Da incerteza à antecipação – O eterno desafio no futuro dos negócios e marcas
Estudar o futuro não é uma actividade onde pontualmente se fazem projecções económicas, análises sociológicas ou previsões de adopção tecnológica, mas sim uma profunda e contínua análise multidisciplinar e multidimensional sobre a mudança, em todas as áreas da vida, para encontrar as dinâmicas que, interactivamente, estão a criar as próximas eras da humanidade.
Trata-se de uma área que investiga com rigor e prática, quer metodológica, quer científica, a abordagem a futuros alternativos, completamente fora do âmbito superficial e meramente especulativo que possa estar associado ao termo "futurismo" num sentido ficcional ou de profecia popular.
Vale a pena recordar as três perspectivas (1981) de Roy Amara, investigador e cientista neste tema e que presidiu ao Institute for the Future:
Importa realçar nestas perspectivas um pormenor essencial: Não havendo um futuro predeterminado, considera-se que podem existir infinitos futuros alternativos potenciais, ou seja, quando se diz “estudar o futuro”, na prática estamos a investigar diferentes cenários (futuros possíveis) e não especificamente “um futuro” único.
Ao transpor toda esta abordagem para uma realidade mais pragmática na vida das empresas, considera-se cada vez mais crítico o ensino da Gestão e a colaboração inerente da Academia, através das suas ferramentas e melhores práticas para estimular competências próprias no plano investigacional, mas sobretudo para criar uma cultura orientada para o futuro de forma continuada, reforçando o papel da função estratégica como pilar crucial para enfrentar caminhos futuros.
Apesar de todas as incertezas e contingências é cada vez mais possível aplicar tecnologia de vanguarda no tratamento destas variáveis com um foco exclusivo no futuro, quer para mitigar riscos económicos, financeiros, materiais e humanos, a exemplo do sector financeiro e segurador, através de avaliações previsionais e cálculos actuariais, quer para antever fenómenos da natureza com base em modelos predictivos altamente complexos, entre outras aplicações.
A investigação sobre o futuro potencia a capacidade dos decisores na assunção de responsabilidades e na tomada de posições estruturais, mas acima de tudo a desenvolver estratégias no momento presente considerando os cenários de imprevisibilidade à sua frente – Como liderar no futuro?
Criar negócios e marcas com futuro – A força do empreendedorismo
A informação analítica da InformaD&B sobre o tecido empresarial suporta dois artigos que constroem uma visão de futuro paradoxal:
Não há qualquer anomalia nos factos noticiados, apenas uma diferente interpretação dos dados, dos quais se destaca um pormenor: O sector dos Transportes é o que mais contribui com novas empresas, numa variação de 122% – Mais de 2.200 novas sociedades constituídas face ao ano anterior:
Mas é também o sector dos Transportes que é apontado como um dos mais susceptíveis à falência em 2023, de acordo com o indicador Risk Failure, que reflete a probabilidade de nos próximos 12 meses uma entidade cessar a sua atividade com dívidas por liquidar:
É também neste sector que os estudos actuariais identificam haver maior vulnerabilidade aos factores de risco de insolvência. A Allianz Trade (Cosec) estima que as insolvências no geral cresçam 20% em Portugal durante 2023.
Já a Crédito y Caución prevê que cheguem aos 30% (efeito doméstico sob influência do quadro geopolítico mundial):
As insolvências baixaram nos últimos 2 anos em grande parte devido aos apoios estatais (moratórias, lay-off, etc.) que mantiveram estes processos em “stand-by” nos activos das empresas, mas em circunstâncias normais de mercado muitos destes negócios não teriam sucesso.
O empreendedorismo não pode significar apenas a criação de novas empresas, que ficam destinadas com elevada probabilidade a uma falência anunciada...
O elemento fundamental neste contexto é a qualidade dos negócios criados e a força das ideias que lhes dão suporte (rigor no modelo de exploração) num sector que, segundo a última análise pelo Banco de Portugal, é constituído em 92% por microempresas.
É legítima a vontade e o desejo de criar uma empresa nos mais variados sectores, e muitas surgem como último recurso pessoal e profissional na vida dos promotores, mas o acesso a ferramentas e metodologias para validar a pertinência e a força da oportunidade dos negócios devem ser recomendadas – É crítico pedir aconselhamento especializado para potenciar empresas com futuro e não apenas “na hora”.
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Os caminhos do empreendedorismo e da gestão de marketing estão mais próximos do que nunca. A mentalidade marketpreneur, individual ou colectiva, é uma realidade que tem um profundo impacto na forma de idealizar estratégias, redesenhar processos ou de liderar iniciativas concretas na abordagem aos diferentes mercados.
O valor da atitude para as mudanças no futuro
Segundo o estudo da Vodafone – “Fit for the future” – que identifica as características essenciais das empresas habilitadas e preparadas para o futuro, há uma enorme dependência de factores relacionados com a atitude mental e comportamental perante a mudança:
Estas conclusões sugerem que a abordagem das empresas ao futuro dos seus negócios tenderá a ser mais competente agregando as hard skills da Gestão convencional às soft skills das equipas e respectivas lideranças.
Tornou-se fundamental cultivar organizações com competências técnicas ajustadas à realidade, mas igualmente dotadas de uma forte atitude mental para enfrentar a imprevisibilidade...
De acordo com Mário Ceitil, docente do ISCTE e reputado especialista em Gestão de Pessoas, os "seres humanos têm, em geral, um medo visceral do desconhecido, razão pela qual a incerteza, a ambiguidade e mesmo a dúvida persistente, podem gerar sentimentos de inquietação, ansiedade e stresse".
Esta característica humana persiste alinhada com a visão estabelecida há mais de 50 anos por Alvin Toffler no seu best-seller "Future Shock", no qual refere que os movimentos constantes de aceleração tecnológica (tal como estamos a viver hoje) provocam fenómenos sociais e comportamentais significativos que deixam as pessoas desorientadas e a sofrer de stresse na base do conceito "too much change in too short period of time" – Basicamente, talvez Toffler tenha antecipado algumas das causas para os temas sobre saúde mental que estão na ordem do dia.
Marketing orientado ao futuro – O fim definitivo da era “spray & pray”
Especificamente na gestão de marketing, onde os esforços e os investimentos devem ser criteriosamente aplicados entre o desenho das estratégias e a performance das acções tácticas para gerarem valor económico e social, é cada vez mais decisivo actuar em contexto previsional e consequentemente gerir recursos e expectativas considerando com rigor os factores temporais – curto, médio e longo-prazo, na dependência de uma visão de futuro.
Sobre este aspecto, vem muito a propósito um dos cartoons de Tom Fishburne (que prefaciou o meu livro “Marketing Mindset”):
“No matter how sophisticated the tools have gotten or how rich the data, I find it funny how much of marketing and sales still rely on blunt force, one-size-fits-all lead generation tactics like these.
This scattershot approach is often described as “spray and pray” — broadcasting generic messages to large groups in hopes that a small percentage will magically convert.
A recent study from The Ehrenberg-Bass Institute for Marketing Science found that 95% of target B2B buyers are not even in the market for products or services in any particular quarter – Yet, according to LinkedIn, 92% of B2B budgets are spent on short-term, bottom-funnel objectives like lead generation and only 8% on long-term brand awareness.
We can’t break through the clutter by adding to it.”
Saber estar à frente no tempo adequado
A esmagadora maioria das empresas focam-se quase exclusivamente no momento presente dos seus negócios, num esforço premente para garantir vendas imediatas face aos seus compromissos tradicionais (accionistas, colaboradores, fornecedores e restantes custos estruturais e legais).
Quanto tempo na vida de uma empresa é dedicado a equacionar o futuro do negócio?
Todas as indústrias sem excepção estão naturalmente preocupadas com o(s) seu(s) futuro(s), mas certamente muito poucas estarão hoje a projectar a sua liderança para os próximos tempos.
Brevemente, uma nova Newsletter aqui no Linkedin irá "percorrer o futuro" como um território estimulante para novas ideias, conceitos e experiências no ambiente humano, social, empresarial e científico, mas sobretudo aprendizagens que sejam potencialmente viáveis e práticas para transformar modelos de negócio e criar marcas orientadas para os desafios da "ordem natural" estabelecida pela imprevisibilidade.
Docente Universitário . Coordenador Pedagógico . Gestor de Projetos . Formador | Diretor newDATAmagazine®️
1 aExcelente reflexão. Pensar e agir com consequência é cada vez mais essencial.
Marketing Director | Professor | Brand consultant | Bringing brands and consumers closer together
1 aExcelente artigo Andre Zeferino. Tantos insights poderosos sobre ler o futuro, e que nos permitem compreender melhor o presente, tal como tão bem recuperas Toffler: (...) os movimentos constantes de aceleração tecnológica (tal como estamos a viver hoje) provocam fenómenos sociais e comportamentais significativos que deixam as pessoas desorientadas e a sofrer de stresse na base do conceito "too much change in too short period of time". Obrigado pela partilha! 🙌
Professor of Marketing at University of Suffolk
1 aGreat statemernts......