Convertendo a saudade em gratidão

A internet brinca com nossa cabeça e nossas emoções. Com Skype, FaceTime e a fácil acesso a todo esse aparato comunicacional, a cabeça às vezes até esquece a distância. Mas, de repente, vem aquele pensamento "vou visitar a mãe e o pai/tomar café com a vó e o Vô/na tia/ comer chilli ou tomar uma com amigos". Por um segundo, o cérebro faz planos pra matar a saudade mas, no segundo seguinte, cai a ficha de que ainda não temos teletransporte. A saudade aperta que parece que torce a gente por dentro por uns minutos. E depois a dorzinha abranda e a saudade fica guardada no cantinho até a próxima vez em que o cérebro esquecer que proximidade on-line não dá abraço. 

Mas não é triste sentir saudade. É solitário, por mais que não esteja literalmente sozinho. Porque quando você busca colo de mãe, o do marido não supre aquela necessidade da mão da mãe mexendo no cabelo e falando sobre as músicas novas que andou ouvindo, quando você busca o abraço da vó, abraço de amigo não serve porque não tem aquele perfume da Avon, ou aquele cafuné... É solitário, mas, insisto, não é triste. Porque a gente só sente falta quando a gente ama e é amado e é especial ter uma ligação tão forte assim com família e amigos, aquela ligação que fica mais forte com a distância e é cheia de nó na garganta no "tchau" de cada chamada de voz ou vídeo.

Se você, que como eu resolveu colocar a mochila nas costas com meia dúzia de roupas e um milhão de sonhos, passar a ver na saudade um sinal da sorte de amar e ser amado, vai notar que o peso disso diminuirá e dará lugar a uma enorme gratidão pela sorte de estar cercado de gente que realmente se importa com você o suficiente pra te chamar no FaceTime na hora do parabéns ou pra mostrar a casa nova, ver sua casa nova, mandar fotos da filhinha recém-nascida usando a roupinha que você mandou de presente, tirar foto do almoço porque sabe que é um prato você gosta ou só ligar no fim da tarde pra falar oi e fofocar sobre qualquer coisa.