A Cultura Planetária e o "Todo Indivisível" (do livro "A Quinta Disciplina", de Peter Senge).

Eis aqui um relato que ilustra, a meu ver, o estado-da-arte do pensamento holístico, global, planetário...sistêmico.

Quem de nós nunca desejou ser astronauta?

Pois bem, o texto que trago aqui é o  relato do astronauta Rusty Scheickart que, certa vez, fora convidado a proferir uma palestra sobre "Cultura Planetária" em Long Island- EUA, no idos de 1974.

A ideia era que ele compartilhasse a sua experiência "lá em cima". Aparentemente simples. Ok?!

Não!! Essa tarefa custou a ele cinco anos para ser verbalizada em toda a sua essência. Até ele perceber que ele não deveria contar a sua história, mas a NOSSA história! Sugiro a você tentar se colocar no lugar desse afortunado, e se deixar levar nessa estonteante experiência. Com os meus grifos eu procuro destacar ainda mais os pontos-chave, os momentos críticos da transformação pela qual esse homem passou. E que, creio eu, podem ser exercitadas em nosso modo de viver pessoal e profissional. Finalmente, gostaria de convidar você, meu caro amigo, a comentar esses trechos e, obviamente, recomendar a leitura desse livro em sua íntegra.

Boa Leitura!

Disse ele: " Lá em cima, você dá uma volta a cada hora e meia, seguidamente, hora após hora (...). Dependendo da direção e da trajetória que sua órbita segue, você acorda sobre o Oriente-Médio ou sobre a África do Norte, o Sinai(...). E percebe, em uma rápida olhada, que está diante do que foi toda a história do homem durante anos - o berço da civilização. E pensa em toda a história que puder imaginar  olhando essa cena.

E então você dá a volta, descendo e cruzando a África do Norte, e passa pelo Oceano Índico, e olha para aquele grande subcontinente que é a Índia, apontado para baixo, em sua direção, à medida que passa por ele. E o Ceilão no ponto extremo, Burma, o sudeste da Ásia, passando sobre as Filipinas, e por cima do monstruoso Oceano Pacífico, uma grande porção de água - você nunca percebera antes como ele é grande.  E finalmente você passa pela costa da Califórnia e procura por aquelas coisas amigáveis: Los Angeles e Phoenix, e cruzando El Paso lá está Houston, lá está a minha casa, e olha com a certeza de que lá está o Astrodome. E você se identifica com isso, você conhece - é um vínculo.

E embaixo, ao cruzar Nova Orleans e depois olhar para o sul, está toda a península da Flórida. E todas as centenas de horas que passam voando através dessa rota, lá embaixo, na atmosfera, tudo aquilo é novamente amigável. E cruza o Oceano Atlântico e novamente passa pela África.

E essa identidade - você se identifica com Houston, depois com Los Angeles e Phoenix e Nova Orleans, com tudo. A próxima coisa que reconhece em si mesmo é que você está se identificando com a África do Norte. Olha na direção dela e prevê sua chegada. E lá está. Todo aquele processo começa a mudar aquilo com o que você se identifica.  Ao girar em torno dela em uma hora e meia, começa a reconhecer que sua identidade é com aquilo tudo. E isso provoca uma mudança.

Você olha lá para baixo e não pode imaginar quantas margens e fronteiras cruzou repetidas vezes. E você nem mesmo as vê. Naquela cena em que acordávamos - no Oriente Médio - você sabe que existem centenas de pessoas matando umas às outras, sobre uma linha imaginária que você não pode ver. E você gostaria de poder pegar pelas mãos de cada lado e dizer: "Olhe-a dessa perspectiva. Ohe para ela. O que é importante?"

E assim, um pouco mais tarde, seu amigo, novamente aqueles mesmos vizinhos, a pessoa próxima a você, vai para a Lua. E agora ele olha para trás e vê a Terra não como algo grande onde ele pode ver os maravilhosos detalhes, mas ele vê a Terra como uma coisinha lá fora. E agora aquele contraste entre o azul brilhante e o efeito branco da árvore de Natal e aquele céu negro, aquele universo infinito, realmente torna-se realidade.

O tamanho dela, o significado dela - ela se torna as duas coisas, torna-se tão pequena e tão frágil, e um precioso pontinho no universo, que você pode bloquear com o seu polegar, ele percebe que, naquele ponto, aquela coisinha azul e branca é tudo que significa algo para você. Toda a história e a música, e poesia, e arte, e guerra, e morte, e nascimento, o amor, as lágrimas, a alegria, os jogos, tudo isso está naquele pontinho, que você pode cobrir com o seu polegar.

E percebe que dessa perspectiva...que você está mudando, que existe algo novo naquilo.  Aquele relacionamento não é mais o que era. Então você lembra do momento em que estava lá fora, na atividade extraveicular, e aqueles poucos instantes em que você teve tempo, porque a câmara deu defeito, e que você teve tempo para pensar no que estava acontecendo. E se lembra de ter ficado lá, admirando o espetáculo que acontecia diante de seus olhos. Porque agora você não está mais dentro de algo com uma janela olhando para o quadro lá fora, mas está lá fora e o que tem em volta da sua cabeça é um aquário, e não há fronteiras. Não existem estruturas, não existem limites."

 

Texto retirado do Livro "A Quinta Disciplina", Ed.2. Autor: Peter Senge. Ed. Best-Seller, (Pág. 482-483).

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