CUSTEIO ABC: POR QUE É POUCO UTILIZADO?
A metodologia de tratamento de gastos denominada ABC (Activity Based Costing ou Custeio Baseado nas Atividades), tem sua origem atribuída a algumas grandes empresas americanas durante os anos 50, mas ganhou notoriedade nos anos 90, pela ação dos professores Robert Kaplan (também considerado um dos pais do Balanced Scorecard-BSC) e Robin Cooper.
Sua motivação veio da constatação de que os métodos de custeio usualmente adotados pelas empresas, RKW e Custeio Direto, não tratavam satisfatoriamente parcela significativa dos desembolsos financeiros realizados pelas empresas, os gastos indiretos operacionais (de produção, comercialização e logísticos) e as despesas (comerciais, administrativas e financeiras), levando assim as organizações a utilização ineficiente de recursos e a apresentar incorreções nos processos de precificação e mensuração de resultados.
Apesar de seus benefícios, na prática, há ainda um pequeno número de organizações que se utiliza desta técnica. Muitas, inclusive, até iniciaram sua experimentação, mas não conseguiram dar continuidade aos trabalhos, como foi o caso do sistema desenvolvido para o Banco Central do Brasil, que até ganhou prêmios nacionais e internacionais pela inovação, mas não sobreviveu a falta de interesse pela gestão dos gastos do governo que sucedeu ao de sua implantação.
Dentre as alegações para sua não adoção ou descontinuidade, destaca-se a necessidade de se estabelecer controles formais e recorrentes sobre recursos e atividades que, independentes de sua relevância, são tratados de forma simplificada e abrangente pelas empresas. Parece e é contraditório, o maior benefício que o ABC Costing apresenta, maior gestão sobre os gastos, tem sido o grande argumento para sua não utilização. Será que no fundo, o que se esconde neste argumento nada mais é que a dificuldade de muitos gestores para aceitar maior controle sobre os seus gastos?
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Adicionalmente, gostaria de apresentar um outro potencial motivo para o desinteresse indicado, este pouco tratado e que a maioria dos gestores e mercado reluta em discutir, o “descolamento” do resultado financeiro das empresas de seus processos de “Valuation”. Motivado pela crescente relevância das empresas de Tecnologia/Digital na economia nos últimos 30 anos, e pela dificuldade em estabelecer um adequado valor para estas devido a sua novidade e potencial futuro apresentado, o mercado passou a estabelecer outras métricas para esta função, mais relacionadas às expectativas de aumento de receitas, tirando assim a pressão sobre os resultados e a gestão dos gastos, principais motivadores da implantação do ABC Costing.
Como consultor devotado a área de Controladoria, posso afirmar que, a despeito das dificuldades indicadas para sua implantação, o ABC Costing é uma importante ferramenta para empresas que querem ser mais eficientes na gestão de seus gastos e mais competitivas e rentáveis no seu processo de precificação. Sua utilização, no entanto, requer uma maturidade nos aspectos básicos de controle de custos que a maioria das empresas não apresenta ainda, como por exemplo o uso adequado do custeio direto, ao qual o custeio ABC se soma, não exclui. Respeitada esta regra, e considerando ainda um adequado equilíbrio entre custo-retorno dos controles adicionais a serem criados, tenho certeza que o ABC Costing tem muito a contribuir para a melhoria da performance das organizações.
José Cordeiro - Consultor