A complexidade das interações do Conselho Consultivo no ambiente das organizações
Este artigo #3 para Board Academy Br pretende analisar e comentar as dificuldades e limitações que os Conselhos Consultivos podem encontrar nas interações que precisam sustentar com o ambiente interno das organizações.
A complexidade das interações do Conselho Consultivo no ambiente das organizações
A variedade e o grau de especialização de assuntos em que se desdobram as operações das empresas em nossos dias, bem como a pluralidade de competências e experiências que se encontram reunidas em um Conselho, pela história pessoal de seus membros, são fatores que aumentam a complexidade do papel dos Conselheiros Consultivos.
1. Quem é o Conselheiro Consultivo?
O Conselheiro é um profissional que atua à serviço da empresa que o contrata, legitimando-se como intérprete das suas causas e assumindo um protagonismo de serviço em favor de seus propósitos. Ele devota-se às causas da empresa, que aceita como estabelecidas na Missão, nos Valores, no Código de Conduta e no Regimento Interno e compromete-se, com consciência e autonomia, a proteger a sua Governança.
2. Qual é o papel de um Conselho Consultivo
Basicamente o papel de um Conselho Consultivo se divide em:
. Recomendar, quando demandado
. Propor, quando mobilizado por consciência
Recomendar quando demandado
As demandas por recomendação podem variar num amplo espectro de temas, que vão desde assuntos que pensem a evolução da organização, projetos para a sua profissionalização, estudos de expansão e de internacionalização. Passam também pela difícil questão da sucessão.
Ainda nesta pauta, podem-se incluir assuntos como inovação, reestruturação (turn around) ou melhorias de competitividade.
Com foco nas práticas diárias e ações positivas, o Conselho também pode ser demandado para recomendar ou orientar questões como compliance, projetos comunitários, diversidade e ESG.
É tão importante e transformador atender com recomendações às demandas da direção, que o Conselho Consultivo, em empresas fechadas, cumprindo este papel, poderá estar dando o primeiro passo para fomentar a adoção de melhores práticas de Governança Corporativa.
Atuando de forma colegiada, o Conselho poderá recomendar e incentivar a criação de comitês, que atuarão na forma de projetos, com a participação de gestores da empresa para a condução desses assuntos, onde um ou mais conselheiros terão assento.
Propor quando mobilizado por consciência
A mobilização autônoma do Conselho Consultivo também cumpre uma importante contribuição para a governança da organização. O conselheiro poderá se mobilizar, a partir de oportunidades que reconheça como aderentes à cultura e a estratégia da empresa, tais como a identificação de novos patamares tecnológicos, novas práticas ou tecnologias de gestão e novas práticas de interação social vinculadas à gestão de pessoas.
A interpretação de “sinais de futuro” e a identificação de não conformidades ou de ameaças à governança, que necessitem ser aprofundadas, também são situações que poderão mobilizar os conselheiros por meio de proposições lastreadas em argumentos.
Proposições típicas de um Conselho Consultivo
- No âmbito de atuação dos proprietários
. Análises do Mercado
. Análises do Ambiente Interno
. Modelos de Negócio
. Estabelecimento e desdobramento de metas
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. Decisões estratégicas
. Busca de alternativas para o negócio
. Aconselhamentos
- No âmbito de atuação dos gestores
. Melhorias de comunicação
. Boas práticas de gestão
. Ajustes pontuais na estrutura e nas operações para a melhoria de produtividade
. Melhorias pontuais de atendimento
3. Como a complexidade aparece nas interações humanas
A quantidade de interações sociais que temos que sustentar nas organizações para atender às demandas de inovação, seja na gestão ou nas questões técnicas e operacionais, cresceu constantemente nas últimas duas décadas. A evolução convoca com maior intensidade as interações humanas para se expandir e se irradiar. Estas interações se chamam interfaces, (termo herdado da teoria de sistemas) porque nos colocam “face a face” com outras pessoas, a quem atendemos ou que nos atendem, com quem cooperamos e cocriamos, demandando alinhamento e progressão.
Embora a quantidade média de pessoas envolvidas no trabalho das empresas, tenha se reduzido, graças à digitalização e aos avanços nos arranjos organizacionais, (estruturas “downgraded” e enxutas), a quantidade de atores com papéis diferenciados aumenta constantemente, por especialização.
Os conselheiros que atendem empresas com gestão profissionalizada têm que se conectar em um único ambiente com “mundos tecnológicos” variados. Sendo pequenas e ainda não profissionalizadas, muito provavelmente terão que ajudá-las a escalar a profissionalização e os patamares tecnológicos que lhes faltam. Só para ilustrar, nas funções de marketing e vendas, por exemplo, lidamos hoje com ferramentas que nos permitem acompanhar a jornada do cliente, gerenciar recorrências, conhecer o índice de substituição da carteira e podemos optar pelo marketing preditivo e contextual como ferramentas de antecipação e aproximação com os consumidores. Na produção, operamos com visão logística (supply chain), lean manufacturing, e ao longo de todo o caminho vamos buscar os benefícios do Six Sigma para estabilizar os processos. As empresas enxergam com mais clareza seus stakeholders e não apenas seus acionistas e direcionam para eles entregas que precisam ser equacionadas nas relações de custos e benefícios. Os projetos de M&A identificam oportunidades e conduzem operações visando ao crescimento do negócio, redução de riscos, projeção de marca e aumento de eficiência, entre outros benefícios. Em termos de práticas nas interações sociais, buscamos, através da governança, a ética, o propósito, a diversidade, a inclusão e a equidade.
São “faces” novas e muito bem estruturadas que hoje dispomos para enxergar a realidade dos negócios, muito além do que já enxergamos no passado, com mais sustentabilidade, em benefício da sociedade. Para cada nova face, múltiplas interfaces se desdobram e tem que ser atendidas.
4. Atitude - O remédio para reduzir a complexidade das interfaces
Interfaces são fronteiras onde reside a complexidade. Ninguém tem problemas no “miolo” de seus espaços de atuação. É na fronteira de “nosso” espaço com o espaço de atuação do “outro” que surge a complexidade.
É lógico e legítimo que esperemos que essas interfaces produzam avanços na marcha que estamos conduzindo, seja para atender às demandas de recomendações que nos foram endereçadas, seja para aprofundar estudos que resultem em proposições benéficas para a empresa onde atuamos. Mas sabemos que, na maioria das vezes, existem diferenças tão grandes de conhecimento a respeito de determinado assunto, entre os atores envolvidos em uma interface, que não permitiria que eles trocassem de lugar, nem que fosse por um breve espaço de tempo. No entanto, o sucesso das interações depende menos dos conhecimentos específicos dos atores e muito mais das suas atitudes para fazer avançar seus propósitos.
O mundo corporativo sabe há muito tempo que reduzir a quantidade de interfaces de uma dada atividade, reduz a complexidade de executá-la e geri-la. Mas quando isto não é possível (as interfaces só aumentam), é necessário focar nas atitudes dos atores nela envolvidos para reduzir ruídos, equívocos de interpretações e evitar a baixa tolerância de alguma parte em relação à outra aumentando a taxa de sucesso da interface.
Atitudes com potencial de reduzir a complexidade das interações
5. Conclusão
Olhar para fora e para frente é um preceito importante que pensa o futuro e compromete os conselheiros com a evolução permanente das empresas em que atuam. “Nose in, hands out” complementa a orientação, e os faz manterem-se interessados também com o que se passa no dia a dia da empresa com potencial de afetar a governança, porém com as mãos fora da execução.
Estes dois singelos preceitos, orientadores de atuação, cria para os conselheiros um papel que vai além da análise de documentos informativos. Uma parte importante do seu trabalho se desdobra na produção de contatos com interlocutores internos (interfaces), que responderão suas perguntas, questionamentos, lhes trarão queixas e precisarão ouvir (e principalmente compreender) suas recomendações e proposições.
É um exercício importante de interações humanas, talvez o canal de trabalho essencial para garantir a um conselheiro o papel de guardião e impulsionador da governança.
CFO, CEO, Board Consulting, Empresário experiente no planejamento, desenvolvimento e organização de negócios.
5 mO texto é uma análise bem fundamentada e profunda sobre as funções e desafios enfrentados pelos Conselheiros Consultivos, parabéns
Diretora | Marketing | Digital | Comercial | Estratégia | Crescimento | Inovação | B2C | B2B
5 mA complexidade das interações no Conselho Consultivo destaca a importância de atitudes alinhadas e propósito claro. Essencial para navegar as interfaces e contribuir efetivamente para a governança Ayrton Rochedo Ferreira