Como uma onda no mar...
O autoconhecimento é como entrar no mar a partir da praia. A gente molha os pés e vai ao encontro das ondas. Sentimos a água fria do mar e às vezes arrepia a pele. Para alguns, chegar até a cintura está ótimo. Para outros ir mais a fundo chegando até o pescoço é uma excelente experiência. Outros desejam ingressar nas profundezas do mar e se deliciam com as descobertas da natureza. Existem aqueles que entram no mar aberto, mergulham com coragem. O que isso me ensina? Que para ingressar no mar eu preciso saber dos meus limites, tendo consciência de até onde posso ir, avaliando as fronteiras da minha expertise como nadadora e ao final aceitar que não posso ir tão longe se não tenho fôlego (ainda) para além das ondas mais altas.
Assim, ao se deparar com mar precisa haver o reconhecimento de suas qualidades, medos, limitações, talentos, crenças, entendendo que a decisão de ingressar nele passo a passo gera a possibilidade de se sentir mais ou menos feliz, com medo ou coragem de superar seus próprios desafios com menos ou mais estresse. Afinal, quando você sabe quem é e qual propósito de vida possui, o mundo fica menos ou mais difícil e o mar menos ou mais aprazível.
Ser autoconsciente te permite compreender as próprias emoções e como elas repercutem na sua performance pessoal e profissional. Na medida que ingressa no mar, sentindo a água abraçar seu corpo, tendo a consciência desse momento, pode te dar a autoconfiança de saber o limite dessa caminhada rumo às águas profundas do seu ser.
Autoavaliar-se é fundamental. Saber até que ponto poderá caminhar entendendo seus limites, refletindo sobre seus pensamentos, sentimentos, ações, habilidades para reconhecer se a sua expertise como nadador pode te deixar sobreviver ou não às grandes ondas que as águas revoltas produzem.
A experiência com o mar é tão singular quanto a singularidade de todos e cada um de nós. Conhecer-se, ter consciência de si, autoavaliar-se e mesmo assim valorizar quem você é: único e singular é uma proposta que poucos aceitam. Não existe ninguém no mundo igual ou parecido a você. Alguns gostam mais ou menos do mar da mesma forma como se permitem ou não desenvolver-se como pessoa e como profissional.
Autodesenvolvimento é uma tarefa gigantesca. Entendo que é preciso ter atitude. Nem sempre estamos abertos a isso. Afinal de contas existem coisas mais importantes para fazer do que ficar pensando: - Quem sou? Alguns pensam exatamente assim. Essa pergunta, aparentemente ingênua, poderá te conduzir a dizer o que você faz, mas não quem é de fato. Esse é um caminho às vezes muito difícil, mas também simples, desde que você assuma o compromisso consigo de querer conhecer as suas singularidades e acolhê-las.
Nestes tempos, estamos passando por um momento de expectativas, medos, inseguranças sobre um futuro que sempre foi incerto. Quem algum dia previu o futuro? As mudanças e incertezas do mundo sempre existiram. A única certeza da vida é a mudança. A incerteza do próximo segundo que não sabemos o que ocorrerá. Você está lendo este texto, daqui a pouco algo completamente inesperado pode ocorrer, inclusive nada. Você nunca saberá e nem eu. Assim como o mar em uma de suas luas arrebenta e destrói a praia sem medo e sem culpa. Simplesmente acontece. Para que algo mais incerto que a meteorologia?
O que há hoje? Muitas incertezas e previsões sobre o futuro. Ouço, leio e vejo muitas informações que tratam de um novo normal. Mas que novo normal é esse? Do mesmo modo, há o discurso de que todos precisarão de psicólogos para enfrentar os desafios desse novo mundo que se descortina por esta pandemia por Covid-19. Mas me veio uma grande dúvida: será que todas estas questões não tem a ver com o estágio de desenvolvimento pessoal de cada ser humano nessa experiência desafiadora deste tempo? Como as pessoas estão entrando no mar?
Não sei responder a esta pergunta. Porém algo me chama atenção. Algumas pessoas estão conseguindo passar por esta fase com a mais absoluta tranquilidade. Entram no mar absolutamente imersos na experiência e curtindo as águas incertas roçando o seu corpo. Não se escuta qualquer tipo de queixa sobre esse ou aquele aspecto. E outros, ao ver o mar, reclamam da areia, do vento, da água fria, reclamam absurdamente de tudo e até parece que a própria companhia é um grande fardo. Para mim, isso é intrigante!
Advogado | Professor | Mestre em Direito Constitucional | Jurista | Escritor
4 aLindo texto!!!