Culinária Quilombola: Lutas e desafios
Desde os primórdios, a constituição dos quilombos no Brasil, se deram pelo uso da terra.
O trabalho agrário e solidário, estão intimamente ligadas à manutenção da sua identidade étnica, a partir do reconhecimento da diversidade cultural, que é inerente à própria compreensão do Brasil como um Estado Democrático de Direito.
O imaginário social era que parte dos escravos, ao alcançarem a liberdade, tinham se tornado camponeses, e com uma organização social diferenciada carregavam em seu modo de vida elementos que comprovariam sua descendência dos antigos quilombos.
Assim, o próprio território em que se encontravam teria sido no passado uma réplica do “Quilombo de Palmares”
Mas historicamente não é bem assim, o estado de direito até a constituição de 98 não havia sido reconhecido, e feito esta reparação histórica, o que impossibilita ver uma distribuição mais igualitárias as riquezas do nosso país.
A terra enquanto meio de subsistência, é a grande arma de autonomia dos remanescentes quilombolas, e a comida pode ser um instrumento de visibilidade dessa cultura, isto se configura um grande desafio, uma das mais importantes lutas contemporâneas para os grupos étnicos, ditos minoritários e excluídos.
E é neste espaço sagrado, onde se retira o alimento, e se curam as doenças, o respeito a cultura oral e a importância dos Griôs, é onde se mantém a fé nos fenômenos da natureza e na divinização do Axé, onde podemos encontrar o sentido para o fortalecimento das comunidades quilombolas, que passa necessariamente, pela regulação dos direitos coletivos destas "minorias étnicas", destacam-se os das comunidades negras, remanescentes de quilombos, à propriedade definitiva das terras que estejam ocupando (art.68 das DCT) e ao tombamento de todos os documentos e sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos (art.216, §5º).
O desenvolvimento nacional, baseado na dignidade dos membros desta grande nação, é necessário que a sociedade brasileira se reconheça multicultural e respeite fraternalmente os modos de ser e viver dos grupos minoritários existentes no território nacional. Só assim poderemos construir um país livre, justo e solidário, o verdadeiro progresso humano,
Compreendendo a construção coletiva e solidária das comunidades, seremos capazes de entender a importância do alimento enquanto elo simbólico e gregário, para as comunidades quilombolas.
Podemos falar de uma "Culinária Quilombola?
Temos primeiro que conceituar o que chamamos de culinária, na contemporaneidade, onde os conceitos são banalizados, é necessário compreender como este grupo étnico se conformou.
A cultura é um conjunto de símbolos compartilhado pelos integrantes de determinado grupo social e que lhes permite atribuir sentido ao mundo em que vivem e às suas ações.
A conceituar identificamos que ao longo dos séculos, as comunidades quilombolas foram invisibilidades, e neste contexto muitas das práticas foram se perdendo ou mesmo esgarçadas do tecido indenitário.
Contudo muitas se mantiveram, e hoje, fruto da aproximação e pesquisas muitas destas informações vem a luz, o que possibilita um maior conhecimento deste grupo, abrindo e fortalecendo o diálogo à diversidade cultural brasileira.
Devemos encarar a Culinária Quilombola, como uma forma de resistência à um sistema de invisibilidade, que mantém este e outros grupo étnicos, a margem das benesses do estado brasileiro.
A Cultura Culinária Quilombola, tem muito a nos apresentar, ela está viva e é diversa, e podemos ver isso de muitas maneiras.
Ela está associada a condição, de como o grupo se relacionam com a terra produtiva, seus ingredientes simbólicos e identitários, como também suas técnicas culinárias e os próprios utensílios, na luta pela preservação cultural em oposição às formas não democráticas de socialização do alimento.
As práticas tradicionais da culinária quilombola respondem a uma das maiores necessidades humanas contemporâneas, frontalmente contrária aos apelos mercadológicos e midiáticos da alimentação moderna: a da alimentação diversa, saudável, de produção ecologicamente correta e que mantém o respeito à biodiversidade.
Como diria o filósofo Sri Ram "A evolução nada mais é, que a depuração do gosto", e essa cultura culinária evoluiu ao longo da história dos povos, como devem evoluir a relação libertária com a terra e com o semelhante.
chef Alicio Charoth 04.05.2016