A compaixão e a reconstrução dos vínculos sociais
Você já se sentiu desconectado socialmente?
Sabemos que a maioria das dores emocionais do nosso tempo, tem a ver com isso, com a ilusão de separação.
A solidão disseminada na atualidade e a ênfase da nossa cultura contemporânea na autonomia e no estilo de vida individualista enfraquecem as conexões sociais e, com o declínio das interações ao vivo, que foi abruptamente potencializado com a pandemia, temos grandes chances de nos tornar a geração mais jovem a experimentar a solidão de maneira aguda.
Apesar das teorias evolucionistas dizerem que somos competitivos e egoístas, descobertas recentes das neurociências afirmam justamente o contrário. A nossa essência é de cooperação.
O nosso cérebro é social e nascemos para criar vínculos. Isso é um fato. Tentar mudar essa regra é prever sofrimento.
Se quisermos levar uma vida saudável e feliz, é preciso remediar o nosso corpo social. Paul Ekman, o maior estudioso das emoções da atualidade diz que o maior desafio do momento é alcançarmos a compaixão global.
O conceito que conhecemos de empatia é nos colocarmos no lugar do outro, sentir a dor do outro. Mas a compaixão vai além. Ela nos coloca em ação e nos move no sentido de fazer com que o sofrimento do outro tenha fim. Uma de suas traduções tem a ver com a palavra útero e encontra sentido no amor materno.
Mas, a compaixão pode ser cultivada? Como podemos reconstruir as nossas relações sociais com o seu treinamento?
Parte importante nessa reconstrução é acolher com seriedade a parte compassiva da nossa natureza individual e social e colocá-la a serviço de nós mesmos e dos outros.
O protocolo do cultivo da compaixão é tão simples que parece não ter efeito. Basta que tragamos à nossa consciência, de maneira clara e objetiva, numa escala que começa com as pessoas que amamos, passando pelas pessoas neutras e chegando até aquelas com as quais temos dificuldades de relacionamento e a partir daí, desejar, com intenção, que elas sejam felizes, que vivam em paz, que vivam em segurança, e principalmente, que vivam livres do sofrimento e suas causas.
No início, pode parecer falso, e é normal nos sentirmos até impostores. Então, acolhemos esses pensamentos e seguimos, sem nos julgar por isso.
O mais incrível disso tudo é que o presente, neste caso, não é para quem recebe, mas é para quem doa. Quando nos sentimos conectados com o outro, nosso sistema de recompensa é ativado, como quando comemos um chocolate ou algo que gostamos muito. Algo profundo em nós confirma que estamos em pleno funcionamento e nos prepara a viver plenamente.
E assim, quanto mais entregamos compaixão, mais nos sentimos prontos para a vida social, e aqueles entraves à nossa felicidade, como o medo do julgamento, simplesmente perdem o poder sobre nós.
As mudanças são percebidas intimamente, melhorando a nossa comunicação, mentalidade, pensamentos e sentimentos, e por todos com os quais convivemos, que relatam amizades mais fortes, cumplicidade e apoio.
E essa prática já faz parte das estratégias de promoção de saúde mental, bem-estar e felicidade de grandes organizações, trazendo benefícios sólidos na confiança, na cooperação, no fortalecimento das equipes e no alinhamento da cultura aos propósitos pessoais e organizacionais.
A compaixão é da nossa natureza!
Baseado no livro "Um coração sem medo", de Thupten Jinpa