"A coragem de não agradar": Uma reflexão sobre ressignificar o passado

"A coragem de não agradar": Uma reflexão sobre ressignificar o passado


 

É inegável o poder transformador que certas leituras imprimem, e “A coragem de não agradar” me trouxe isso, eu avisei que vocês me leriam mais comentando o livro.

 

Como grande curioso em psicologia sempre fui bastante bombardeado pela escola freudiana, mas sempre tive um pouco de nariz torcido quanto às abordagens, mas isso é papo para outra hora, quero falar sobre o quanto o livro, junto a estudos da psicologia adleriana desafiaram e confrontaram, mas, por outro lado, fortaleceram também, muito do que eu acreditava sobre a minha relação com o passado.

 

Sempre fui um tanto contrário ao peso que se coloca no nosso passado, à ideia de que as experiências por mim vividas me moldaram de forma irreversível, como se eu fosse uma coisa permanente marcada por essas experiências e, mesmo não conhecendo anteriormente, a perspectiva de Adler talvez tenha influenciado na confirmação de um viés: o passado não precisa definir quem sou, tão menos limitar aquilo que posso vir a me tornar. Gostaria de pontuar algumas ideias:

 

  • Negar a existência do trauma

Debruçado em teorias de outras escolas psicológicas, carregava a crença de que meus traumas eram como âncoras que impediam meu crescimento, influenciavam minhas decisões. Enxergar que o trauma não é uma sentença, que pode ser ressignificado, é, de certa forma, libertador.

Por mais que não seja simples apagar a visão confortável de que sou só uma vítima das circunstâncias, hoje percebo que tenho o poder de ressignificar minhas experiências, não é questão de negar a influência do passado no meu eu, mas de recusar que ele influencie o controle do meu futuro.

Ao praticar a ideia de que o “trauma não existe, como apresentado no livro, me traz reflexões profundas, não quer dizer que eu vá minimizar minhas dores, mas que não vou me permitir viver acorrentado por elas, quando deixamos o passado determinar nossas escolhas, às vezes por medos, perdemos o controle de nossas vidas.

Quando reinterpreto minhas experiências recupero o poder de guiar meu hoje a um futuro que quero viver, a vida não é um roteiro fixo, mas um livro em branco, de páginas a escrever, onde cada dia, ou página, é uma nova possibilidade de escrever um futuro agradável.

 

  • Como viver sem ser controlado pelo passado

Lembra que eu disse sobre o passado ser uma âncora? Acredito hoje que ele só pesará o quanto eu permitir, ao invés de fazer da minha vida um eterno flashback, usando o passado de muletas ou escudo, escolho enxergar propósito e clareza colocando minhas vistas à frente. Como disse antes, não tem a ver com esquecer minhas dores, simplesmente não deixá-las me paralisar. Meu futuro não é definido pelo que aconteceu até agora, mas pelo que eu escolher ser a partir do agora.

 

  • Viver o aqui e agora

Uma ideia bastante repetida no livro, para além da coragem, é o entendimento da importância de, não só estar, mas viver, de fato, no presente.

Dirigi bastante tempo a minha vida balanceando entre olhar para o retrovisor do passado e sofrer pela ansiedade do que virá, mas hoje entendo que a felicidade está em viver o presente (mais uma confirmação de viés), aproveitar as possibilidades que o agora me permitem, valorizando a unicidade de cada instante, experimentando a liberdade de viver minhas escolhas.

 

Durante a leitura de “A Coragem de Não Agradar” entendi que o passado é somente uma parte da minha história, não o todo dela, que temos no agora o poder de nos libertarmos de correntes que nós mesmos criamos. Viver o presente é uma escolha que requer coragem, a coragem necessária para nos colocarmos como autores das nossas histórias.

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