Consultor? Por que não?
Creio que fazer uma tarefa, que à primeira vista possa ser encarada como hercúlea, no fim, ao ser lida, ser considerada uma coisa corriqueira, de fácil enfrentamento e passível de ser implementada em muitos de seus pontos.
Pela primeira vez, sou pego de “bate pronto” e solicitado a fazer um artigo indefinido, se não o fosse, poderia eventualmente fazer uma pesquisa e aprofundar-me, onde pudesse ser avaliado em pontos que desconheço, seja pelo conhecimento da língua portuguesa, seja pela profundidade rasa ou profunda do assunto, ou outro motivo que venha a incentivar-me a empreender em uma nova posição profissional, deixando de lado as “vantagens” de ser um empregado fixo, por outro deixando de ter a desvantagem de ser um “empreendedor”, com todos os riscos que isto acarreta, além do que, algo que começa, evolui e termina.
Qual o assunto que posso focar neste momento, que não seja o de falar de minha experiência pessoal, escolar e profissional, ou seja, um curriculum vitae dissertativo, de uma forma não tão formal como a usual, porém com todas as verdades que aqui insiro.
Tenho 66 anos de idade, bem vividos, em todos os aspectos. Vindo de uma classe media que na época poderia ser realmente considerada media, pois os valores e manipulações governamentais não influenciavam esta classificação, o que não ocorre nos dias de hoje.
Estudei em escolas católicas privadas, tanto no primário, como no ginásio. Fiz o meu curso de Técnico de Contabilidade na melhor escola do país, a famosa Álvares Penteado, onde compartilhei o saber dos professores da época, dignos de serem chamados professores, pois a profissão então lhes permitia a atualização constante, além do principal, a remuneração adequada para o desenvolvimento intelectual e prático inerentes ao exercício profissional. A universidade era o próximo caminho é fui candidatar-me a uma vaga na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na especialização de Administração de Empresas, tudo isto sem ter havido a interrupção sequer de alguns meses, fui direto e reto. Anos após o bacharelado senti a necessidade de ter uma especialização e concorri mais uma vez para uma vaga na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo para ter um “carimbo” em meu diploma de Pós Graduação em Finanças. Belos tempos, em que os mestres eram exemplares e muitos deles figuras públicas de alta expressão. Creio que ministravam aulas na FGV por diletantismo, visto que tal posição era realmente um dos topos das carreiras destes profissionais e isto os distinguia em seus meios sociais.
Tentarei falar de meus predicados e o que me levou a esta trajetória educacional. Meu pai era Doutor em Ciências Contábeis (isto existia naquela época!!!), proprietário de um Escritório de Contabilidade, cuja clientela poderia ser considerada de primeira linha, empresas estabelecidas legalmente, tradicionais, sendo que uma delas até hoje resiste, chama-se Casa da Boia, tradicional estabelecimento há décadas no segmento, dentre outros. Neste escritório iniciei minhas atividades aos 15 anos de idade, começando por varrer o chão todos os dias e findando a carreira como assistente contábil. Um dia meu pai me disse: filho está na hora de voar, e lá me fui.
Na faculdade fui convidado por um mestre em marketing, cuja empresa que trabalhava necessitava de um contador, jamais me esquecerei que iniciei minha carreira nesta empresa, à época ainda no Brasil, no dia 15 de Novembro, ou seja, no Dia da Proclamação da República, isto foi necessário pelo desespero de então dos atrasos contábeis, que na época servia única e exclusivamente para dar satisfações ao governo, não tendo qualquer outra atividade gerencial e sendo considerada um custo que as empresas tinham que carregar, claro que haviam exceções, porém estas somente para grande corporações e/ou multinacionais que tinham já passado por esta fase. Lá fiquei por mais de 20 anos, galgando posições, abarcado a parte financeira, de importação, exportação, primórdios da informática, onde a reserva de mercado mantida pelo governo nos fazia utilizar equipamentos mais do que ultrapassados, de triste lembrança como a Prológica, o Cobra e outros dinossauros.
Esta empresa, suíço-alemã, veio a transferir-se para outra cidade, aproximadamente 120 quilômetros de São Paulo e ante a minha recusa em transferir-me, visto que há pouco havia sido pai, adquirido um imóvel e montado toda a minha estrutura nesta cidade, fui surpreendido pelo convite de assumir a direção da principal divisão da companhia, ou seja, ela era a maior fabricante de ar condicionado industrial do mundo e o maior consumidor à época era a indústria têxtil, pois sem umidade e temperatura controlada era impossível fiar e tecer, pela velocidade das máquinas. Lá fui eu, de ar entendia um pouco, nada que impedisse pegar um engenheiro, colocá-lo sob meus braços e levá-lo ao cliente para definir as necessidades do mesmo, porém, de custo de mão de obra, de material e formação de preço de venda me podia considerar um expert. Conclusão : eu era o responsável pelo resultado da obra, o orçado devia ser o mais próximo possível ao executado.
Anos se passaram e eu recebo o convite para ser Controller de uma empresa alemã, maior fabricante mundial de máquinas para a indústria do mobiliário. Praticamente sem concorrência nacional, porém cuja clientela era especialíssima. Pergunto: alguém já comprou móveis e recebeu uma Nota Fiscal com os valores efetivamente pagos? É raro até nos dias de hoje. Deixamos de fazer inúmeros negócios por não acatar as regras do mercado; a empresa tinha suas ações devidamente negociadas na bolsa da Alemanha e regras fortíssimas de Compliance nos impediam de qualquer ação em contrário, mesmo assim, pelo fato de não haver concorrência nacional e pela excelência dos equipamentos tivemos sucesso.
Destaco em fato extraordinário, que foi um convite para que fosse para a Alemanha para passar 15 dias, achei um período extenso, porém com o maior bom grado agradeci o convite e lá me fui.
Ao chegar à sede da empresa, sou surpreendido com o nosso Pavilhão Nacional hasteado juntamente com a bandeira de empresa e a da alemã, me disseram tratar-se medida de cortesia para com os bons clientes (clientes!!!). Adentrando as instalações da empresa, sou levado à sala da presidência, onde sou informado do real motivo de minha viagem: é que fui considerado o Controller do Ano, eleição esta feita por meus superiores, baseada em uma serie de quesitos, dentro os quais cito: pontualidade nos relatórios, acertos em orçamentos, budgets e fluxos de caixa, assiduidade no trabalho, entre outros. Fiquei mais do que surpreso, pois além da recepção, me foi dada a oportunidade de conhecer outras 6 fábricas do grupo, com uma acolhida excepcional de meus colegas de trabalho, assim como fui presenteado com uma viagem a países de minha preferência que estivessem próximos a Alemanha.
Escolhi Austria e República Tcheca, para onde fui de trem, com 2.000 Marcos Alemães no bolso, fantástico!
Passados uns anos, estou trabalhando, quando recebo um telefonema de um head hunter, perguntando-me se gostaria de participar de uma seleção para o cargo de Controller em uma multinacional alemã, só fiz uma pergunta: onde é que fica esta empresa (visto que eu trabalhava em Taboão da Serra e morava no bairro de Itaim-Bibi em São Paulo), não recebi a resposta por uma questão profissional, porém fiz a pergunta de uma outra forma: Moro no Itaim-Bibi, esta empresa fica longe deste bairro? Recebi a resposta: o Sr. pode ir trabalhar andando. Bingo ! I´m in.
Isto foi numa 3ª feira e solicitaram que eu tivesse uma entrevista na 4ª feira, achei estranho, a fiz com uma entrevistadora gabaritada, terminando com uma conversação em inglês com outra pessoa, que me achou proficiente na língua. Novamente fui requisitado para retornar no dia seguinte, pois o Diretor Mundial da companhia estaria no Brasil e gostaria de entrevistar-me, confesso que foi a coisa mais louca do mundo, pois pouco falei com este Diretor, que não saia do telefone celular e fiz a entrevista com quem seria meu parceiro o Managing Director, entrevista esta em português, pois não tínhamos o por quê de outra linguagem. Ao sair nos demos o shaking hands e nova surpresa, ouço a pergunta: Que tal se almoçássemos amanhã?, pensei comigo, meu Deus, onde vim parar, estão me empregando. Dito e feito, no dia seguinte acertamos a negociação da remuneração, início dos trabalhos e outros. Detalhe: Não avisei ninguém em minha casa que estava fazendo isto, arrumei para a minha cabeça, porém estas são outras histórias.
Esta empresa é a maior fabricante mundial de máquinas ferramenta (tornos, centros de usinagem e outros) de altíssima tecnologia. Na época eu contava com 50 anos e meu parceiro 28, uma das poucas conversas que tive com o Diretor Mundial foi que estava sendo contratado entre outros motivos para “segurar” a fera, realmente uma das mentes mais brilhantes com quem convivi.
Passados 2 anos, em uma viagem para a Alemanha, sou levado para o Departamento de RH, se assim o podemos considerar e fico então sabendo que fui encomendado, a missão do head hunter era me jogar a isca e o resto é história.
Friso que começamos esta empresa no Brasil a partir do quase zero, visto que a mesma que já vinha com mais de 150 anos de atuação mundial, tinha no Brasil apenas uma empresa de representação comercial, especialista em equipamentos. Alugamos uma sala em um conjunto de escritórios da Meliá na Rua do Rócio com 16 metros quadrados, deram-nos a meta de vender 4 máquinas em 1973, vendemos 9. Para 1974 nos deram 15, vendemos 25, o resto é história e case mundial, chegamos em 2.010 a vender 221 máquinas, no valor estimado de 35.000.000 de Euros. Passado um ano do escritório de 16 metros, fomos para um showroom de 900 metros, uma aposta dos acionistas que vingou além das expectativas. Na data de minha saída contávamos com 64 colaboradores.
Um fato que não posso deixar passar em branco é que em 2016 esta empresa foi “vitima” de um take over hostil por parte da uma empresa japonesa do mesmo segmento, e atingido este intento nada mais natural que o homem dos números fosse substituído, cumpri um aviso prévio de 1 ano e desde 31 de Março de 2.017 desvinculei-me da empresa.
Permitam-me falar um pouco da minha bagagem profissional, para facilitar a leitura, coloquei-a em tópicos:
– Contabilidade Fiscal e de Custos, base de minha formação, atuando em todas as empresas por quais passei. Ressalto o atendimento pessoal aos órgãos de fiscalização de impostos, assim como as empresa as de auditoria, todas do nível top 5. Todos os meus highlights sobre as auditorias foram positivos, assim como todas as informações relativas ao IFRS foram satisfatórias para a consolidação dos números mundiais. Jamais tive em minha carreira profissional qualquer Auto de Infração por parte das autoridades fiscais.
– Legislação Tributária : conhecedor da aplicação ou não dos Impostos : IPI – ICMS – ISS – Cide – PIS – Cofins e da área trabalhista, assim como os relacionados aos processos de importação, aduana, Taxa de Renovação da Marinha Mercante e outros penduricalhos, corriqueiros no cipoal das operações mercantis e de serviços que temos em nosso país.
– Atividades da Área Financeira : Total controle sobre o fluxo de caixa, seja a título diário, semanal, mensal, quadrimestral e semestral. Sempre sob minha supervisão os Departamentos de Contas a Pagar e Contas a Receber. Faço negociações com bancos, seja a título de investimentos ou tomada de recursos para períodos deficitários. Contato direto com organismos de crédito nacional e internacional, exemplifico o da linha de crédito Hermes administrado por bancos estrangeiros ou o Finame do BNDES para financiamento de equipamentos de produção própria.
–Atividades na Área de Planejamento : Responsável direto pela confecção dos budgets anuais e acompanhamento dos resultados com atualizações trimestrais do exercício planejado, assim como dos períodos subseqüentes, ressalto que tinha o budget do ano em curso para acompanhamento e atualização, assim como para os dos próximos 3 anos subsequentes.
–Atividade de Apoio Comercial : Formador do preço de venda, conhecedor dos custos envolvidos e sabedor das condições financeiras do negócio, participei ativamente de negociações de vendas, assim como planejei e apresentei pacotes completos para a solução do problema do cliente, referindo-me é claro na apresentação de parceiros de financiamento, incluindo no processo e propostas de vendas planilhas de custos, com geração de caixa do investimento (fornecida pelo cliente) e estimativa das taxas de retorno, assim como da melhor solução para o pagamento dos equipamentos.
– Implantação e Desenvolvimento de ERPs : em todas as empresas participei ativamente das implantações, com constantes atualizações em razão da velocidade da evolução tecnológica.
– Logística e Administração de Importações e Exportações : Um ponto que considero forte, visto que toda uma análise deve ser feita que levará em consideração: a condição tarifária do material a ser importado, obtive muito sucesso em enquadramentos em ex-tarifários, fazendo com que a economia fosse realmente expressiva, posso resumir no caso dos equipamentos básicos, cuja tarifa do Imposto de Importação normal é de 14% sobre o preço CIF e após trabalho junto ao Ministério de Indústria e Comércio e de suas Agencias, consegui a redução para 2%, isto não levando em conta ainda o efeito cascata, pois tal redução influencia também na redução do ICMS, PIS e Cofins.
Outro ponto é a negociação dos fretes aéreos e principalmente marítimos, cuja diferença chega a ser mais do que expressiva, não abrindo mão desta responsabilidade para o despachante aduaneiro, visto que sempre conseguia fretes melhores, inclusive os que a Casa Matriz recomendada.
A questão do custo de armazenagem das mercadorias, enquanto aguarda a liberação por parte das autoridades, é outro ponto fundamental, pois uma pré negociação junto às empresas que operam as docas possibilita reduções de custo representativas.
Finalmente o que considero meu maior patrimônio: o fato de contar com 66 anos e ativo, interessado em novidades e não contar com o sucesso do passado como limite de meus conhecimentos. Creio estar habilitado e totalmente preparado para aplicar a minha experiência corporativa , bem como a que ainda adquirirei pela evolução, tanto tecnológica, quanto às práticas negociais que surgirão, para auxiliar como Consultor Empresarial, e colaborar na solução de problemas e caminhar a trilha de sucesso dos clientes.
Cesar Mastrorocco
Consultor Empresarial
Membro da ABCO - Associação Brasileira de Consultores
cesar@mastroroccoconsultoria.com.br
Artesã independente (Sō Arteira)
6 aTrajetória de sucesso de um profissional muito competente!! Parabéns, Cesar Mastrorocco!!