A Costa Rica é um wake-up call para o Brasil e todas as Américas.
IMAGEM: Silvia Rojas Soto , presidente ALAMOS Costa Rica, Diogo Seixas presidente ABRAVEI Brasil, Steph Larsen Partnership Project EUA, e Juan Esteban Martínez Ruiz - Consultant / Advisor Mobility Transport Zero emission ACOMOVES Colombia.
Através da Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores a ABRAVEI, em colaboração com a Asociación Latinoamericana de Movilidad Sostenible a ALAMOS e a Asociación Costarricense de Movilidad Eléctrica a ASOMOVE, com o apoio da Norsk Elbilforening e da Climateworks, pude participar do Congresso Latino-Americano de Mobilidade Elétrica de 2024 na Costa Rica. Sim, somos muitos e cada vez mais organizados.
Foi incrível! A surpresa não foi pelo absoluto e inegável sucesso da Costa Rica na jornada da eletromobilidade, atingindo impressionantes 22% de vendas de veículos zero-emissão, mas sim pelo atraso que observo ao retornar ao Brasil.
Com uma breve escala em Bogotá, na Colômbia, pude contar na pista do Aeroporto Internacional El Dorado nada menos que 23 veículos 100% elétricos, desde picapes elétricas até caminhões de serviço de catering, manutenção e tração dos carrinhos de bagagem. Dentro ou fora do aeroporto de El Dorado, o case colombiano é assunto na Bloomberg, New York Times e Estadão. Antes território das valentes Toyota Hilux, hoje, na falta de produto equivalente da montadora, cederam quase que totalmente seu lugar aos produtos de zero-emissão.
A história se repete ao aterrissar em San José, na Costa Rica, mas desta vez o impacto vai bastante além da pista. Dos ônibus da agência de aluguel de carros Sixt a uma expressiva porcentagem dos carros de aplicativo, todos exibem com evidente orgulho placas verdes, um aceno visual que rapidamente comunica: “somos elétricos”. Aqui no Brasil, placas verdes são de uso exclusivo das montadoras, a permissão para realização de testes de veículos não-lançados em vias públicas, uma pena.
Também ao longo da semana passada, testemunhei o sucesso da Costa Rica em reflorestar seu país. Presenciei ao vivo a atenção, o carinho e a competência com que o país lida com o turismo ecológico, e enxerguei em um país pequeno a grandeza de seu esforço em busca de uma mobilidade mais sustentável, tanto ecologicamente quanto economicamente. O motorista de Uber, imigrante da Venezuela, optou por um BYD Yuan Plus e, com um espanhol um tanto diferente, orgulhosamente diz que “com a economia de combustível, pago o carro em dois anos”. A história se repete a caminho do aeroporto, desta vez em um Chery cujo modelo confesso até desconhecer.
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A oferta de veículos elétricos é ampla e, com uma matriz elétrica tão renovável quanto a brasileira, os costarriquenhos parecem viver um sonho, e o silêncio das ruas em alguns momentos já é notado. Tudo isso se tornou possível graças ao protagonismo da ASOMOVE e também por não compartilharem dos lobbies contrários (no plural) aos veículos elétricos que tanto sofremos no Brasil.
No início pensei ser brincadeira, mas como por lá acenam, na Costa Rica é “Pura vida!”, mesmo!
A agenda foi plena. Do melhor da política pública norueguesa ao protagonismo da ASOMOVE e ALAMOS.
De volta à terra do pau-brasil, da cana de açúcar e da soja, resta apenas observar no aeroporto de Guarulhos uma frota de "veículos de rampa" ainda movida a diesel e exalando seu característico odor.
Concluo apenas que a Costa Rica parece estar cada dia mais distante dos tempos da United Fruit Company, exportando agora não mais bananas, mas sim uma economia consolidada com raízes na ecologia é um modelo a ser seguido e admirado. Com uma democracia cada vez mais sólida e uma sociedade mais próspera e livre para consumir energia barata e renovável, é um um caso de absoluto sucesso.
Quanto ao Brasil, talvez não exportemos tantas bananas como outrora a Costa Rica, mas por onde ando, tudo que ainda vejo é cana, soja avançando em nossos biomas e veículos que são praticamente obrigados a se locomover com a caríssima energia da monocultura, seja a gasolina com etanol ou o diesel que agora absorve água devida a mescla com óleo de soja.
Por aqui, parece que a atenção termina nas emissões de CO2. Aldeídos, NOx e outros poluentes e particulados presentes em lamentável abundância no ar de nossas cidades, passam absolutamente batido aos olhos de todos os nossos governos. Temos que refletir sobre o uso das nossas terras e sobre a predisposição do brasileiro em continuar pagando 5x mais pelo seu deslocamento. Quando a alteração do clima inviabilizar a atual escala da nossa agricultura, a prerrogativa dos empregos não fará mais qualquer sentido.
Deixo um grande salve para esses maravilhosos protagonistas e irmãos costarriquenhos e latino-americanos da ASOMOVE e ALAMOS. Sem vocês, não teríamos um maravilhoso exemplo do que é verdadeiramente possível.
Clemente Gauer, diretamente da terra do Combustível do Futuro 😵, do carro micro-híbrido 🫣 e também do cientista influencer que passa pano para o petróleo e monocultura 🤯.
Global Roaming Manager
3 mA Costa Rica é o exemplo a seguir.
Especialista em Veiculos Eletricos e Recarga
3 mExcelente texto e conteudo Clemente!