Como ser feliz ou, no mínimo, menos triste
A menina saltitante de felicidade e esperança habita o coração de cada mulher, em qualquer idade. Imagem de Evgeniya Litovchenko

Como ser feliz ou, no mínimo, menos triste

Como ser feliz ou no mínimo menos triste? Há um livro com esse título, sem a interrogação.

Colocando a frase em forma de pergunta, acho que a resposta deve valer um milhão de dólares. Se eu fosse responder de pronto, o mais honesto seria dizer: não sei.

Mas podemos pensar juntas.

Pra começo de conversa, quem se coloca assim a questão, já está com meio caminho andado.

Afinal, na pergunta “como ser feliz ou menos triste”, já se percebe a presença de boa dose de positividade e ― sim! ― de um forte senso de realidade.


Lembra que a vida não é um conto de fadas?


Na década de 70, quando eu era ainda uma menina e vivia com minha mãe, meu pai e meus irmãos, a cultura da época entrava na nossa casa principalmente pela televisão.

Perdi a conta de quantas vezes chorei com o quadro “Boa Noite, Cinderela”, em que três crianças de “origem humilde” (como se diz nessa expressão ridícula) competiam para ver quem era “a mais pobre” e por isso mereceria a vitória.

Ao final, o programa terminava com a minguada criança vitoriosa vestida de princesa, de coroa e cetro, no topo de uma montanha de brinquedos e eletrodomésticos que levaria de presente.

Era muito triste.

Eu pensava nas outras duas, tão pobres também, que não levavam nada, e ninguém na tevê me dava a bênção de falar em prêmio de consolação.

Esse era o quadro final do Programa Sílvio Santos, na época. E ali, também, eu acompanhava os cantores daquela geração.

Os cantores bregas, acho.

Mas eu adorava: Marcio Greick, Agnaldo Rayol, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani etc.

Eram vários.

Daquele tempo, guardo claramente os versos de uma canção na voz Odair José. Hoje acho a melodia era sofrível, mas há verdade nas palavras:


“Felicidade / não existe. O que existe na vida / são momentos felizes.”


Muitas (e muitas) vezes na vida não é possível ser totalmente feliz.

Aliás, ser totalmente feliz não parece ser uma realidade da vida de humanos. Então, eu digo, sem medo de errar, que isso nunca é possível.

Temos uma ideia contaminada de felicidade, balizada pelas mensagens dos comerciais de margarina do século passado e pelas vidas fakes no Facebook ou no Instagram, atualmente.

São projeções de felicidade completamente irreais ― todo mundo sabe.

Mas a gente, simplesmente, se esquece.

Então, para não sofrer tanto, para ser menos triste ― e, portanto, mais feliz! ― é preciso se lembrar disso.

Anota aí: ninguém é tão alegre quanto alardeia! (Nem eu, ok?!)

Fato é que, quando a gente está feliz, o sentimento é tão reconfortante, que extravasar parece simplesmente a coisa mais legítima a fazer.


Fato é que, quando a gente está feliz, o sentimento é tão reconfortante, que extravasar parece simplesmente a coisa mais legítima a fazer.


E é realmente muito bom!

E é realmente benéfica, essa expansão.

Uma coisa é certa: é necessário desenvolver sabedoria, além de adquirir informação e conhecimento.

Porque assim como precisamos hoje aprender a “navegar na internet”, “colocar o negócio no digital”, “ter aprendizado contínuo” — e todas as demandas contemporâneas, cada vez mais se torna vital desenvolver sabedoria para participar da vida online sem se deixar deprimir.

Então, como ser feliz?

Ou: como ser menos triste?

Para quem está sofrendo de solidão, por exemplo, ser feliz pode ser - sim! - ficar menos triste.


Para quem está sofrendo de solidão, por exemplo, ser feliz pode ser - sim! - ficar menos triste.


Uma companhia, um afago, um telefonema de afeto, um doce, um presente simples, uma lembrança, um abraço sincero, um olhar atencioso, a verdadeira escuta, uma planta que brota, um mergulho no mar ou no rio.

Tudo isso é capaz de fazer a alma sorrir.

Eu tenho na cabeça a ideia de que todos, nesse mundo, enfrentamos problemas.

Todos. Sem exceção.

Todos os dias.

Mas a falta de sabedoria suficiente nos faz, não apenas ignorar os problemas dos outros, mas também sofrer por “esquecermos de lembrar” que todas as outras pessoas passam por dificuldades e desafios cotidianos.

Saber disso traz enorme alívio.

Porque nos damos conta de que não estamos sozinhos.

Essa é a grande chave que a espiritualidade gira, para nos religar e nos reconectar ao imponderável.


Nós nos damos conta de que não estamos sozinhos.


É comum a gente ouvir que “a vida não é um mar de rosas”. Isso me faz pensar que talvez essa ideia possa ser lida de outra forma.

Talvez, sim, a vida possa ser vista exatamente como um mar de rosas: tem a beleza, a suavidade e o perfume das pétalas e o difícil caminho para segurar a haste sem tocar nos espinhos, o que nem sempre é possível.

A dor é inevitável. Mas dá para ficar menos triste? Esse é o perfume da existência humana.


A dor é inevitável. Mas dá para ficar menos triste? Esse é o perfume da existência humana.


“O que existe na vida / são momentos felizes.” Agora, eu pergunto a você: isso já não é bom?

Então, que tal se sentir feliz hoje?!

*

Voltarei ao assunto.

M.a.r.c.i.a!


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