de marcos regulatórios, como o mercado regulado de carbono, a mobilidade verde, indústria verde e eólicas offshore, citando alguns exemplos.”
Todos os dias me deparo com decisões a tomar sobre como podemos contribuir para acelerar essa agenda - que passa, invariavelmente, por financiamento. Estimativas sugerem que será necessário em torno de US$ 5 trilhões por ano até 2050 para cumprir as metas climáticas e de biodiversidade.
Para vivermos em um planeta habitável, precisamos aproveitar esse momento positivo e abrir caminho para que o dinheiro chegue até projetos com foco no clima e garantir que uma economia mais sustentável beneficie também grupos vulneráveis.
O momento é decisivo. É hora de agir.
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9 mParabéns Esther! Vamos juntas!