Competências são substituíveis. Caráter, nem sempre.
Já virou clichê se falar que ninguém é insubstituível. Porém, é importante perceber que essa frase costuma traduzir uma generalização arriscada, podendo fazer com que muitos gestores tomem decisões precipitadas na hora de contratar ou demitir pessoas para as suas equipes. E como lidar com esse risco de forma mais acertada e responsável?
Vale lembrarmos que o que determina o desempenho e a constância dos resultados de um profissional não são apenas as suas competências técnicas, gerenciais e humanas mas, também, o seu caráter, que tem a ver com honestidade, confiança, respeito, humildade e os seus respectivos antônimos. As competências podem ser desenvolvidas e aperfeiçoadas. Perfeitamente possível através de um bom processo de recrutamento, boas orientações e acompanhamento. Entretanto, quando nos referimos ao caráter, não é tão simples assim.
A educadora americana Helen Adams Keller afirmou, certa vez, que “o caráter não pode ser desenvolvido na facilidade e na tranquilidade. Somente através da experiência de provações e sofrimento pode a alma ser reforçada, a ambição inspirada e o sucesso conseguido.”
A sua afirmação é muito coerente com o que vem acontecendo neste mundo moderno, sujeito a contínuas e rápidas mudanças, que exige cada vez mais produtividade das pessoas. Pressionadas pela necessidade de acompanhar essas mudanças, elas acabam sendo movidas pelo medo. O medo de perder o negócio, o emprego, a disputa, de ficar pra trás, numa incessante busca pelo equilíbrio. E essa pressão, que muitas vezes afeta pessoas emocionalmente despreparadas, faz com que o caráter seja colocado à prova.
Isso pode motivar um questionamento cada vez mais importante nos dias de hoje: o que você faria se tivesse que escolher apenas uma opção: caráter ou competência? Se você tivesse dois candidatos para escolher quem vai ocupar a vaga de chefe de setor na sua empresa. Um deles é extremamente habilidoso, decidido e possui uma capacidade de comunicação invejável. Porém, transmite certa fraqueza moral, sendo daqueles que passam por cima de tudo e de todos para conquistarem o que desejam. Não mede esforços para chegar ao seu objetivo. O outro é exatamente o contrário. Uma pessoa altamente confiável, que respeita as pessoas e demonstra ser agregador de equipes, mas, tecnicamente, para a função de liderança, é mais fraco. Qual você contrataria? “Caráter sem habilidades suficientes” ou “boas habilidades e caráter inapropriado”?
Situações como esta são cada vez mais comuns nas empresas. Muito presentes, inclusive, no comportamento das novas gerações de trabalhadores (Y), jovens dotados de maior flexibilidade na expressão do caráter, quando não encontram no ambiente de trabalho as condições básicas adequadas, que garantam segurança, qualidade de vida, respeito e reconhecimento.
Portanto, antes de decidir pela demissão de alguém de sua equipe, vale a precaução na crença e na prática da frase “ninguém é insubstituível”. Esteja ciente sobre qual aspecto você se refere. Às competências (técnicas, gerenciais e/ou humanas) ou ao caráter. E, antes disso, certifique-se de que você fez o seu papel de deixar claros os objetivos e também o que você e a empresa valorizam, além de proporcionar uma adequada orientação e acompanhamento. Se esses critérios não forem bem avaliados, trocar de pessoa pode não ser a solução mais inteligente. Rotatividade, se frequente, pode gerar perda de tempo, dinheiro, paciência e produtividade.
Agora, se o problema for de caráter, reflita porque ele ainda está na sua equipe e tome uma decisão baseada no respeito a si mesmo, aos demais do grupo e ao propósito da empresa. Mas, cuidado pra não confundir caráter com falta de competência humana ou atitudes pessoais específicas. E sobre isso conversaremos no próximo artigo.
Uma excelente semana!
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Leandro Trindade: Treinador Comportamental, coach, licenciado para o ensino de adultos (andragogia), especialista em Gestão Estratégica de Pessoas e Psicologia do Trabalho, Motivação e Liderança. Membro e Trainner da Escola de Ciências Comportamentais - Cetrede/UFC.
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7 aUm ponto de vista muito interessante e que devemos levar sempre em consideração na tomada de decisões.