CORINGA - sem spoiler
O roteiro é bom, o elenco é ótimo, a trilha sonora é fantástica, figurino é estonteante, a direção é sensacional, a fotografia é espetacular, mas o filme Coringa não teria se transformado numa obra prima do cinema sem a atuação assombrosa do ator Joaquim Phoenix. Seu Coringa, num trabalho de corpo e de voz viscerais, nos leva a uma jornada sem volta pela psicopatia, e nos possibilita entender que os gatilhos dos socialmente inaptos não aparecem do nada, e sim, são construções feitas externa e internamente, pelo meio e por si mesmo. O corpo que Joaquim Phoenix construiu para esse Coringa é desconjuntado, raquítico, arcado, torto, insalubre, transparecendo visivelmente sua condição emocional e mental. A única leveza que esse corpo consegue atingir é através da dança, como que em catarse, a alma pudesse se desvencilhar do corpo. Mas quando Arthur Fleck começa se aproximar do Coringa sua postura vai mudando aos poucos. Corpo vai ficando ereto, olhar reto e direto, cabeça erguida, andar confiante e claro, roupas coloridas demonstrando a transição de um homem cinza e sem vida para uma persona segura de si, sem remorso, sem medo, sem freio moral, dominado pelo poder e auto confiança. Nesse momento a fotografia é particularmente sensacional, mudando o ângulo da câmera de suas costas e cabeça, para imagens de baixo pra cima (técnica para retratar o empoderamento do personagem). A trilha sonora também acompanha a transformação de forma brilhante. O filme é angustiante, incomoda, faz pensar, faz você rever certas coisas, e isso é função da arte. Por isso digo que esse filme é uma obra prima. Porque ele causa dezenas de sensações diferentes, por bastante tempo. O filme não se esconde nem pro bem nem pro mal, mas também não é pretensioso em querer esfregar na cara da gente sua verdade, deixando pro espectador muitas lacunas para serem preenchidas como cada um quiser, e isso é a parte mais brilhante da direção. E como todo ótimo filme, tem um final primoroso, ao deixar várias pontas sem ligação, abrindo assim caminho para inúmeras interpretações.
Coringa é um filme para eternidade...
Arq. Thiago Herrera
OBS: a evolução da risada também é algo espantoso.
Arquiteta e Urbanista
5 aA vida dura, invisível e sem esperança transforma ou poderia transformar muitos em coringas..palhaços.. sim porque é assim que eles se sentem e assim são vistos pela sociedade. Quem se atreveria a julga- lo? Infelizmente somente assim são percebidos.. somente assim poderão mudar esse status tão desigual. Ao final me vi ao lado dele lutando...
Arquiteta e Urbanista
5 aConcordo plenamente!
Arquiteta e Urbanista
5 aSTENIO AMORIM