Crise!

Crise!

Crise. A que vivemos no Brasil tem como pano de fundo a incompetência técnica e administrativa e a desonestidade política, simplesmente.Todavia, no contexto global, mais amplo, ocorre a morte lenta dos valores neoliberais baseados no dogma do crescimento a todo custo, resultados do Positivismo e do Cartesianismo e reforçados e impostos pela Industrialização. São esses valores que estimulam a luta dos egos - ou dos egoísmos - onde as palavras chave são Ter, Competir (às vezes até com quem nos ajuda e apóia) e Consumir, que criam a chamada "angústia do século". Essa crise global da sociedade capitalista de consumo - não a brasileira, que chega às raias do ridículo - é na verdade um momento crucial, que nos leva a melhorar o nosso poder de decisão. Segundo Jacques de Coulon, é "uma oportunidade de questionamento da nossa escala de valores, ... visando uma profunda mudança dos nossos comportamentos", substituindo a posse, a competição e o consumo pela admiração, pela solidariedade e pelo respeito, pois, segundo Sartre, "o homem não é nada mais do que aquilo que faz a si próprio". Ou, citando Marc-Aurèle, "só ocorre na vida de cada pessoa aquilo que coincide com a sua própria natureza". Reconsiderar valores. Mudar comportamentos. O esforço é grande, pois significa ao mesmo tempo vencer a resistência às mudanças e romper a conformidade com o senso comum, elementos muito reforçados por nossas identidades sociais e pelas representações que recebemos a todo instante dos grupos em que nos inserimos, a começar pela nossa própria família. Mas, com a morte inevitável do neoliberalismo, essas mesmas mudanças se tornam por sua vez inevitáveis e a autoanálise, necessária para a nossa própria sobrevivência na nova sociedade que deve surgir, acabará ocorrendo naturalmente e gerando as mudanças necessárias.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Anibal Oliveira

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos