A Covid-19 e as aulas do 3.º período
A Covid-19 está a obrigar as sociedades a mudar! O impacto financeiro vai ser enorme e é necessário arranjar estratégias para a área da educação.
Nesse contexto, em Portugal, o Ministério da Educação e a RTP estão a analisar várias soluções com o objectivo de tornar realidade o terceiro período lectivo. Uma dessas soluções passa por avançar com a “Telescola” de modo a chegar aos alunos que não têm Internet. https://www.jn.pt/nacional/ministro-diz-que-ainda-nao-ha-data-para-inicio-da-telescola-12031586.html
E foi precisamente isso que ontem o Jornal de Notícias e outros meios de comunicação como o jornal Público, o Expresso ou a SIC Notícias avançaram: Nova telescola vai avançar para alunos até ao 9.º ano. https://expresso.pt/sociedade/2020-04-04-Para-que-serve-e-como-vai-funcionar-a-telescola--As-explicacoes-de-Tiago-Brandao-Rodrigues
Trata-se de uma parceria entre o Governo e a RTP “depois de as aulas presenciais terem sido suspensas face à pandemia de Covid-19.” Pode ler-se no artigo do JN. https://www.jn.pt/nacional/telescola-avanca-na-rtp-para-alunos-ate-ao-9-ano-12030543.html
De acordo com os especialistas da rede Eurydice – uma rede de peritos que reúne informações sobre educação na Europa -, num relatório divulgado esta semana, “a generalidade dos alunos do continente europeu não deverá voltar às escolas até ao final deste ano lectivo.”, pode ler-se em https://www.publico.pt/2020/04/04/sociedade/noticia/nova-telescola-avanca-arranque-3-periodo-alunos-ate-9-ano-1910920.
Eu fui aluna da “Telescola” em meados dos anos 80 do século passado e tive uma professora para a área das humanidades e outra para a das ciências e artes. A época era outra e os manuais também!
Breve história da Telescola: a Telescola esteve no ar entre Outubro de 1965 e 1987. Destinava-se aos alunos do 5.º e 6.º anos (2.º ciclo), muitos deles que de outra forma não teriam tido a hipótese de completar este nível de escolaridade.
As aulas eram transmitidas no canal RTP 2, nos dias úteis das 14h00 às 19h00. Os alunos acompanhavam estas aulas nas escolas primárias (como foi o meu caso), salões paroquiais, das autarquias e das associações.
Tratava-se de emissões em directo, com a duração aproximada de 15 a 20 minutos, em que o restante tempo de cada aula era complementado por monitores presenciais que tinham a função de esclarecer os alunos e ajudar na conclusão dos trabalhos.
Os manuais eram sebentas a preto e branco e eram iguais para todo o país. https://ensina.rtp.pt/artigo/telescola-aprender-pela-televisao/
A Telescola foi, em Portugal, o primeiro ensaio para o Ensino a Distância (EaD).
De volta à actualidade: esta “Telescola”, cuja parceria está a ser realizada entre o Governo e a RTP, terá outro nome e um formato diferente daquele que se conheceu a partir de 1965 e os conteúdos disponibilizados na televisão vão ser apresentados pelo Ministério da Educação como complemento ao acompanhamento que os professores irão continuar a fazer à distância, sendo da responsabilidade do ministério.
À primeira vista, esta medida parece uma boa solução para que todos os alunos dos 1.º, 2.º e 3.º ciclos possam vir a ter aulas no 3.º período, incluindo aqueles que não têm Internet e que, a meu ver, ainda são bastantes.
No entanto, é preciso analisar alguns aspectos à luz da realidade que conheço e acompanho (dou explicações a alunos desde o primeiro ciclo, tendo alunos de várias escolas distintas em que cada uma adoptou um manual diferente para um mesmo ano escolar):
1. Existe uma grande variedade de manuais cujos conteúdos estão distribuídos de maneira diferente e cada escola optou por um;
2. Atendendo à flexibilidade curricular, os temas e conceitos que ainda falta trabalhar nesta altura do ano lectivo não são os mesmos em todas as escolas e mesmo dentro da própria escola;
3. Estamos a falar de 9 anos de ensino. Quantos canais de televisão em circuito aberto serão necessários para que não haja sobreposição de programação para as famílias com mais do que um filho?
4. Outra questão ainda: actualmente muitos pais não têm a possibilidade de estar no tão falado tele-trabalho, tendo de deixar os seus filhos com os avós ou sozinhos em casa. Estes alunos vão assistir às aulas? Como é que tal situação vai ser controlada e por quem?
5. De acordo com as notícias divulgadas, as aulas destinam-se apenas aos alunos do 1.º ao 3.º ciclo. Muito bem. Então e os alunos do secundário? Sobretudo, os do 11.º e 12.º anos que têm exames nacionais agendados para a segunda metade de Junho?
Neste momento são muitas as questões que se levantam. E à parte das notícias que surgiram este fim-de-semana, importa referir ainda que, independentemente das soluções em estudo por parte do Governo, muitas escolas do país já estão a desenvolver esforços para que nenhum dos seus alunos deixe de ter aulas no 3.º período, tendo feito até um levantamento de todos aqueles que não têm Internet e/ou computador em casa.
Para concluir, a nova “Telescola” pode vir a tornar-se num bom modelo de ensino a implementar num futuro muito próximo, mas há vários aspectos que deverão ser tidos em conta.
Por: Sílvia Nogueira, Formadora e Tradutora
Técnica Especialista de Auditoria a Sistemas de Gestão
4 aSílvia, Tal como tu também frequentei a "Tele Escola", que tinha pronúncia do Norte!... Recordaste? Transportaste-me para alguns bons momentos que passei. Mas naquela altura, creio, seria realmente mais fácil dar e receber as matérias abordadas, dado que o País inteiro estava sincronizado com as temáticas da televisão, mas também quem andava no chamado Ciclo (5º e 6º Ano) o estava. Hoje em dia, conforme referiste, não é bem assim. As escolas optam por livros de diferentes autores, com os conteúdos alinhados de formas diversas, o que causa agora mesmo, momento em que, já está a decorrer as aulas na #RPTMemória , problemas de distracção e desinteresse porque "...há já dei esta matéria à bué"... Vamos ter Esperança e apelar à Paciência e Sapiência dos Professores que os acompanham e continuam a acompanhar via online porque #VamosTodosFicarBem .
Consultora de Marketing Digital | Gestora de Cliente
4 aSílvia Nogueira parabéns! Excelente texto. 👏👏