Contando na Vírgula

Contando na Vírgula

O Congresso recebeu a chance de fazer uma verdadeira mudança no país.

Ontem, o governo federal mandou ao parlamento um orçamento onde informa que vai arrecadar R$ 30,5 bilhões menos que necessita para cobrir seus gastos que não são de juros.

Será necessário cortar despesas ou aumentar receitas nesse valor. Se o Congresso não o fizer, o governo terá que vender papéis no mercado financeiro, ficando ainda mais endividado e ajudando a piorar a situação já difícil em que o país se encontra.

Após a estabilidade monetária, era de se imaginar que a nação evoluísse para um orçamento de verdade, onde o planejamento do país pudesse passar pela real execução do que governo e parlamento, juntos, tivessem acordado e colocado em lei (sim, o orçamento é uma lei).

Mas não foi o que ocorreu. Legislativo e executivo fingiam que faziam planejamento prevendo receitas e despesas na lei orçamentária. Mas o orçamento era inchado para caber todos os desejos de governantes, parlamentares, burocratas, sindicatos, empresários, ONG’s e qualquer um que tivesse uma causa justa ou nobre.

Para mostrar que a reivindicação era não só nobre como viável, se faz a conta da mentira, dividindo o gasto pelo tamanho do PIB --o que em geral dá um zero, uma vírgula, um monte de números e o sinal de porcentagem. E o orçamento ganhava mais zeros antes da vírgula. E esse zero é o que sai do seu contracheque ou da sua nota fiscal e vai pra Receita.

Dinheiro nenhum, público ou privado, é elástico para caber os desejos e necessidades de todos. Se assim fosse, não necessitaríamos de políticos já que não precisaríamos definir qual a melhor forma de gastar o dinheiro público.

Com o orçamento de ontem, o governo deixou tardiamente sua adolescência e informou à sociedade que não há dinheiro para tudo, que será necessário repactuar receitas e gastos.  O Congresso deve executar o que o governo está pedindo.

Chamar a sociedade e discutir o que é prioridade, o que vale mais fazer agora, o que dará mais retorno, mais rapidamente ao país (ajuda se, no processo, a hermética linguagem do orçamento for simplificada). Discutir se algum grupo está com encargos demais e outros, de menos.

Enfim, teremos que dizer sim ou não. Jeitinho não dá mais.

Vai ser duro, como é duro chegar à idade adulta, perder a mesada e ter que viver com dinheiro próprio. Mas é necessário para crescer.

O mais importante, contudo, será em 2016. Se for feito o pacto, o Congresso deve exigir que o governo cumpra o orçamento. Sem mágicas para arranjar receita que não existe. Sem fingir que gasta dando cheque sem fundos para acalmar político em véspera de eleição.

E a sociedade, Congresso incluído, deve fiscalizar para saber o retorno. Se a meta de cada despesa foi alcançada. Se valeu gastar com aquilo. Se não está muito mais caro que o devido.

Porque, agora, o número atrás da vírgula que vai valer é o centavo de real.

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