A CRISE HEGEMÔNICA NO BRASIL, SEUS REFLEXOS E REFLEXÕES

A CRISE HEGEMÔNICA NO BRASIL, SEUS REFLEXOS E REFLEXÕES

Mais notoriamente, desde 2014-2015, o Brasil vem sofrendo com sucessivos escândalos no meio político e empresarial, através de divulgações referentes à indústria da corrupção brasileira onde os números de desvios nos recursos públicos ou recebimento de propinas para benesses no meio empresarial são valores de cifras bilionárias, talvez até trilionárias.

O Brasil vive hoje uma crise de representatividade ou crise hegemônica alarmante. Melhor dizendo, uma crise de autoridade política em que os grupos dirigentes da política nacional perderam a capacidade de expressar os interesses da sociedade, fato este que tem causado uma separação entre a sociedade e os grupos políticos detentores do poder.

Após um período relativamente pacífico, as classes sociais retornam as lutas de classe. A Era Lula, durante os seus 12-13 anos, seduziu as classes subalternas através das políticas públicas, com a introdução de programas como o bolsa família, o crédito consignado, o MCMV, a valorização do salário mínimo, entre outros, garantindo o consentimento destas classes sociais, e também das direções dos mais variados movimentos sociais através da oferta de cargos no governo federal. Ou seja, o Estado criou uma forma de articulação com essas classes e movimentos para, de certa forma, angariar a hegemonia na política nacional. Obtendo-há por alguns anos.

O problema é que a crise econômica fez com que todo este processo de sedução entrasse em colapso. A crise econômica, por sua vez, exige um conjunto de elementos estruturais da sociedade brasileira, que define o terreno pelo qual a crise política se desenvolve.

Neste encontro entre a crise econômica com a crise política encontramos aquilo que Gramsci chama de Crise Orgânica. Esta crise nada mais é que um momento agudo de transformação da sociedade, de atualização da estrutura e do aparelho político, onde a política deve ser (re) pensada de forma estratégica.

Embora a Era Lula e o PT tenha enaltecido e posto em prática aquilo que Gramsci pensava, como por exemplo, o estímulo a mobilização social com o engajamento das camadas subalternas na luta por emancipação - o papel do intelectual mediador entre a sociedade civil (movimentos sociais) e a sociedade política (o Estado) foi enfraquecido principalmente no governo Dilma, pois esta era uma figura que não dialogava nem com a sociedade civil nem com a sociedade política. Como pode um Chefe de Nação, num país como o Brasil, conduzir um governo sem apoio na bancada e sem diálogo com os organismos sociais e políticos?

Para Gramsci, o intelectual orgânico é aquele que consegue pensar a complexidade da realidade social e política, em suas diversas dimensões, além dele ser fundamental no processo de construção de consciência dos indivíduos.

Para que um líder possa agir politicamente, ele precisa ter condições de enfrentar as situações adversas e conseguir construir alternativas de mudanças. Mas, como fazer isso sem diálogo com a sociedade civil e política?

Como querer começar a agir politicamente como um líder em meio a uma crise sistêmica na economia e na política brasileira? Como querer manter a hegemonia de um governo desacreditado pela população?

Talvez as estratégias usadas para conquistar a hegemonia não foram às mesmas para mantê-las, pois se houvessem estratégias sólidas e se a ideologia do grupo hegemônico fosse seguida a risca, certamente, não haveria rupturas. Talvez o problema do país ou da política brasileira seja justamente este: apenas ter estratégias para chegar ao poder. O depois não é algo tão pensado e tão posto em prática, já que o Capital acaba superando/comprando/assassinando os valores ideológicos da política. Assim é o que vemos neste cenário de decadência política e neste cenário de corrupção onde o imediatismo e a ganância estão acima daquilo que de fato seria a política (aquilo que é público – bem comum).

Segundo Max Weber é preciso saber distinguir o que seria “viver para a política” e “viver da política”. Somente através desta distinção seria possível entender os reais motivos da ação política, bem como o problema da corrupção na organização política. O embate está aí: estamos representados por organizações que vivem da política, sejam esses eleitos pelo povo ou não, já que a classe empresarial não precisa de aval da população para nada.

Aliás, quem senta na cadeira do nosso Presidente do Brasil ou dos Presidentes das nossas Casas do Congresso, nem são aqueles em quem votamos, mas sim, uma gama de empresários que enriquecem através do estímulo a corrupção. Fica até difícil distinguir quem seria o ator-político-social mais corrupto neste país. Afinal, a corrupção é sistêmica.

Se a hegemonia tem como foco dirigir e conquistar alianças, bem como, fornecer uma base social ao Estado proletário, então podemos concluir que estamos vivendo atualmente num cenário de contra-hegemonia tanto na direção política, como na direção moral, cultural e ideológica.

Quem serão os atores revolucionários com habilidades para conduzir uma nova organização social, econômica, política e cultural neste país?

Sem revolução não há política. Porém, antes de tudo, precisamos reformar a nossa consciência.



Priscilla Carvalho

Departamento de Ciências Sociais

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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