Conviver: o mais básico dos saberes
Flower Thrower, ou “Jogador de Flores” - obra de Banksy

Conviver: o mais básico dos saberes

Lidar com aquele que é e pensa diferente tem se revelado um atributo raro e de alta sofisticação social, quando deveria ser o mais básico dos saberes. Isso tem levado a uma mobilização de Organismos Internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO (Reimaginar nossos futuros juntos), da Igreja (encíclica papal Fratelli Tutti), fóruns diversos, psicólogos, educadores e defensores dos direitos humanos. Nunca se falou tanto sobre conviver.

 

Aquilo que eu sou e que me torna única é o diferencial e minha maior riqueza. São marcadores que compõem a minha história: onde eu nasci; de onde vim; quem foram meus pais e avós; a cor de minha pele; a textura dos meus cabelos; minha religião e tantas outras manifestações das diversidades – tanto da natureza quanto cultural. Assim, eu vou para o mundo e tenho o direito (não concessão ou favor) e a expectativa genuína de que haverá um lugar digno e respeitoso para mim. Vou, pois preciso existir e isso pressupõe a existência do outro, que tem, igualmente, os mesmos direitos e outra história para contar. Dito dessa forma, a equação parece simples e com um final feliz; só que não.

 

O problema começa quando não suporto a diferença e atuo para apagar ou inferiorizar o outro. Apago com a discriminação, com o preconceito, com o racismo, com o bullying e cyberbullying, com a difamação e a mentira. Tais comportamentos não conhecem a idade de quem os profere. Está presente na criança, jovem ou idoso, o que pressupõe mobilizar toda a sociedade e não apenas a escola. Encontramos paralelos num mundo da natureza por meio da competição pela sobrevivência. Contudo, conseguimos, na dimensão cultural, transcender tais comportamentos viscerais. Todo bloqueio à expressão da diversidade é negativo ao aprimoramento da humanidade.

 

A violência não é um privilégio escolar. Que arrogância e prepotência é essa de pensar que o meu mundo é o modelo a ser escalado na sociedade?  Não discutimos ideias, mas adjetivamos o outro, o que só denota nossa pobreza e superficialidade argumentativa. A imposição ou a humilhação – por meio da força, ódio ou ameaça – criam um círculo vicioso e destrutivo.

 

Em um pacto envolvendo a sociedade, a família e a escola, o ensino da convivência ética precisa ser imperativo. Portanto, este 7 de abril, Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, vem para nos lembrar de que precisamos de mais políticas, conversas, sermões, aulas e reuniões para falar sobre tudo isso.

 

Podemos aprender a nomear e sermos educados para identificar, ver, ouvir e sentir a mais sutil manifestação da violência, seja ela simbólica, física ou psicológica. Por mais diferentes que sejamos, que no encontro com o outro haja espaço para a diversidade das existências e a disposição para acolher, iluminar, salgar, perfumar e restaurar. Essas são atitudes que precisam ser aprendidas.

 

Na educação básica, quando ainda falamos de sujeito em formação, as “inocentes” brincadeiras não podem ser naturalizadas. Os adultos precisam não somente intervir, mas também devem adotar uma postura de quem investiga e se põe em alerta. As violências nem sempre acontecem nas vistas do adulto, mas, se preparado, ele saberá ler os sinais.

 

Apostamos em um novo momento civilizatório que pressupõe uma antropologia em que todos temos a mesma dignidade e direitos. Com isso, ganhamos todos!

Publicado no Estado de Minas - 07/03/2024

Marcos Valladão

Diretor comercial | CRO | Head de vendas | Head of Sales | Equipes de alta performance | Desenvolvo e lidero estratégias de vendas B2B

8 m

Olha que legal, Renata Ishida !

Cynara Bastos

Inspiradora Humana & Psicóloga | Desenvolvimento de Líderes | Aprendizagem Corporativa | Desenvolvimento de Carreira | Curadoria de Conteúdos

9 m

Excelente artigo, Aleluia Heringer! Para que possamos viver em um ambiente cada vez mais acolhedor, inclusivo e tolerante, é preciso fortalecer a autoestima e investir nas habilidades tão fundamentais como a empatia, a consciência e o domínio emocional.

Paulo Vitor Felipe

Oficial de Manutenção Predial | Colégio Santo Agostinho de Belo Horizonte | Graduado em Filosofia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino - ISTA

9 m

É verdade.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Aleluia Heringer

  • Do esperado ao inesperado

    Do esperado ao inesperado

    Minha relação com os animais sempre foi dentro do padrão: eles lá e eu cá. Cachorro sempre fora de casa, com a missão…

    12 comentários
  • A fumaça que nos acordou

    A fumaça que nos acordou

    A fumaça chegou até a nossa porta e acinzentou o horizonte, triunfante, sempre para o alto e além de parte da…

    17 comentários
  • Educação Ambiental: será que agora vai?

    Educação Ambiental: será que agora vai?

    No dia 25 de junho de 2024, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei 14.926.

    7 comentários
  • "Passa o olho"

    "Passa o olho"

    “Passa o olho” é aquela olhadela rápida nos filhos que estavam no quintal ou brincando na rua. Era uma checagem por…

    2 comentários
  • Emergência Climática: o que precisa entrar na pauta da Educação.

    Emergência Climática: o que precisa entrar na pauta da Educação.

    Sentimos na pele os impactos do novo regime climático. Com isso, ganha relevância a necessidade de se trabalhar a…

    13 comentários
  • Não há pedra no caminho

    Não há pedra no caminho

    Entre os 6 e 9 anos de idade, eu percorria a distância de 5km da minha casa até o grupo escolar. Uma parte a pé e a…

    5 comentários
  • As três cartas

    As três cartas

    Cartas sempre trazem anúncios, notícias, comunicados ou convites. Mesmo que aquele envelope selado, que aguardávamos…

    1 comentário
  • Escola é offline

    Escola é offline

    A escola resiste e ainda guarda um tesouro da humanidade: a solidez corpórea, artefato biológico e cultural em vias de…

    10 comentários
  • Escola, lugar da vida

    Escola, lugar da vida

    Em cada coração de mãe ou de pai, há uma dor e muitas perguntas. No Brasil, desde setembro de 2022, são inúmeros…

    4 comentários
  • O torto, o sujo e o errado

    O torto, o sujo e o errado

    Aquilo que está na sociedade atravessa suas estruturas e instituições; daí a escola ser palco de eventos lamentáveis de…

    6 comentários

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos