Como as Passarelas estão inspirando as fantasias de Halloween

Por Bruna Morisson

A cada ano, o Halloween parece ganhar um ar mais sofisticado. Sai a fantasia básica e entram produções que poderiam muito bem ser vistas nas passarelas das principais semanas de moda. Essa nova face do Halloween é uma prova de como a alta costura e a moda de passarela têm impactado as escolhas estéticas das fantasias, transformando uma data antes dominada por produções caseiras em um verdadeiro desfile de horror couture. Com a digitalização dos desfiles e o fenômeno das redes sociais, o mundo fashion está mais acessível, e inspirações que eram restritas ao público especializado agora estão ao alcance de todos.

Esse fenômeno de luxo e terror andarem lado a lado é reforçado pela crescente tendência do method dressing, em que as pessoas abraçam o conceito de se vestir à rigor para cada ocasião. Se antes a alta costura parecia distante de algo tão festivo e carnavalesco quanto o Halloween, hoje vemos a mesma atenção aos detalhes e uma complexidade artística que rivaliza com as criações dos desfiles. Afinal, se há um momento para realmente incorporar os personagens de nossas fantasias (ou pesadelos) mais vívidas, é o Halloween, e nada representa melhor esse espírito do que os figurinos inspirados pela imaginação das grandes maisons.

Grandes Casas e o Fascínio pelo Terror

Não é de hoje que designers de alta costura se inspiram no macabro e no sobrenatural. Alexander McQueen foi um dos pioneiros, introduzindo o horror com uma elegância sinistra que misturava fantasia e realidade em peças dramáticas e inesquecíveis. Em 1992, sua coleção Jack the Ripper Stalks His Victims trouxe referências ao famoso assassino, e em Voss, de 2001, ele criou uma narrativa de loucura e confinamento que parecia evocar nossos piores pesadelos. Esses desfiles, longe de serem simples apresentações de moda, transformaram a passarela em uma espécie de teatro gótico, onde o terror e a beleza coexistiam de forma intensa e desconcertante.

No entanto, a abordagem do Halloween na alta costura vai além do mero “assustador” ou “sinistro”. Marcas como a Rodarte capturam um lado mais romântico e etéreo do horror, inspirando-se em ícones de filmes clássicos de terror, como Suspiria e A Noiva de Frankenstein. Em 2019, a coleção das irmãs Kate e Laura Mulleavy trouxe peças que pareciam saídas de um sonho assombrado, com vestidos cheios de tule e renda que evocavam a imagem de fantasmas de outra época. Essa fusão de estilos cria uma estética rica e sombria, onde o gótico e o místico transformam peças de alta moda em verdadeiros cenários de conto de terror.

“Horror Couture”: O Novo Luxo Fantasmagórico

A busca por referências da alta moda para o Halloween é parte de um fenômeno que se intensificou após a pandemia: as pessoas querem experimentar, ousar e se expressar mais, trazendo um toque de glamour e drama para o dia a dia. O Baile de Halloween Sephora dos últimos anos exemplificou bem essa tendência. Celebridades como Xuxa Meneghel e Ivete Sangalo, vestidas com peças de estilistas renomados, criaram um espetáculo visual que uniu elementos das passarelas ao imaginário coletivo de figuras do Halloween, como a noiva do frankenstein e a noiva cadáver, em versões mais ousadas e elegantes.

O method dressing, que ganhou popularidade em 2023, incentiva as pessoas a seguirem um dress code específico para cada ocasião — e o Halloween é o cenário perfeito para esse movimento. Se vestir para assistir ao filme da Barbie de rosa chocante já se tornou costume, então, por que não elevar a data das bruxas ao incorporar peças e referências da alta moda? Inspirados pela estética das passarelas, aqueles que querem um Halloween inesquecível combinam tule, cetim, cores vibrantes e até sangue falso, criando uma narrativa visual que reflete tanto o luxo quanto o grotesco.

As Redes Sociais e a Democratização do Horror de Luxo

Com as redes sociais, a moda de passarela se torna mais acessível ao público e influencia cada vez mais o mundo das fantasias. No Halloween, vemos peças icônicas de marcas como Loewe e Schiaparelli, por exemplo, ganhando novos significados nas criações de fantasias personalizadas. A brasileira Dandara Pagu, por exemplo, levou o estilo de Beyoncé para o Halloween ao vestir um bodysuit cravejado da Loewe, reinterpretando a peça como uma fantasia cheia de atitude e poder.

Esse contato direto com as coleções mais recentes permite que as pessoas criem personagens únicos, muitas vezes inspirados nas tendências que acabaram de desfilar. Essa proximidade com o universo da moda também abriu portas para fantasias customizadas que unem elementos de estilos específicos, como o steampunk e a ficção científica, criando figuras inéditas como o Senhor do Tempo. O Halloween é um palco para personagens icônicos, e o horror couture tornou-se uma maneira de expressar a própria personalidade por meio de um glamour fantasmagórico.

O Clássico Reinventado: Do Drácula ao Palhaço

As casas de moda também não têm medo de reviver monstros tradicionais, como o Drácula e a Medusa, e reinventá-los com uma estética luxuosa. Em 2022, Viktor&Rolf revisitaram o figurino de Drácula com ombros altíssimos e formas que evocam poder e imponência. Já McQueen, em 2001, trouxe a coleção “What a Merry-Go-Round”, explorando o lado sombrio do palhaço, que é ao mesmo tempo aterrorizante e fascinante. Essas releituras dos personagens clássicos transformam o Halloween em um evento visualmente cativante, onde a criatividade e o medo andam lado a lado.

Halloween e alta costura, cada um à sua maneira, são convites para que todos nós exploremos diferentes facetas de nossa imaginação e individualidade. Inspirados pela alta moda, o Halloween se torna mais do que uma simples data para fantasias e doces; é uma oportunidade para experimentar, ousar e encarnar o drama, o luxo e a excentricidade das passarelas. Seja vestindo-se de uma versão gótica de si mesmo ou reinterpretando um ícone do horror, o Halloween nos lembra que a moda é, acima de tudo, uma forma de expressão sem limites.