A COP26 e o juízo final

A COP26 e o juízo final

“Falta um minuto para a meia-noite no relógio do juízo final”, declarou o primeiro-ministro britânico Boris Johnson esta semana na abertura da COP26 em Glascow. Em tom apocalítico, a fala reflete o senso de urgência necessário para encarar os impactos que a emissão de gases de efeito estufa tem no aquecimento global e na perspectiva cada vez mais próxima de termos as condições de vida no planeta comprometidas.

“Não existe Planeta B”. lembrou a ativista ambiental sueca Greta Thunberg, em recente conferência sobre o clima realizada em Milão, Itália. Ela se referia às promessas vazias que têm sido feitas por governos para combater o aquecimento global durante quase três décadas desde a histórica Cúpula da Terra. “30 anos de blá-blá-blá”, vaticinou referendando os temores de que a situação está perigosamente perto de sair de controle e que gerações futuras certamente enfrentarão mais transtornos.

O fato é que se espera dos mais de 190 líderes globais reunidos na COP26 compromissos sólidos no sentido de reduzir emissões com o sentido de urgência que a corrida contra o tempo exige.

E qual o papel das empresas nessa história? Afinal, o futuro dos negócios está em jogo. Os riscos de investimento apresentados pelas alterações climáticas deverão acelerar uma realocação significativa do capital, o que, por sua vez, terá um impacto profundo na precificação do risco e dos ativos em todo o mundo. Ou seja, o fator sustentabilidade passa a nortear decisões de investimento.

Neste cenário, as empresas estão sendo provocadas sobre a importância do tema. O conceito de ESG (sigla que define ações relacionadas ao meio-ambiente, ao social e à governança corporativa) transformou-se rapidamente em uma narrativa hegemônica na sociedade. Pesquisas mostram que a população entende que as empresas são corresponsáveis na missão de salvar o planeta.

Um estudo realizado recentemente pelo Instituto FSB Pesquisa, ouviu 401 empresários de todos os setores e regiões do Brasil, em amostra representativa do universo total das grandes e médias empresas brasileiras. Segundo o estudo, 79% das empresas afirmam que questões socioambientais relevantes estão presentes na estratégia de negócios. Mas apenas 31% dessas questões já se transformaram em metas e só 15,5% delas conectam essas metas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. E só 3% atrelam a remuneração dos executivos ao tema.

Ou seja, há um longo caminho para as empresas no Brasil se engajarem de forma efetiva às demandas de seus stakeholders e traçarem uma agenda clara de compromissos com as questões ambientais e sociais.

A boa notícia é que o cenário está mudando rapidamente e as empresas estão sendo provocadas cada vez mais sobre a importância do tema. A adoção de metas claras e objetivas relacionadas ao ESG estão se tornando parte da licença para operar. O ESG está se tornando uma narrativa hegemônica na sociedade e deve ancorar as estratégias de qualquer organização que busca o sucesso.

O engajamento urgente de todos os stakeholders, negócios, cidades, regiões, países e investidores no compromisso de descarbonizar as operações vai prevenir ameaças, criar empregos decentes e provocar o crescimento sustentável. 

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