Crônica - Vem comigo, Goulart – Por Adriano Villa
É engraçado como algumas pessoas se tornam parte de nossas vidas de maneiras diferentes. Lembro de sair correndo da escola para assistir ao final do programa da Xuxa, um dos últimos desenhos era Caverna do Dragão, o qual curtia demais e ainda, tinha um caso de amor e ódio com aquela Une que só complicava a vida dos garotos. Nesta época mesma época, gostava de brincar de Ultraman e Spectreman, não curtia muito o Ultraseven justamente pela imagem do canal ser péssima.
Lembro também da época que estudava no período da tarde e chegava em casa quase anoitecendo. Subia as escadas correndo e sem olhar para a laje. Sempre imaginei que a Cuca poderia estar ali esperando para me pegar. Sério! Eu tinha medo da Cuca, e não era essa nova toda formosinha não. A Cuca do meu tempo era uma mistura de Goldar (Vingadores do Espaço) com o Aligátor (aquele filme no qual o jacaré vai parar nos esgotos e cresce por mais da conta, um clássico).
Lembro também da minha adolescência, do despertar sexual. As corridas já não eram atrás de uma bola ou de um desenho, a corrida era atrás de outra coisa e, antes que pense maldade, naquele tempo as coisas ficavam apenas nos beijinhos mesmo, aliás, às vezes não era nem nos beijos, era apenas relar as mãos ou coisa parecida. No meu tempo havia uma inocência extinta, mas isso não quer dizer que não haviam desejos.
No meu tempo, quando o garoto demorava muito no banheiro, era por que não estava fazendo boa coisa. Naquela época, alguns olhavam para as mãos para certificar que não estava nascendo pelos, outros eram julgados e condenados sem ao menos poderem se defender, era o caso dos garotos que tinham muitas espinhas. Queria saber quem foi que inventou esse mito que masturbação causa espinhas, pelos e ainda faz crescer os mamilos. Alguém saberia me responder?
No meu tempo não havia internet, ou seja, pornografia era algo raro, só nas bancas de jornais ou nas revistas que eram rasgadas pelas mães que pegavam os filhos no flagrante, a maioria parava na rua e, vira e mexe, você podia se deparar com alguma página que garantia horas de alegria para adolescentes que fantasiavam a respeito do sexo oposto. Mas, naquele tempo, haviam outras saídas para isso também.
Nas sextas-feiras era dia de dizer para os pais que iriamos assistir algum filme bacana que passaria depois da meia-noite. Assim que ouvíamos os roncos no quarto, mudávamos para o canal 13 e nos deliciávamos com a sexta sexy, não aparecia muita coisa, nada tão explicito quanto um baile funk, mas, naquela época, era o melhor que tínhamos ao alcance de nossas imaginações. Nem sempre dava para ver alguma coisa, mas a imaginação fazia sua parte durante e depois, mesmo assim, não era o suficiente, os jovens queriam mais.
E, em um belo sábado que não vou lembrar e muito menos pesquisar para colocar a data, estreia O Comando da Madrugada apresentado pelo Goulart de Andrade. Um programa fodástico com muitas informações interessantes. Sério! Tinha matérias fantásticas e interessantes, mas o que todo adolescente esperava era o final do programa quando rolava aqueles strip-teases. No programa do Goulart tudo era mostrado, não havia o pudor dos cineastas da sexta sexy que mais pareciam os autores de Julia. No programa do Goulart, para a alegria dos morcegos tarados, toda nudez era evidenciada.
Goulart de Andrade fez a alegria de muitos adolescentes com esse tipo de bloco em seus programas, porém, sua genialidade não se limita apenas a tal extravagancia. Seus programas eram repletos de matérias incríveis e completamente inovadoras, uma espécie de lado B da informação. Goulart concebeu ao mundo uma nova maneira de fazer notícia, quebrou tabus e reinventou o que muitos achavam já estar estagnado. Infelizmente, esse grande apresentador, jornalista, radialista, diretor de TV, roteirista e por fim, publicitário, faleceu no dia 23 de agosto de 2016 depois de ficar internado com problemas no sistema cardiorrespiratório.
Um artista pioneiro que deixará saudades, não apenas para a sua família de sangue, mas também para todos seus familiares de profissão. Goulart deixou este plano para apresentar outros além de nossa imaginação, para continuar entrevistas, para continuar levando informação e conteúdo independentemente de onde esteja, só espero que não crie nenhum quadro com anjas nuas, algo assim provavelmente lhe daria passe livre para um dos seus maiores jargões: vem comigo, capeta.
(Adriano Villa - 23/08/16)