Dá para aprender sobre Liderança com Maquiavel?

Dá para aprender sobre Liderança com Maquiavel?

Talvez a obra mais mal interpretada de todos os tempos, O Príncipe, de Maquiavel, não ensina ninguém a ser "Maquiavélico". Não. Ela nos mostra um extenso compilado do que foi observado durante anos por esse grande Estadista. Um guia de estratégias de liderança com o que funcionava para os líderes em seu tempo, a fim de auxiliar seu mais novo líder a ser bem sucedido em seu cargo.

É óbvio que essas anotações retiradas do livro, e que podem soar "evil", não estão aqui levantadas para que as repliquemos, mas, para que possamos enxergar que alguns comportamentos atuais datam de centenas de anos. Em alguns trechos podemos encontrar dicas de como agir rumo a algum sucesso em cargos de liderança, em outros, analisar comportamentos atuais que podem ser considerados abstrações paralelas aos escritos de Maquiavel.


"Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes"

Não deve causar estranheza a ninguém o fato de eu citar longos exemplos, muitas vezes a respeito dos Príncipes e dos Estados, durante a exposição que passo a fazer dos principados absolutamente novos. Os homens trilham quase sempre estradas já percorridas. Um homem prudente deve assim escolher os caminhos já percorridos pelos grandes homens e imitá-los; assim, mesmo que não seja possível seguir fielmente esses caminhos, nem pela imitação alcançar totalmente as virtudes dos grandes, sempre se aproveita alguma coisa. Deve proceder como os seteiros prudentes que, querendo atingir um ponto muito distante, e conhecendo a capacidade do arco, fazem a mira em altura superior à do ponto visado. Não o fazem, evidentemente, para que a flecha atinja tal altura: valem-se da mira elevada apenas para atingir com segurança o alvo designado.

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Profetas armados e Profetas desarmados

Eis a razão por que todos os profetas armados venceram e os desarmados fracassaram. Porque, além do que já se disse, a natureza dos povos é vária, sendo fácil persuadi-los de uma coisa, mas difícil firmá-los na persuasão. Convém, pois, providenciar para que, quando não acreditarem mais, se possa fazê-los crer à força. Moisés, Ciro, Teseu e Rômulo não teriam conseguido fazer observar por muito tempo suas constituições se estivessem desarmados. É o que, nos tempos que correm, aconteceu a frei Girolamo Savonarola, o qual fracassou em sua tentativa de reforma quando o povo começou a não lhe dar crédito. Ele não tinha meios para manter firmes aqueles que haviam acreditado, nem para fazer com que os incrédulos acreditassem. Pessoas nessas condições lutam com grandes dificuldades para conduzir-se, estando no seu caminho todos os perigos que só pela coragem podem ser superados. Vencidas as dificuldades, começam a ser venerados, e, exterminados os que invejavam suas qualidades, tornam-se poderosos, seguros, honrados, felizes.

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Sobre a Opinião Popular

Quem se torna Príncipe mediante o favor do povo deve manter-se seu amigo, o que é muito fácil, uma vez que este deseja apenas não ser oprimido. Mas quem se torna Príncipe contra a opinião popular, por favor dos grandes, deve, antes de mais nada, procurar conquistar o povo. Ser-lhe-á fácil isso, uma vez que se tenha ocupado em protegê-lo. E como os homens, quando recebem benefícios de quem só esperavam mal, se obrigam mais para com o benfeitor, torna-se o povo logo mais seu amigo do que se o Príncipe houvesse sido levado ao poder por favor seu. Isso pode ser conseguido pelo Príncipe de muitas maneiras, das quais não se pode traçar uma regra certa, porque elas variam conforme as circunstâncias.

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Deixá-la-ei de parte, por isso. Concluirei somente que é necessário a um Príncipe que o povo lhe vote amizade; do contrário, fracassará nas adversidades. Nábis, Príncipe dos espartanos, suportou o longo cerco de toda a Grécia e de um exército romano poderosíssimo, e contra eles defendeu a pátria e o Estado. Bastou-lhe apenas, quando o perigo sobreveio, assegurar-se de poucos; não lhe bastaria isso, se o povo fosse seu inimigo. E a quem estiver contra essa minha opinião, baseado naquele velho provérbio que diz que quem se apoia no povo tem alicerces de barro, direi que isso é verdade quando um cidadão acredita que o povo o liberte quando estiver, por acaso, oprimido pelos inimigos ou pelos magistrados. Nesse caso, são frequentes os enganos, como os Gracos em Roma e Messer Giorgio Scali em Florença. Tratando-se, porém, de um Príncipe que saiba comandar e seja homem de coragem, que não se abata nas adversidades, não se esqueça das outras precauções e tenha com seu próprio valor e conduta incutido confiança no povo, jamais será enganado por este e verá que reforçou seus alicerces.


É Melhor ser Amado ou Temido?

Responder-se-á que se desejaria ser uma e outra coisa; mas como é difícil reunir ao mesmo tempo as qualidades que dão aqueles resultados, é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha de falhar em uma das duas. É que os homens geralmente são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ambiciosos de dinheiro, e, enquanto lhes fizeres bem, todos estarão contigo, oferecendo-te sangue, bens, vida, filhos, como disse acima, desde que a necessidade esteja longe de ti. Mas, quando ela se avizinha, voltam-se para outra parte. E o Príncipe, que se confiou plenamente em palavras e não tomou outras precauções, está arruinado. Pois as amizades conquistadas por interesse, e não por grandeza e nobreza de caráter, são compradas, mas não se pode contar com elas no momento necessário. E os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação, o qual, em virtude de serem os homens maus, é rompido sempre que lhe aprouver, ao passo que o temor que se infunde é alimentado pelo receio de castigo, que é um sentimento que não se abandona nunca. Deve, portanto, o Príncipe fazer-se temer de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio, pois é fácil ser ao mesmo tempo temido e não odiado, o que sucederá uma vez que se abstenha de se apoderar dos bens e das mulheres de seus cidadãos e de seus súditos.

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Concluo, pois, que um Príncipe sábio, amando os homens como eles querem e sendo por eles temido como ele quer, deve basear-se sobre o que é seu e não sobre o que é dos outros. Enfim, deve somente procurar evitar ser odiado, como foi dito.

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