Continue? Ou como videogames me ensinaram resiliência.
Desde que me dou por pessoa sempre teve duas coisas que sempre fui apaixonado, jogos e mitologia. Essas duas paixões me acompanharam desde a minha infância e foram dois componentes importantes no meu desenvolvimento, inclusive de habilidades que hoje são consideradas essenciais para um bom profissional, então decidi como exercício contar como vídeo game me ensinou a ser resiliente, mas que não basta apenas força de vontade e gostar de algo para que ela se desenvolva.
Ganhei meu primeiro videogame aos 5 anos, foi um Super NES com o Super Mario World. Lembro que tinha falado para meu pai que queria o NES, mas ele disse que logo sairia um novo e era melhor esperar, então eu esperei.
Também já estava na escola, e como boa parte das crianças uma aula que eu gostava muito era a de educação física. Adorava meu professor, gostava de jogar bola, apesar que eu não era exatamente bom nisso, era provavelmente o pior da sala, mas estava sempre pronto para encarar os exercícios do dia e tentar melhorar minhas habilidades.
Quando ganhei meu SNES também não foi muito diferente, diversas vezes acabava nas telas de “GAME OVER”. Assim como nas aulas de educação física estava aprendendo uma nova habilidade, como eu interagia com o ambiente, e os limites do que eu conseguia ou não ultrapassar naquele momento, porém da mesma forma eu adorava aquilo. O desafio, as cores, a música, tudo alí me cativava.
Enquanto na escola eu era recebido por xingamentos, empurrões e cada vez mais as pessoas tentavam de alguma forma me impedir de jogar quando eu falhava, seja me deixando por último na escolha de times e já começando a partida, seja nunca me deixando participar de jogadas, basicamente me tirando a opção de continuar tentando e melhorar, o videogame era neutro e essa foi a grande diferença entre os dois.
A cada derrota eu ficava frente a frente com essa tela neutra, com duas opções “Continue” e “End”, ele não estava me julgando apenas perguntando para mim, vamos em frente ou paramos aqui? Dependia apenas de mim continuar tentando ou não. Porém tinha dias que simplesmente não acontecia, eu apertava A para continuar e perdia. De novo e de novo e de novo. Cada vez ficando mais frustrado, com mais raiva. Raiva de jogo, raiva do controle, raiva de mim por não conseguir fazer aquilo.
Não importa quantas vezes eu voltava, eu não ganhava até o ponto que eu desistia, escolhia end e pro inferno com tudo para no dia seguinte a gente tentar de novo, mais calmo, talvez de um jeito diferente, prestando atenção em alguma coisa diferente.
Foi nesse ciclo de vitórias e derrotas, de cair nos mesmo buracos, ser pego pelos mesmos projéteis, ouvir o mesmo discurso de vilão tantas vezes ao ponto de ficarem gravados na minha cabeça por semanas que eu aprendi que resiliência tem muito pouco a ver com continuar na luta, de bater a cabeça contra a parede e sim com reagrupar, replanejar e força de vontade de retornar a este local de novo e participar desse ciclo me fez cada vez mais apaixonado por jogos e até hoje uma das coisas que me definem é que sou gamer.
Já nas escola a história foi outra, cada vez mais eu começava a desgostar de esportes, daquela competitividade tóxica onde vencer é tudo, perder é a pior coisa que pode acontecer na sua vida e que se você não é bom o bastante não tem nem a chance de tentar. A falta de abertura e a falta de apoio me fez perder a perspectiva de que ali havia algo que realmente valesse a pena o esforço e acabei abrindo mão daquilo e usar a minha energia nas outras coisas que eu gostava na escola, aprender.
Essa foi a segunda lição de resiliência que eu aprendi, você precisa refletir no impacto daquilo para você, ser resiliente não é enfrentar todo desafio que você encontra de forma estóica, é entender aquilo que você está buscando e como transformar isso em realidade. No meu caso, o desafio de se tornar melhor eu também encontrava tanto jogando videogames quanto em aprender coisas novas, lidar com meus colegas de sala apenas drenava minha energia que eu poderia usar para perseguir o mesmo objetivo em outros lugares.
Avançando para minha carreira, uma das coisas que mais frequentemente ouvi quando falávamos sobre fortalezas era como as pessoas me viam como resiliente. Como mesmo quando dava problemas, mesmo eu me frustrando eu continuava trabalhando nele até que a coisa fosse resolvida.
Entender que de nada adianta ficar batendo a cabeça na parede sem antes tentar entender o que está acontecendo de errado para você tentar novas abordagens. De que depende muito de nós, mas abertura para tentar de novo também é importante. Que tudo bem você abrir mão das coisas se elas não contribuem para o que você realmente está tentando atingir. Tudo isso para mim é resiliência e foi isso que muitos jogos me ensinaram.
Caso você quer passar por uma experiência similar vou deixar aqui uma lista de jogos que acho que ensinam resiliência muito bem:
- Qualquer jogo da série Megaman
- Qualquer jogo da série Dark Souls e Bloodborne
- Braid
- Jogos como Super Meat Boy e Celeste
- Tentar fazer raids no World of Warcraft
- Aquela parte das hoverbikes de Battletoads.
Como disse lá em cima, escrevi isso como um exercício, sobre me vulnerabilizar, sobre como passar adiante certas coisas que passei e receber feedback das pessoas. Obrigado por me darem esse espaço para compartilhar essa história e fiquem a vontade para comentar o que quiser aí embaixo como o que é resiliência para você, como você aprendeu a tê-la, ou qual jogo te fez perder a cabeça por causa daquele chefe difícil.