Como uma formação interdisciplinar salvou minha carreira.
1) Dúvida, frustração, faculdade
Sabe quando as pessoas te perguntam quando você é pequeno o que você quer ser quando crescer?
Pois é. Eu nunca sabia o que responder.
A primeira resposta que eu lembro de dar foi "roteirista de quadrinhos". Fazia sentido, o que eu mais consumia na época eram os quadrinhos da Turma da Mônica, que me ajudaram na alfabetização precoce que tive, influenciado pela minha mãe, Professora de escola pública.
Quando fui para o Ensino Médio, desesperado para não continuar na Escola Estadual que eu frequentava, prestei vestibulinho para as Escolas Técnicas daqui. Passei em uma escola que oferecia Informática, Mecatrônica e Gestão Empresarial como formações técnicas, além do Ensino Médio.
Encorajado pela família - que sempre recorria a mim quando o problema era instalar video cassettes (entreguei a idade hahaha), DVDs e videogames ou sintonizar a TV - prestei Mecatrônica. Nos primeiros seis meses já sabia que não queria trabalhar com aquilo, mas foi minha primeira experiência com interdisciplinaridade: aprendi (ou deveria ter aprendido kkkk) Elétrica, Eletrônica, Mecânica, Programação.
O que se seguiu foi um período de muitas dúvidas: se isso não é pra mim, o que é? Não vou divagar muito aqui sobre o processo de escolha, mas no final ao invés de considerar "o que eu gosto de fazer" e "no que eu sou bom", escolhi "o que eu gostaria de saber".
Relações Internacionais: estudar sobre Política, História, Economia e Direito. E ainda poderia usar meu conhecimento de Inglês (adquirido através de uma bolsa de estudo em uma escola pequena na Freguesia do Ó). Perfeito.
Ter tido uma formação dessa abriu minha mente de um jeito que eu jamais sonhara: percebi que sempre que quisesse entender uma situação, precisava considerar todas as forças e interesses que estavam por trás. Meu senso crítico evoluiu demais, mas nunca soube verbalizar nada disso nas entrevistas para trabalhos em escritório: eu estava perdido profissionalmente. Precisava de dinheiro, não poderia só estudar. Foi quando decidi entrar na Educação: a carga horária pequena compensava o pouco dinheiro na escola de Inglês de bairro onde comecei, o que permitiu que eu me formasse.
2) Ciência, paixão, mestrado
Durante a faculdade, prometi a mim mesmo que me especializaria em uma das grandes áreas que compunham as Relações Internacionais. A escolha óbvia foi História, uma antiga paixão que a escola conseguiu estragar pra mim (tive um grande Professor de História no quinto e sexto ano, daí pra frente infelizmente não me conectei com mais nenhum).
Durante uma frustrada passagem no Bacharelado em História na USP, percebi que não tinha condições (financeiras e mentais) de fazer mais uma faculdade. Mas foi lá que descobri algo que terminaria de me motivar a entrar para a Academia: os estudos sobre futebol e esporte.
Na primeira tentativa, fui aceito no programa de História, Política e Bens Culturais na FGV. Passei seis meses no Rio fazendo as matérias, que refletiam mais do que nunca essa minha paixão por conhecer diversas áreas do conhecimento e como elas se conectam: fiz matérias de Cinema, Esporte e Sociedade, Teoria Social e História e Antropologia. Terminei e escrevi minha dissertação, a defendi. Consegui passar pelo maior desafio da minha vida até então.
O que se seguiu foi uma grande crise: fazer uma licenciatura para poder dar aula em escolas regulares? Buscar contatos para dar aula em faculdade? Investir no ensino de Inglês de vez?
Escolhi a terceira, e foi aí que tudo começou a fazer sentido.
3) Carreira, dificuldade e empreender
Pela primeira vez passei a ver ensinar Inglês como um exercício intelectual: até então seguia os materiais, adaptava quando não faziam sentido, tinha uma conexão humana importante com meus alunos, mas algo faltava.
Tive duas grandes formações em duas escolas diferentes e passei a me apaixonar por me desenvolver e aprender mais sobre como aprendemos, qual a contribuição de um ambiente positivo para isso, como a neurociência poderia ajudar, etc
A alta exigência me fez finalmente entender todo o negócio: como é a jornada da pessoa que entra, se interessa, assiste as aulas e se mantém estudando? Como colaborar com isso? Como lidar com as expectativas dos alunos?
Mas a centralização e o aparente autoritarismo de algumas decisões sempre me deixou com uma pulga atrás da orelha: será que isso que está sendo proposto é o melhor para a pessoa que confiou na empresa e em mim, nesse lugar, com esse contexto e essa história de vida? Será que a carga horária ofertada quase que unilateralmente era a melhor para que eu pudesse continuar a me desenvolver e encantar os alunos sem deixar a saúde física e mental de lado?
Foi quando a pandemia fez com que essa resposta emergisse mais clara do que nunca: não. Saí, me despedi e decidi que começaria o meu negócio.
Nesses meses desde que embarquei nessa jornada já fiz de tudo: resolvi problema de TI, estudei gestão financeira, marketing digital, aprendi a editar vídeos, aprofundei meus conhecimentos em tecnologias educacionais. O que não foi fácil, mas é bem mais tranquilo considerando que lidar com diversas áreas do conhecimento ao mesmo tempo e integrá-las não é novidade para mim.
E como todo profissional do século XXI, sei que não vai parar por aí. Sei que talvez tenha que estudar em breve algo que nem exista hoje. E vou abraçá-lo como abracei todas as áreas do conhecimento que me fazem o profissional e a pessoa que eu sou hoje.
São tempos difíceis, mas incríveis. E você, está preparado?
Analista de BI · Desenvolvedora BI · Analista de Dados
3 aVida longa aos interdisciplinares ❤️❤️❤️❤️