CORREÇÃO II - Disciplina
A impunidade é o mais eloquente convite à prática sustentável da corrupção. Não apenas para os que já abriram mão de valores e princípios fundamentais, mas também para os que, vendo o aparente sucesso de corruptos contumazes, acabam se sentindo atraídos pelos mesmos descaminhos. Afinal, vai tudo tão bem no mundo dos negócios escusos, que acaba valendo a pena assumir os eventuais riscos, uma vez que estes praticamente nunca se materializam. Num ambiente como esse, um circulo vicioso vai se fortalecendo e se perpetuando.
Na semana que se passou, assistimos estarrecidos a nossa Suprema Corte manifestar sua divisão interna de forma escandalosa. Para mim, o mais surpreendente, não foi a variedade de interpretações do texto constitucional, mas a magnitude das divergências entre seus intérpretes. Tais divergências, entre outras consequências, abrem portas a habilidosos advogados que visam à procrastinação, o que, em muitos casos, leva à prescrição dos processos por decurso de prazo. A pior das consequências deste sistema falho de justiça é, exatamente, a impunidade.
É ilusão pensar que em organizações do setor privado, a impunidade teria efeitos menos deletérios. Pelo menos no sentido do implícito incentivo às más condutas, os efeitos são exatamente os mesmos. Se no universo politico e jurídico as pessoas agem por interesses não muito republicanos, no setor privado elas também têm seus protegidos, e, na defesa deles, passam facilmente por cima de valores e princípios. O ser humano é o mesmo, independentemente da camisa que veste.
Aquele círculo vicioso se alimenta indefinidamente quando se percebe, de um lado, o ganho fácil apresentado pelos desvios de conduta e, de outro, a ausência de penalidades ou quaisquer consequências dolorosas decorrentes desses desvios. Em tudo na vida fazemos uma conta básica que chamamos de custo-benefício e, se esperamos grandes ganhos em determinadas transações, naturalmente nos dispomos a assumir riscos maiores. Se almejamos um produto de qualidade superior, abrimos o bolso e pagamos um preço mais alto. Isso se replica nas nossas atitudes de forma geral.
Em outras palavras, sem correção, a tendência seria de a sociedade se perder totalmente. Todos se sentiriam no “direito” de agir da mesma forma que os espertos. Todos poderiam ultrapassar pelo acostamento, furar um sinal vermelho, trafegar com seu automóvel pelas calçadas, entre outras peripécias. Para ficar apenas no exemplo que nossos motoristas oferecem, seria cômico se não fosse trágico, simular a colocação do cinto de segurança apenas para enganar a vista dos policiais, e assim escapar de uma penalização.
A importância da correção e da disciplina, desde muito cedo se faz perceber nas nossas vidas. Obviamente que estas iniciativas exigem algum padrão, regra ou código que estabeleça limites, que deixe claro o que se espera do comportamento de cada um. Vamos tratar deste ponto mais à frente. Por ora, nosso foco está posto sobre os reflexos e consequências da impunidade, a saber, que ela acaba funcionando como um incentivo aos desvios de conduta.
Colocando as coisas nos seus devidos lugares, deixo bem claro que não estou defendendo um ambiente policialesco que impeça a iniciativa e a criatividade. O que estou apontando, é que um ambiente de leniência com desvios de conduta é mortalmente prejudicial ao sucesso e perenidade dos negócios, e nesta vala não podemos cair. Se nela estivermos, dela temos que sair.
Afirmo, em tom de desabafo, ser muito lamentável que os piores exemplos de impunidade venham, exatamente, dos que deveriam ser exemplos de bom procedimento para toda a sociedade. Mesmo que o bom exemplo não venha dos nossos maiores mandatários, não podemos entregar os pontos. Há um caminho melhor a ser seguido, e este deve ser perseguido incansavelmente. Avançaremos neste tema no nosso próximo artigo. Até lá!
Especialista Master
6 aParabenizo o artigo e a critica inteligente ao sistema atual no mosso pais. Realmente a falta de disciplina que inicia nas Famílias, contribuem à corrupção e impunidade.