A Corrente do Bem (como conectar pessoas de forma inclusiva e empreendedora?)
(Unindo o poder público, o privado, as instituições acadêmicas e a sociedade em prol do foment de um ecossistema inclusivo)
Em 2016 o Brasil entrava na maior crise político-econômica de sua história. Fato que gerava 14 milhões de desempregados e impactava milhares de jovens formandos que obtinham seus diplomas e não conseguiam transformar essa conquista num bom emprego. Além de ver alguns ex-alunos exatamente nessa situação, também via alguns amigos já experientes e com ótimos currículos simplesmente descartados no mercado devido à necessidade constante de redução de custos e aumento de margens, comuns no capitalismo.
Outro fato que que vi se repetir era o de empresas realizarem fusões ou troca de executivos que traziam maior centralização e, muitas das vezes, tirava a força de trabalho de seu ecossitema natural, para levá-los para outra realidade em grandes capitais, mais caras e com menor work-life-balance. Empresas que possuíam times em cidades do interior, eram deslocadas para Rio de Janeiro ou São Paulo. Isso tornava a mão-de-obra especializada mais cara e, ainda que ganhassem mais, os empregados sentiam que estavam perdendo qualidade de vida, pois os custos com moradia e escola cresciam, ao passo que o tempo livre ficava cada vez mais escasso. Além disso, as grandes cidades ficavam ainda mais inchadas de pessoas, gerando uma piora ainda maior no trânsito o que tira um tempo precioso de milhões de pessoas diariamente.
Vendo tudo isso eu sabia que era preciso fazer algo. Não dava mais para continuar me sentindo bem (individualmente) em minha carreira profissional, mas sem fazer nada pelas comunidades que eu estava inserido de alguma forma. Sempre havia o sonho da mudança, a vontade de tornar realidade algo que, de repente, você sabe que todo mundo faz. Mas era preciso tornar isso algo maior, algo mais ambicioso, algo realmente disruptivo e que gerasse impacto sócio-econômico nas pessoas.
Após uma década de Microsoft, onde pelo menos uma vez por ano eu viajava até Seattle (nos Estados Unidos) para treinamentos e reuniões de negócios, em 2016 resolvi passar alguns dias de férias no Vale do Silício. Durante aqueles dias rodando por várias empresas gigantes de tecnologia, instituições de renome como Stanford, Berkeley e, acima de tudo, participando de alguns meetups com jovens de todas as idades e de todas as partes do mundo, era possível ver algo diferente no olhar de cada um. Como se cada indivíduo que encontrei por lá, tivesse dentro de si algo capaz de realmente transformar o mundo em que estavam inseridos. Como se estivessem participando de um filme de Hollywood onde só houvesse protagonistas. Os coadjuvantes simplesmente não existiam nesta película.
Retornando ao Brasil, fundei uma startup social chamada Atitude Infinita, idealizei e escrevi um manifesto, que batizei de Vale Digital. O propósito da Atitude Infinita com o Manifesto Vale Digital era o de unir o poder público, o setor privado, as instituições acadêmicas e a sociedade em prol da criação de um ecossistema que fomentasse o empreendedorismo, as inovações tecnológicas e as startups, inseridas nesta nova era da economia criativa, onde a abundância de ideias se sobressaía em detrimento da era da ecassez.
E comecei a polemizar o assunto com amigos mais próximos. Não no sentido ruim da palavra polêmica, mas talvez, buscando um sentido ou correlação, se é que há, com o processo de espalhar o pólen de uma flor para as outras visando tornar um jardim mais florido. E, quiçá, mais tarde, fazer desde jardim uma floresta, onde existam vários agentes polinizadores, ou causadores de polêmica.
O fato é que pessoas conhecem pessoas que conhecem pessoas... Na era da informação, ninguém tem todos os dados, ou melhor, cada um possui um conjunto de informações e quando conversamos e criamos nossas redes de contatos, conseguimos ter bons insights que complementam nossas próprias ideias, projetos e, em alguns casos, preenchem nossos gaps de conhecimento.
Comigo não foi diferente, comecei a espalhar a ideia do Vale Digital no boca a boca com amigos e amigas mais próximos até que um deles – o Dudu - se candidatou a vereador nas eleições de outubro de 2016. Não foi eleito, mas o candidato a prefeito de seu partido se elegeu e, desta forma, meu amigo Dudu foi chamado para uma posição no time de secretários municipais. Eu havia conversado com o Dudu sobre o meu tour pelo Vale do Silício e minha ideia de criar um ecossistema inclusivo na nossa região natal (Volta Redonda), no interior do estado do Rio de Janeiro.
Assim, ao ser convidado para o governo municipal, meu amigo mostrou a ideia do Vale Digital para o prefeito eleito e este me ligou no início de dezembro para combinarmos uma reunião e discutirmos os possíveis projetos. Era a primeira vez que um prefeito me ligava. O sentimento foi quase o de estar participando de House of Cards, porém, diferentemente da série do Netflix onde as intrigas políticas são o foco central, naquele momento, eu só tinha um propósito: gerar impacto positivo para a minha comunidade.
Tudo correu muito bem logo na primeira reunião onde demonstrei o meu propósito pessoal e que não havia nenhum outro interesse de cargo remunerado ou início de uma vida política de minha parte. Fomos visitar uma primeira instituição acadêmica que deu um passo a frente no que diz respeito a fomentar incubadoras, hackathons e participação ativa na região.
A partir daí, iniciou-se uma enorme corrente do bem, como costumo chamar este movimento. Envolvi outros amigos próximos, que se lembravam de outros amigos e esta corrente só foi crescendo. Já estávamos com um dos quatro pilares do manifesto vale digital ao nosso lado: o poder público. Começamos a contatar cada uma das instituições acadêmicas, não apenas do município, mas de toda a região para que se juntassem ao nosso movimento. E foi assim que conseguimos unir cerca de once universidades públicas e privadas em torno do Vale Digital.
Restavam ainda dois pilares: o setor privado e a sociedade. Portanto, de forma conjunta entre a prefeitura (representada não apenas pelo prefeito mas pelos membros da secretaria de desenvolvimento econômico, de cultura, educação e meio-ambiente), os representantes das instituições acadêmicas e, os parceiros (como o Sebrae) que se juntaram à nossa iniciativa, iniciamos um planejamento para ter uma série de eventos do Vale Digital – que teria sua capital em Volta Redonda, mas impactaria todo o Sul Fluminense, com uma audiência de mais de meio milhão de pessoas.
Assim, nasceu a ideia do primeiro evento do Vale Digital: o StartVR. Ainda em dezembro, quando trocava ideias com outro grande amigo - o Ricardo (com o qual estava escrevendo o livro Espírito de Startup – Tudo ao mesmo tempo agora) – começavamos a pensar no formato de um evento impactante para a região. Eu já não morava em Volta Redonda há vinte e dois anos. Mas, mesmo vivendo há quase vinte anos no Rio, o sonho era fazer algo em nossa cidade natal. Assim como no modelo americano, a ideia era desenvolver o interior e não inchar ainda mais as capitais. A grande missão seria fazer um evento do mesmo nível do de outros que eu já havia participado nos Estados Unidos pela Microsoft.
Começamos a pensar num formato que estimulasse as startups a participarem, motivadas por premiações que conseguiriamos com os patrocionadores do setor privado. Além disso, também inciamos a busca por nomes que fizessem sentido para palestrar ou participar de painéis no StartVR. Pessoas que tivessem relevância para a região ou para a criação de um ecossistema empreendedor e inclusivo. Começava aí um dos processos mais desgastantes e, ao mesmo tempo, mais motivador pelo qual já passei.
Usando a minha única rede social até então – o LinkedIn – conectei com centenas de pessoas, publiquei artigos que impactaram milhares de outras pessoas e fizeram minha rede crescer de 2 mil para mais de 30 mil seguidores. Neste período, ouvi alguns “nãos” e, pior que um não é simplesmente você iniciar um diálogo e não obter retorno do outro lado, mesmo tendo uma causa social de impacto como a da Atitude Infinita. Mas isso é normal e faz parte da vida.
Por outro lado, foi nestes meses entre dezembro de 2016 e março de 2017 que definimos a programação do StartVR – o primeiro evento do Vale Digital. Alguns nomes iam surgindo, e para minha grata surpresa, alguns amigos que não via há décadas reapareceram para contribuir no mesmo espírito e senso de propósito que todo o grupo organizador já estava a essa altura.
Além das pessoas que possuíam relação com a região, fui conectando com pessoas que admirava e gostaria de ter conosco no Vale Digital, como foi o caso de uma brilhante jornalista que apresentava um quadro especial do programa dominical, Pequenas Empresas e Grandes Negócios da Globo, chamado PEGN.TEC. Solicitei a conexão com ela por aqui mesmo - LinkedIn- num domingo cedo, enquanto assistia sua matéria. E, desde a primeira conversa pessoalmente, ao lhe dar a visiblidade sobre a criação de um ecossistema e impacto social que geraríamos, ela comprou a ideia no ato e confirmou sua participação. Hoje essa profissional se tornou uma amiga e escreve a obra DISRUPTalks comigo, seu nome: Juliana Munaro. (@Juliana Munaro).
Outra pessoa que convidei foi uma professora (também brilhante) que encantava muita gente com os artigos que escrevia (como ninguém) no LinkedIn. Por isso, havia sido premiada pela plataforma de rede social profissional como Top Voicer em 2016. Li alguns de seus artigos, fiz um contato, conversamos rapidamente e inicialmente ela topou participar. Depois devido a uma necessidade que tivemos de mudança de datas, a professora não pôde participar pois na nova data do nosso evento, ela teria atividades do Doutorado que fazia. Mas fiquei com seu contato e acreditava que um dia faríamos algo juntos. Aqui estamos, seu nome: Flavia Gamonar (@Flavia Gamonar)
Além disso, como eu e Ricardo estávamos em vias de publicar nosso livro, ao conhecer a história da fundadora da Editora Reflexão, não tive dúvidas de que ali estava uma empreendedora com espírito de startup que poderia, também, abrilhantar nosso evento e a convidei: Caroline Dias (@Caroline Diaz)
Desde o princípio do planejamento, sempre tratava o Vale Digital não como um projeto, mas como um programa. Afinal, projeto é algo que tem início, meio e fim. Ao passo que programa é alto contínuo, que não termina. Era isso que buscávamos pro nosso ecossistema: continuidade.
Assim, além do StartVR já planejávamos outros eventos para nosso ecossistema e, um deles, seria o Startup Weekend. Fiz uma solcitação formal no site da empresa mantenedora deste evento (a Techstars) e após uma ou duas conferências dois nomes próximos a mim foram sugeridos. Fiz contato com as duas pessoas. Uma delas, uma moça super simpática que possuía uma empresa de acessoria de imprensa chamada Tagarela foi até meu encontro para falarmos do Startup Weekend em Volta Redonda. Porém, ao conhecê-la pessoalmente, não tive dúvidas: a convidei para palestrar no StartVR e depois trataríamos do Startup Weekend num segundo momento. Ela também topou no momento sem tibubear. Seu nome: Monique Fernandes. (@Monique Fernandes)
Muitos jovens (meus ex-alunos ou alguns funcionários que trabalham com o Ricardo Abreu na Accenture) sugeriram um nome também muito relevante: Marcus Mendes – um brilhante publicitário/youtuber que ficou famoso pelo seu podcast diário chamado Loop Matinal. Dividimos para conquistar e Ricardo ficou com a tarefa de “recrutar” o Marcus para o StartVR. E, assim o fez, não com o uso do LinkedIn mas através do Twitter.
Seguindo nossa jornada para concluir uma programação de peso pro nosso vento, um dia, convidei o diretor de Pesquisa & Desenvolvimento da TV Globo para um almoço no Rio e lhe contei tudo o que estávamos fazendo em relação ao Vale Digital. Foi aí que ele me contou que em seu time, havia um cara brilhante – que trabalhara, entre outras coisas, na área de animação gráfica da TV com o globolinha, a mesa tática, o campo virtual e que, este profissional era da região de Volta Redonda, mas precisamente de Pinheiral. Pedi para que ele me apresentasse a esse jovem e, desta forma, meu amigo Paulo Henrique Castro, me apresentou o Wesclei Barbosa, que participou e encantou muitas pessoas no StartVR.
Quando relato o que foi o StartVR, neste contexto, fica difícil de mencionar todos os nomes, mas o mais importante quando se pensa em construir um ecossitema é também entender se já existe algo na região, e, no caso do Sul Fluminense, existia um movimento chamado RioSul Valley que, entre outras pessoas, era liderado pelo jovem Kaio Freitas. Fui atrás dele e desde a primeira conversa, logo no início dos planejamentos, o convidei para participar da organização de um painel conosco.
Conseguimos finalmente unir o terceiro pilar (o setor privado) quando fomos atrás dos palestrantes (em sua maioria vindos do setor privado para defender suas empresas) e quando definimos os patrocinadores do evento. Faltava apenas o quarto e último, porém o mais importante pilar de um ecossistema inclusivo: a sociedade.
Após um plano de comunicação bastante consistente, conseguimos ter a inscrição de 61 startups que, participaram de algumas rodadas (ou prévias) onde foram sendo avaliadas e, as mais aptas iam sobrevivendo. Assim, as 61 se transformaram em 30 startups numa segunda etapa, depois 20 e, durante o StartVR, as 8 finalistas apresentaram seu pitch.
Mas além das startups, conseguimos mobilizar cerca de 500 pessoas num final de semana frio e nublado em Volta Redonda. Também havíamos planejado a transmissão de todo o evento ao vivo pelo YouTube e tivemos uma audiência de outras 1.000 pessoas que acompanharam tudo o que aconteceu nos dias 29 e 30 de abril de 2017 no primeiro evento do Vale Digital.
Hoje, o Vale Digital é uma realidade, startups de qualidade foram premiadas, o StartVR, abriu o caminho para outros eventos: Startup Weekend, Hackathons, Demo Days. E não apenas os eventos, mas projetos e ações que desburocratizam a abertura de empresas, a obtenção de alvarás e a criação de incubadoras, aceleradoas e um parque tecnologico na região foi estabelecido.
Sobretudo, os quatro pilares: poder público, setor privado, instituições acadêmicas e sociedade, seguem unidos em prol do fomento do empreendedorismo, da atitude transformadora e do protagonismo para a comunidade do Sul Fluminense.
A grande lição que tiro de tudo isso é que, ao fazer algo, 100% pelo propósito de gerar impacto para a sociedade, sem pensar em um centavo ou qualquer recompensa financeira em benefício próprio, fui premiado por Deus por uma corrente do bem que cresceu de forma não apenas quantitativa, mas altamente qualitativa e, que me trouxe uma série de novos amigos de verdade e, claro, gerou inúmeros convites para novos projetos, como o do DISRUPTalks.
Fazer algo pelo propósito não tem preço! E a recompensa pode ser ainda maior do que você pode imaginar. Além de todo esse trabalho que fiz, junto com inúmeros amigos, de forma voluntária, surgiu uma oportunidade de convergir estes esforços quando recebi o convite da Microsoft, para me tornar evangelista e liderar as comunidades de profssionais mais valiosos da empresa no Brasil, os MVPs (most valuable professionals). #valedigital #atitudeinfinita #startvr
“O maior naufrágio é não partir.”
( Amyr Klink, navegador brasileiro)
CIO | IT Executive | Transformation | Change Management | Strategy | Advisor | Angel Investor
7 aParabéns pela iniciativa e obrigada por compartilhar conosco!
Dados | Social Media | Marketing
7 aNada como a corrente do bem, Glauter Jannuzzi! Fazer o bem sem olhar a quem é fantástico. Parabéns.
Service Designer @Ericsson | Digital Transformation Strategist | TEDx Speaker | ForbesBLK Community | Mentora do programa Da Intuição à InovAÇÃO
7 aAlexandre Caruso gratidão pela corrente do bem!