Comunicação Empática: um diferencial em 2024
2024 nem acabou e, é quase impensável negarmos que a tecnologia tenha trazido tantos impactos positivos em nosso desenvolvimento de habilidades técnicas profissionais. O benefício deste momento, é que na teoria, teremos uma janela maior de tempo para pensar e modular os ambientes de relacionamentos e as soft skills em um mundo do trabalho cada vez mais competitivo.
Com base nesse overview, podemos nos propôr a olhar para alguns dos muitos aspectos das nossas habilidades comportamentais e, enquanto líderes, aplicar uma visão mais humanizada, intencional e não-violenta. Já que, passamos mais de um terço de nossa vida, envoltos por trabalho, projetos, estudos e temos no labor, um pilar da sociedade e uma forma de identidade do indivíduo no mundo.
Como o cenário é cada vez mais tecnológico, a necessidade de aprimorar nossos relacionamentos se mostra visível. Isso pode se constatar não somente em função da necessidade de engajar pessoas e trabalhar colaborativamente, mas também pela nossa responsabilidade e pelo zelo com a saúde mental do outro. Esteja ele(a) em que posição estiver na vida.
Se observarmos a fundo, pessoas que possuem a habilidade de se comunicar de forma empática e não-violenta geralmente apresentam alguns hábitos em suas interações. Esse tipo de comunicação verbal, embora ainda aparentemente pouco estimulada nos meios corporativos, podem ser ferramentas importantes para Gestão de Conflitos e mitigar os impactos que mudanças culturais implicam.
Marshall Rosemberg, o criador da Comunicação Não-Violenta (CNV), diz em seu livro Comunicação Não Violenta - técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. - Editora Àgora, que a prática da CNV:
"promove maior profundidade no escutar, fomenta o respeito e a empatia e provoca o desejo mútuo de nos entregarmos de coração.”
Para além dos livros, talvez esse seja um convite para evidenciar alguns comportamentos observáveis que nos indicam uma atitude empática dentro do ambiente de trabalho. Muitas vezes essas habilidades se apresentam de formas sutis, em um nível de compreensão ainda superficial, dependendo da maturidade da equipe. O certo é que quando temos na equipe, pessoas com essas atitudes empáticas, temos um amplo campo de trabalho em gestão de pessoas. Esses comportamentos podem ser observados nas pessoas, por meio de muitas posturas e atitudes. Listei algumas aqui:
1 - Disposição para o diálogo: a principal característica é a forma natural como se dispõem para o diálogo e não só para um rápido contato consultivo. Essa pessoa encontra tempo para estabelecer conexão com o interlocutor e para compreender o que está sendo expresso. O benefício está em relações baseadas em conexão e sem os "achismos".
2 - Sem conselhos fora de hora: geralmente têm uma sensibilidade maior para se abrir, conseguem estar prontas para ouvir sem deixar que o juízo de valor interfira no diálogo. Essa pessoa entende que há momentos em que não é para ela se expressar, mas sim dar espaço para que o outro se expresse.
3 - Escutatória: empáticos possuem uma boa escuta ativa. Mesmo em um dia corrido ou com outras prioridades, eles conseguem encontrar e criar situações para ouvir com atenção e tentar compreender o que o outro está tentando comunicar. Essa é uma característica fundamental em cenários com relações mais superficiais e de pouco contato diário.
4 - Identificam sentimentos: durante uma conversa os empáticos conseguem aguçar a sua percepção sobre quais sentimentos estão fazendo parte da comunicação. Com isso é possível ponderar e fazer as perguntas certas para compreender quais são os sentimentos que deram origem a aquilo que está sendo comunicado.
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"Toda violência é a expressão trágica de uma necessidade não atendida." Essa é outra frase clássica de Marshall Rosemberg, que nos faz olhar para nossos privilégios, para a nossa biografia e, principalmente para compreender uma sociedade que a cada vez mais se expressa de forma violenta.
6 – Senso de espaço: a empatia pode ser vista como a criação de um espaço de acolhimento, como se fosse uma redoma. Os empáticos conseguem entender os limites dados pelo interlocutor durante a conversa. Quando outrora toca em temas que talvez ambos ainda não estão preparados para lidar, a empatia ajuda a considerar o contexto e respeitar diferentes pontos de vista.
"Podemos conversar sobre isso em outro momento?"
A frase acima não vem de nenhum livro, mas sim de uma colega. Essa frase tem me ensinado muito sobre as minhas reações a situações que pessoalmente desafiam meus valores. Não é uma fuga, mas sim pensar e preparar para o cuidado com que esse diálogo merece e pode ser desenvolvido.
No livro A Teoria U - Como Liderar pela Percepção e Realização do Futuro, de Otto Scharmer encontrei algo parecido com a prática de minha colega. Na obra, Scharmer cita os passos em que percorremos neste “U” (um modelo de transformação organizacional). Em particular conectei a fala de minha colega com o "fundo do U". Nesta fase da teoria, as pessoas são incentivadas a se desconectar de suas suposições e preconceitos, permitindo uma observação profunda da realidade. Scharmer afirma:
"Observe, observe, observe. Pare de baixar informações e mergulhe totalmente nos lugares de maior potencial"
5 – Olho no olho: o gestual amigável pode compor uma boa expressão corporal. Lembremo-nos que a maior parte de nossa comunicação é não verbal.
6 – Não têm medo de ser autêntico e mostrar suas vulnerabilidades: não têm medo de se expressar de forma genuína, ponderando a agressividade e evitando o juízo de valor. Elas se posicionam. Elas falam de seus próprios sentimentos abertamente e sem temer julgamentos, e estão abertas a melhorar aspectos de seu comportamento e rever seus paradigmas.
7 – A primeira impressão não é a que fica: geralmente tendem a julgar menos as pessoas pelo primeiro contato ou aparências. Mesmo que a primeira impressão tenha sido negativa, ela se abre a oportunidade de conhecer o contexto.
Essa é uma pequena lista que enumerei com base na minha biografia, com base em práticas de feedback e é claro, usando o meu perfil observador em todas as relações, não se limitando à minha vida profissional. É claro que existem centenas de outros comportamentos e atitudes, que corroboram para uma presença profissional humanizada e compatível com o tempo em que vivemos. A comunicação empática não é um dom sobrenatural e inalcançável, mas uma habilidade e um conjunto de práticas que necessitam de tempo, aplicação e principalmente: estar abertos(as) às suas próprias vulnerabilidades. Como afirma a autora Brené Brown, no livro A Coragem de Ser Imperfeito:
“A jornada da vulnerabilidade não foi feita para se percorrer sozinho. Nós precisamos de apoio."