Cultura de doação e a potência da mobilização popular
Por Beatriz Bouskela do Instituto Arredondar e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação (MCD).
Você sabia que o Cristo Redentor, monumento mais querido do Brasil e uma das sete maravilhas do mundo moderno, foi construído por meio de doações coletivas? Para mim, isso foi uma surpresa quando comecei a me envolver com financiamento coletivo, em 2013.
Em uma campanha iniciada em 1923, milhares de pessoas do Rio de Janeiro e de outras regiões do Brasil contribuíram com diferentes montantes para concretizar essa grande obra. Não sabemos ao certo o propósito individual de cada apoiador. Fé? Reconhecimento público? Confiança nos mobilizadores? Vontade de participar de algo grandioso? Provavelmente uma mistura disso tudo.
Um aspecto interessante desse processo foi o papel da imprensa da época, com a participação de grandes jornais incentivando a adesão da população (hoje é a diretriz 2 do MCD: promover narrativas engajadoras). Embora não haja depoimentos diretos, é bastante provável que, na inauguração do monumento, tanto aqueles que doaram 10 réis quanto os que doaram milhares tenham sentido orgulho e emoção ao se verem representados nesse importante marco nacional.
Desde então, nunca mais enxerguei o Cristo Redentor da mesma forma. Agora, vejo-o não apenas como um dos maiores símbolos do imaginário brasileiro e da religião católica, mas também como um ícone da mobilização de uma multidão de pessoas.
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Ao longo dos anos, testemunhei o impacto do financiamento coletivo em projetos diversos, desde iniciativas culturais até campanhas de ativismo e o fortalecimento institucional de organizações da sociedade civil. Exemplos marcantes que incluem as 108 pessoas que apoiaram Rayssa Leal, em 2014, a se tornar a 'próxima fera do esporte nacional', os mais de 1.700 doadores que se mobilizaram para criar um fundo emergencial em apoio a Brumadinho, e os mais de 70 milhões de arredondamentos arrecadados pelo Arredondar e seus parceiros, que destinam recursos livres para o fortalecimento de dezenas de organizações que atuam em áreas como cultura, segurança alimentar, educação, reflorestamento, proteção animal e defesa de diversos direitos.
Compartilhar recursos para suprir necessidades não é uma ideia nova; na verdade, é uma das práticas mais antigas da humanidade. No entanto, com os avanços tecnológicos, essa prática ganhou novas formas e dimensões. Hoje, é possível contribuir enquanto participa de uma conversa no grupo da família no WhatsApp, enquanto desliza pelo feed do Instagram, ou até durante uma compra no supermercado mais próximo.
Quando alguém arredonda o valor de sua compra, por exemplo, não sabemos quem é o doador, onde mora, em quem votou nas eleições municipais. Sabemos apenas que, naquele breve momento, essa pessoa se abriu para confiar e se unir a outros indivíduos, que também não conhece para fazer a diferença.
A artista Amanda Palmer, que bateu recordes de financiamento coletivo, traz uma visão bastante interessante em seu livro "A arte de Pedir" (e também em sua palestra no TED): a conexão humana e vulnerabilidade que se cria no ato de pedir apoio. Para Palmer, quando convidamos alguém para doar, estamos na realidade criando novos vínculos e oferecendo a possibilidade para que esta pessoa participe e faça parte de algo maior.
E é por isso que esse tipo de mobilização vai muito além do valor arrecadado. Doar torna-se uma oportunidade de manifestação e de construção coletiva, de exercício da cidadania e de fortalecimento da democracia. Uma maneira de transcender barreiras geográficas e sociais, se unir a outras pessoas e criar novas realidades. Em tempos de polarização e desconexão social, um gesto revolucionário!
Latam Director at Synergos
2 mGente, que demais saber da história do Cristo e conhecer melhor o que tem feito o arredondar. Obrigada pelo artigo! Amei.
Comunicadora no Movimento Arredondar | Social Media | MKT
2 mIncrível 💜
Empowering individuals and organizations to achieve greatness
2 mIncrível como a mobilização coletiva tem o poder de transformar ideias grandiosas em realidade! Inspirador ver que a força das pequenas contribuições é capaz de construir ícones e impactar tantas vidas. 👏
Doadora e ativista por uma filantropia com práticas coerentes com a transformação desejada. Responsável pela Proximate Brasil. Cofundadora Movimento por uma Cultura de Doação. Cofundadora Philó Práticas Filantrópicas.
2 mEu não sabia sobre o Cristo e adorei saber, Bia! Sou fã de carteirinha do arredondar e de toda doação individual. Uma doação que vem da alma, que tem a intenção verdadeira de apoiar uma organização ou uma pessoa e passa sim a fazer parte daquela história, daquele momento de apoio mútuo. É um doar que exercita nossa coletividade e nossa humanidade, uma musculatura que foi se afrouxando conforme o mundo foi valorizando exacerbadamente o individualismo. 🙂
Equity Research at J.P. Morgan
2 m👏👏