A credibilidade da imprensa e a comunicação pós-Covid
O Brasil bateu a triste marca de 50 mil mortes por Covid-19 neste sábado (20) e a notícia mereceu a participação especial do editor do Jornal Nacional, William Bonner, e de sua parceira de bancada, Renata Vasconcellos. Fato inédito num sábado, quando a dupla normalmente está de folga e o jornal é apresentado por plantonistas. O JN tem marcado posição na cobertura do novo coronavírus, assim como no comportamento avesso e negacionista do presidente Jair Bolsonaro com relação ao vírus. Hoje também O Estado de S. Paulo dedicou toda a sua capa às 50 mil mortes. Capa que lembra a primeira página de The New York Times no dia 24 de maio ao escrever os nomes das mil vítimas que a Covid fez desde o início da pandemia nos EUA.
O novo coronavírus fez crescer a credibilidade da imprensa, assim como o tempo que população tem destinado à informação. O último Thermomether do Kantar Ibope demonstra esse alto consumo por notícia jornalística. A credibilidade maior é do jornal impresso (37% de confiança), seguida do rádio (32%), TV (31%), website (26%) e social media (17%). Entre 15 e 21 de março, o tempo médio em frente da TV era de 6,35 horas no Brasil; entre 24 e 30 de maio, essa média passou a 7,15 horas.
O crescimento das fake news serviu para dar mais confiabilidade aos veículos de comunicação. Talvez pelo fato de o tema ser saúde, que impacta diretamente na vida das pessoas, a importância da informação fidedigna assumiu papel prioritário de consumo. Os veículos tentam, neste contexto positivo, reconquistar um espaço que foram perdendo rapidamente com o surgimento de outros canais, como o pay tv e o streaming.
Parece até uma contradição, mas diante deste cenário no qual a imprensa assume papel de destaque na sociedade, que há muito não se via, os veículos veem seus anúncios minguarem ainda mais na pandemia. As empresas passaram a direcionar seus reduzidos budgets para outros canais que dialogam com públicos específicos e são menos onerosos. O que conduz a um caminho reverso do investimento na imprensa.
O crossmidia ganha destaque, especialmente com a revalorização do Twitter. Ontem quando o JN foi ao ar, quase que instantaneamente passou a liderar os trending topics do Twitter, pelo ineditismo de Bonner e Renata Vasconcellos no sábado e do longo editorial com que abriram o telejornal.
A Covid-19 traz um ressignificado aos canais de comunicação e eleva a informação de qualidade, pautada na apuração. O que não se sabe ainda é como esse jornalismo de verdade irá se reinventar e voltar a ser rentável como no passado.