Como se tornar um p*** talento com Sandy e Junior
Foto: César Ovalle

Como se tornar um p*** talento com Sandy e Junior

Antes de tudo, saiba que este artigo não é um apelo para os fãs de Sandy e Junior. Meu objetivo aqui é te convidar a olhar para essa história como um exemplo prático de como podemos nos aperfeiçoar na carreira de forma autêntica e natural.

Semana passada aconteceu o lançamento do show de Sandy e Junior “Nossa História”, e foi logo depois do lançamento do documentário “A História”, onde retrata toda a trajetória deles durante esses 30 anos de carreira, resumidos em 7 episódios.

Confesso que fiquei emocionada com a qualidade artística e técnica do show, mas foi logo depois de assistir o documentário que entendi como tudo fez sentido para o crescimento pessoal e profissional de cada um, os transformando nos grandes músicos que são hoje, cada um na sua individualidade.

É este convite que te faço aqui. Repensar o que eles fizeram para serem os novos “top performances” da música brasileira!

Conheça seus desejos

Toda essa história começou quando Sandy e Junior despertaram interesse pela música. O desejo era tanto que cantar e dançar era a brincadeira preferida deles. Talvez você pode pensar que isso aconteceu porque eles tiveram influência do pai e dos avós, que também são músicos.

Eu concordo, mas em partes. Se essa influência fosse algo determinante, como você explicaria o fato de tantos outros filhos e netos de artistas não seguirem a mesma carreira? A família pode ter apresentado a música, mas o desejo partiu deles. Essa vontade era tanta que convenceram seus pais a os deixarem “brincar de músicos” na vida real.

Pensa comigo: tínhamos ali duas crianças com uma vontade enorme de viver a música. Eles não se preocupavam com o que as pessoas pensariam, se ririam deles, se cantariam afinado, se dançariam legal

Lembra quando você era criança? Que não se preocupava com nada disso que você pensa ou sente agora? Essa pureza genuína se perde à medida que vamos crescendo, porque começamos a construir nosso modelo mental baseado nas situações e experiências. 

Ou seja, o que vemos e acreditamos são todas essas informações que processamos na nossa mente, como nosso banco de dados.

Mas, se você pudesse escolher sua realidade agora sem considerar nada disso, o que você escolheria? Ter esse entendimento é o que te motiva a se desenvolver cada vez mais, porque ele não está baseado nas circunstâncias externas, e sim no que está dentro de você, isto é, nos seus desejos.

O segredo para ter vontade de aprender é buscar por algo que te interessa. E, sendo interessante, você consegue ter prazer na jornada.

Tenha prazer na jornada

Tudo era visto como diversão, em vez de um trabalho penoso para ganhar dinheiro ou apenas cumprir agenda. Além disso, conforme saiam da infância à juventude, eles continuavam priorizando a música e ajustavam outros compromissos à medida que conseguiam, como gravação do programa, novelas, filmes e entrevistas.

Até a carreira internacional foi interrompida porque deixou de ser prazerosa para se tornar algo exaustivo e cansativo.

Inclusive, se você viu o show, mas, ainda não viu o documentário, vou te dar um pequeno spoiler: a Sandy estava passando muito mal no dia da gravação do DVD, com suspeita de rotavírus. O show quase foi cancelado por esse motivo, e provavelmente seria se tudo aquilo fosse visto apenas como uma obrigação a ser cumprida.

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Quando eu notei isso percebi o quanto essa enxurrada de métodos, passos e guias, muitas vezes, tornam o nosso trabalho mais complicado do que é. Então, fazer coisas simples, como um post nas redes sociais ou um email para nossa lista de contatos, por exemplo, se transforma num duelo de gigantes. 

Tudo tem que estar perfeito para dar certo. Mentalizamos as necessidades do público, precisamos revisar várias vezes para não ter erros, ficamos horas e horas escolhendo a melhor paleta de cores. 

No final, algo que era para ser simples se tornou tão chato que tomamos ranço.

Eu vivi tanto o conceito de Marketing Digital que estava cansada das minhas próprias redes sociais. Criei vários perfis, exclui outros tantos para desmanchar a automação, apaguei posts porque não achava legal e já não aguentava mais ouvir a palavra “lançamento” (que Erico Rocha me perdoe).

Pensa naquela tarefa que você precisa muito fazer, mas sente um peso enorme só de pensar nela, como um fardo que você precisa carregar. Se puder, se livre dela quanto antes! Decida abandonar, mudar de tática ou delegar, pois, só o fato de você se programar, sua mente começa a trabalhar nela como se você já estivesse fazendo.

No final, você sente um cansaço enorme que nem sabe por que, já que transformou seu processo na meta, matando um leão por dia.

Mas, se ela for realmente importante para o seu trabalho, descubra como tornar essa tarefa prazerosa.

No meu caso, eu fico cansada só de pensar em fazer pautas. Eu gosto da luz, câmera e ação, mas acho muito chato a parte do planejamento.

Então, fazer pautas se tornou meu momento de ver séries antigas. Eu gosto de rever séries que me marcaram e decidi fazer isso sempre quando estou planejamento as pautas de um curso novo ou do meu calendário editorial. Assim eu me beneficio de duas formas.

Primeiro, eu transformo um momento cansativo em algo que me dá prazer. Como não consigo prestar atenção a duas coisas ao mesmo tempo mas já conheço a história, meu cérebro não precisa se concentrar totalmente naquilo. Segundo, deixo meu tempo livre para fazer coisas que eu gosto e são inéditas (que exigem mais da minha concentração), como ler um livro ou ver uma série nova.

Mas não pense que essa é a solução de todos os seus problemas. Para continuar na construção do que quer, você também precisa vencer outros problemas à medida que eles surgem.

Enfrente seus medos

Quando a nossa criança interior cresce, ela passa a olhar mais para o seu redor. Percebe o que as pessoas pensam, como se comportam, como se sentem. Com isso, deixa de olhar para dentro de si, começando a atender mais às necessidades do outro do que as dela.

E surgem os pensamentos: "temos que fazer o que é melhor para nós", "precisamos cumprir as regras da vida", "devemos dar orgulho as pessoas". É um mix de pensamentos que geram emoções duvidosas.

Você começa a pensar que não merece o que tem, que seus sonhos são surreais demais, que não pode fazer o que deseja, entre tantos outros.

Sandy e Junior também tiveram medos assim, e eles são tão irracionais que nos fazem ver o mundo sob a ótica de outras pessoas e não a nossa. Eles nos paralisam e nos impedem de agir porque não conseguimos ouvir nosso coração e o que queremos fazer. 

Na participação no Rock In Rio, Junior comenta que viu na TV Carlinhos Brown tomando garrafada e entrou em pânico: “vou tomar tomatada e ovada”, pensou. Afinal, era uma dupla com público juvenil e que foi convidada a cantar no maior festival de Rock do mundo. E antes de nada mais, nada menos, que Nsync.

Além dessa pressão toda, também não conseguiram ter acesso ao palco antes para ensaiar um show que tinha expectativa de 100 mil pessoas. Era uma insegurança enorme.

Sandy comentou que chegou a pensar que aquilo não era para ela, que não deveria estar ali. Qualquer semelhança com a síndrome do impostor não é mera coincidência.

Se você pensou que eles venceram o medo com alguma técnica transcendental ou coisa assim, se enganou. Eles decidiram ir com medo mesmo. 

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São tantos medos que nos impedem de sermos um p*** profissional. Medo de errar, de receber críticas, de desagradar pessoas queridas.

Está com medo de tomar tomatada e ovada? Vai para o palco, confie em quem você é e se permita aprender.

Saiba qual o próximo passo

Aquela atividade prazerosa já não estava tão legal assim. Causava dor e angústia. Foi quando decidiram se separar como dupla musical. E, na minha opinião, esse foi o marco para a construção da Sandy e do Junior que vemos hoje. 

Eles viviam cantando e dançando para agradar aos outros, seja o público, seja a gravadora. Mas o que queriam? O que realmente sabiam fazer? Precisavam se autoconhecer.

A Sandy viveu um ano sabático e se encontrou como escritora, escrevendo poemas belíssimos que se transformaram em canções. Logo depois, começou a construir projetos intimistas que expressavam sua essência.

O Junior tinha sede de estudar música. Foi tocar no barzinho, na noite de Sampa, e colocar a mão na massa com grandes feras. Queria aprender coisas novas, saber improvisar e conquistar seu espaço por seu talento, e não pelo título que tinha.

Ele se desenvolveu tanto que sua participação na Nove Mil Anjos passou por um teste, que foi aprovada por músicos que traziam na bagagem bandas como Pitty e Charlie Brown Jr.

Quem vemos hoje? Uma cantora talentosa, afinada e parte da alta elite, estando ao lado de ícones da música brasileira, como Roberto Carlos e Lulu Santos. 

E ele retirou das costas o título de sombra e construiu seu próprio legado na música, o de Júnior Lima. Também mostrou uma performance incrível no palco, com solos perfeitos e um timbre que se encaixou perfeitamente na voz da Sandy. Era o que ele queria, lembra?

É perceptível o quanto esse tempo foi fundamental para eles se conhecerem, exercitarem talentos que estavam engessados e construírem sua própria identidade profissional.

Todos os nossos pensamentos criam a nossa realidade. Eles tiveram a sensibilidade de ouvir internamente qual o próximo passo que deveriam dar para ser quem eles queriam ser, e não quem os outros queriam que fossem. Sem aceitar comparações ou aprovações das pessoas.

Enquanto estivermos vivos aqui, nada acabou. Somos um ser em constante evolução e estamos construindo a realidade a nossa volta. Por isso, saia do barulho e ouça seu eu te dizendo qual o seu próximo passo. A resposta está aí dentro de você.

Se orgulhe da sua história

As críticas e especulações durante a carreira trouxeram tantas dores que eles nem cogitavam voltar ao palco como Sandy e Junior. 

No documentário, a Sandy comenta como se sentia com a mídia tentando colocá-la contra o irmão o tempo todo. Uma ideia de que, para brilhar, tinha que ofuscá-lo, e como ela diz: “meu irmão é meu outro coração”. 

Júnior sofreu muitas críticas. Foi taxado de gay porque dançava (lembrando que, nos anos 90, o preconceito era quase um ato livre e incontrolável), o diminuíram em relação ao timbre do pai e da irmã, e tantos outros rótulos que nem sabemos.

Claro, isso trouxe marcas para os dois.

Todos temos marcas, e somos nós que decidimos o que pensamos quando olhamos para elas. Você pode pensar que aquela marca foi um dia triste em que te abandonaram ou uma oportunidade para se libertar.

No documentário, Júnior chegou a comentar que sentia um medo enorme do show ao ter que reviver tudo de novo. Inclusive, pensamentos que já tinham sido desconstruídos.

Não sei qual foi o estopim para se permitirem viver essa experiência, mas agradeço em nome de todos nós, fãs ou não, pois vejo ali uma história de superação incrível. Duas pessoas que se respeitam acima de tudo, que souberam dar o próximo passo para se desenvolverem e revisitar essa história quando se sentiram prontos.

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Se você não está fazendo nada para aprender e se aperfeiçoar, saiba que não agir também é uma ação, a de não fazer nada. Ninguém “cai” num resultado sem querer. A situação que você tem hoje é fruto daquilo que você fez até agora, ainda que sem perceber.

Quando falamos que não sabemos de algo ou que não conseguimos realizar, de certa forma é uma maneira de delegar aos outros uma responsabilidade que é nossa. Nós somos os protagonistas da construção do nosso aprendizado e desenvolvimento.

Atire a primeira pedra quem nunca fez coisas no passado das quais se envergonha. Quando isso acontece, precisamos perceber o que isso nos proporcionou para ser quem somos hoje, e aceitar que aquelas atitudes condiziam com a pessoa que éramos naquela época e que fez total sentido para chegarmos até aqui.

Mas, que já não se aplica a pessoa que decidirmos ser agora. É um capítulo da nossa história. São memórias.

E você? Como quer que as pessoas lembrem do seu nome? Qual o próximo passo para alcançar isso? Conte para mim como este artigo fez sentido para você! 


Márcia Rodrigues Campos

Internal Control and Compliance | Data Science | Banco do Brasil

4 a

Belíssimo artigo, Nara Porto! O autoconhecimento é verdadeiramente libertador e aprendemos muito mais qdo focamos em coisas que nos são prazerosas.

José Leandro

Redator Freelancer | Produção de conteúdo | Marketing de Conteúdo | SEO | Copywriting

4 a

Ótima análise, Nara! Acho que eles foram o único caso nacional de filhos que conseguiram atingir mais sucesso que os pais. Antes de ver o documentário vi alguns vídeos que revisitaram a discografia deles e pude perceber os CDs de 2003 e 2006 já mostravam duas artista que poderiam muito bem seguir caminhos diferente na música. Aliás, o de 2006, o último deles de estúdio, é bastante confessional (vide o nome das faixas e o que é dito na música Replay). Foi uma trajetória linda e que merecia ser documentada!

Deize Andrade

Top Voice | Facilito o desenvolvimento da Marca Pessoal para Líderes com o Programa "Carreira Brilhante". Ganhe confiança e clareza para ser um líder admirado! | Mentoria | Palestras | Treinamentos | EaaS

4 a

Olá, Nara! Os pontos tocados são fundamentais para o nosso desenvolvimento e gostei de você levantar a questão de ter prazer na jornada. Muita gente pensa que para crescer e ter sucesso (seja o que signifique) é preciso sofrer e fazer muitos sacrifícios, no entanto, se não conseguirmos desfrutar o que estamos fazendo, a tendência é desistirmos. Um abraço!

Leandro Porto

Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Espírito Santo

4 a

Belas palavras. Você narrou bem a sensação de como é transformar o trabalho em algo prazeroso, divertido... parabéns.

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