Confiança, Ética e Alinhamento de Valores - O Papel das Organizações na Vida dos Indivíduos
A vida tem sido generosa comigo, ao proporcionar-me ricas oportunidades para trilhar um caminho permanente de autodesenvolvimento. Isso tem me ajudado a compreender a importância dos níveis de consciência na sociedade moderna, dos valores humanos, suas sutilezas e como tudo isso se relaciona com a objetividade dos negócios e das organizações.
Fico sensibilizado ao ver tantas pessoas infelizes com o seu trabalho, com as suas vidas, doentes física e emocionalmente, apesar dos inúmeros apelos feitos pela sociedade de consumo, a propagandear uma vida linda, perfeita, saudável, de felicidade plena, como se isso fosse possível apenas mediante comportamentos hedonistas e, muitas vezes, fúteis, atribuindo às “coisas” o poder de simplificar a complexa natureza humana.
Nessa jornada de reflexão, encontrei em Bill George, professor na Harvard Business School e ex-executivo-chefe da Medtronic, empresa mundial que atua com tecnologia médica, uma citação que me pareceu interessante para contextualizar:
“O que me preocupa são os muitos líderes poderosos do mundo dos negócios que se curvaram à pressão do mercado de ações para obter ganho pessoal. Eles perderam de vista o que almejavam de verdade e colocaram suas empresas em risco por se concentrarem nas armadilhas e nos privilégios da liderança em vez de construírem suas organizações numa perspectiva de longo prazo. O resultado foi uma perda na confiança com os funcionários, clientes e acionistas. No mundo dos negócios, a confiança é tudo.”
Confiança tem a ver com alinhamento dos valores humanos mais profundos. Conforme nos ensina Richard Barrett no livro “A organização dirigida por valores”, para ser bem-sucedido no século XXI é necessário tornar-se um membro confiável da sociedade global, tornando-se, por conseguinte, um líder dirigido por valores.
A confiança e a ética são atributos de valor de fundamental importância para a perenidade das organizações. Segundo Dov Seidman, especialista em ética das organizações, citado por Richard Barrett, a vantagem competitiva sustentável, para as organizações e para quem nelas atua, passou a ser discutida no campo do como, a nova fronteira da conduta. Isso, por consequência, impõe um novo paradigma ou, como prefiro considerar, um retorno ao que é básico, do que aprendemos com os nossos avós sobre o respeito aos indivíduos, aos princípios basilares de vida em sociedade como a ética, a honestidade, a justiça, a moral, o dever, as obrigações, a honrar a nossa palavra e os nossos compromissos.
As organizações são um dos mais eficazes meios de desenvolvimento sustentável de que tanto necessitamos para o futuro da humanidade. Para tanto, é fundamental, nesse processo, mudar o foco do “eu” para o “nós”. Líderes guiados por seus egos podem ser carismáticos, mas também representam uma ameaça para as suas respectivas organizações. Foco no interesse próprio custará a viabilidade da organização. Expandir o senso de identidade dos líderes das organizações é aumentar o seu nível de consciência e, portanto, o grau de vitalidade da organização para uma vida digna, sustentável e em sintonia com os elevados princípios humanos.
No século XXI, como nos ensina Richard Barrett, os líderes de organizações precisarão ser vistos cuidando não só de todos os seus stakeholders, mas também dos pobres, dos desprovidos e da ecologia do meio ambiente em que todos vivemos e do qual todos dependemos para sobreviver.
Confiança, ética e alinhamento de valores são os pilares que sustentarão, cada vez mais, as organizações modernas e bem-sucedidas.
Gerente de Governança, Riscos e Controles Internos
8 aAmérico, parabéns pela excepcional reflexão, é realmente um ponto preocupante. Acho que o capitalismo chegou a um extremo onde tudo acaba se convertendo em dinheiro. Até mesmo valores intangíveis como qualidade de vida, princípios e até a ética passaram a ter um preço. A partir do momento que as pessoas se curvam diante da pressão imposta por metas orçamentárias e por aumento de receita, o mais importante acaba sendo o lucro e o resto é relegado ao segundo plano. Muito bom.
Defesa judicial no STJ | Advocacia corporativa | Direito econômico | Governança e gestão da ética e compliance | Conselheiro de empresa certificado | Board Academy| Ex-PGR | Ex-CADE | Ex-professor UnB |
8 aA sua reflexão, a partir do título do texto, tem sido objeto das minhas ponderações, Americo. Será a questão dos valores nas organizações e na vida das pessoas uma marca do século XXI?