Conecte-se ao mundo. Mas não se desplugue da vida.
O mundo está mudando tão rápido que se você acha que está informado é porque você está profundamente desinformado.

Conecte-se ao mundo. Mas não se desplugue da vida.

“As pessoas testemunharão nos próximos 50 anos mais coisas do que Matusalém viu em quase 1000 anos de vida”.

 

Quem disse isso foi o escritor americano Mark Twain. Bastante apropriado, não? Só que ele fez essa citação ainda no século XIX.

Considerando o ritmo das mudanças e invenções que temos testemunhado nos últimos 20 anos a citação parece mais contemporânea (e ainda assim conservadora) do que nunca.

É provável que testemunhemos nos próximos 50 anos mais transformações do que houve em todo o restante da história da civilização, ainda que essa afirmação mereça um debate mais aprofundado.

Não dá para afirmar que as invenções recentes são maiores que as antecedentes, pois elas são de naturezas distintas. Como categorizar descobertas antigas mas que mudaram o curso da história, como a invenção da linguagem ou o domínio do fogo?

Seja como for, vivemos a era da informação, da comunicação e do digital, e isso só vai aumentar. Cada inovação na área amplifica a próxima, numa progressão geométrica inalcançável.

Li o estudo de um maluco (e a internet está repleta deles) que teve a ousadia de calcular quanto tempo um ser humano levaria para consumir todo o conteúdo disponível na internet, todos os blogs, sites, notícias e vídeos. Ele calculou que a tarefa poderia ser completada em 226.000 anos. Ou seja, teríamos que viver 3.000 vidas dedicadas apenas a digerir informação e ainda assim jamais conseguiríamos concluir a empreitada, porque no primeiro ano já estaríamos defasados da informação produzida naquele mesmo ano.

A montanha de informação não para de crescer e jamais teremos fôlego para escalar esse Everest digital.

É um mundo 3.0, mas ainda estamos equipados com o software caverna 1.0. Não fomos preparados digerir esse banquete informacional. É overdose certa.

Dizem os evolucionistas que temos uma inclinação natural para consumir informação, porque desde tempos imemoriais a informação era um diferencial que nos ajudava a sobreviver. Em outra dimensão, continua assim. Por que você acha que a mídia é uma indústria poderosa e os telejornais possuem tanta audiência?

Só que agora a informação ficou mais acessível e mais barata e tem muita gente morrendo afogada nesse oceano. A gente acha que navega na internet, mas na realidade a gente naufraga.

Já existe até uma patologia digital catalogada: FOMO (fear of missing out), que é a fobia de não conseguir estar atualizado sobre tudo que está acontecendo no mundo. Uma verdadeira loucura, porque jamais estaremos atualizados de tudo.

O medo de estar desatualizado é a ansiedade dos tempos modernos. E quanto mais mergulhamos nas profundezas de blogs, tuítes e redes sociais, mas temos a sensação de que o mundo nos escapou pelos dedos.

A gente não pode esquecer que a internet pode ser 4G, o processador do computador i7 e o HD de 700 terabytes, mas nosso dia terá sempre as mesmas 24 horas que nossos primos das cavernas tinham.

Além disso, estudos neurológicos têm demonstrado que para termos uma vida saudável e sermos profissionais criativos precisamos mesclar ciclos de aquisição de aprendizado (o que é diferente de naufragar das redes sociais) e períodos de ócio e descontração, para que o cérebro tenha o tempo adequado de recomposição e as boas ideias possam entrar num estado adequado de maturação.

Portanto, se informe (porque a fila está andando depressa), mas não se torne um paranóico.

O mundo está mudando tão rápido que se você acha que está informado é porque você está profundamente desinformado.

E pior do estar desinformado é deixar a vida escorrer pelos dedos, alijado da própria existência.

Conecte-se ao mundo. Mas não se desplugue da vida.


Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Alexandre Correa

  • Debates ganham eleição?

    Debates ganham eleição?

    Debates eleitorais são capazes de ganhar uma eleição? Essa é uma pergunta que com alguma frequência eu ouço, ou recebo,…

  • Como evitar um desastre climático, o novo livro de Bill Gates

    Como evitar um desastre climático, o novo livro de Bill Gates

    Em 2015, quatro anos antes do Corona vírus, ele fez uma palestra alertando para os riscos de uma pandemia e dizendo que…

  • O inglês do Presidente da Embratur

    O inglês do Presidente da Embratur

    Faz poucos dias viralizou na internet um vídeo no qual o Presidente da Embratur, entidade maior de promoção do Turismo…

    1 comentário
  • Israel: o país das startups

    Israel: o país das startups

    É quase impossível falar em tecnologia e startups e não pensar imediatamente no vale do silício, que fica nos EUA e…

  • Transumanismo e o futuro dos Humanos

    Transumanismo e o futuro dos Humanos

    Lá pelo final dos anos 70, havia um seriado de TV que fez muito sucesso no Brasil: “CYBORG, o homem de seis milhões de…

  • Entenda de uma vez por todas o que é ócio criativo

    Entenda de uma vez por todas o que é ócio criativo

    O que é Ócio Criativo? Entenda neste texto. Nos anos 90 o sociólogo italiano Domenico de Masi lançou um livro que fez…

  • As think weeks de Bill Gates e a quarentena

    As think weeks de Bill Gates e a quarentena

    Você sabe o que são as think weeks que o bilionário Bill Gates criou e por que elas podem ser importantes? A gente vive…

  • Você acredita na Sorte?

    Você acredita na Sorte?

    Eu realmente não queria comprar aquela rifa. Primeiro porque não sou dado a loterias.

  • Conhecimento Miojo

    Conhecimento Miojo

    Durante muito tempo, e é provável que isso ainda seja válido, se você entrasse no escritório de um profissional…

  • Quando a quarentena acabar

    Quando a quarentena acabar

    Dizem que a quarentena vai acabar. Dizem que ela vai continuar.

    1 comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos