Da pedra ao algoritmo: como a inteligência artificial impactará os empregos em finanças empresariais
A palavra “cálculo” deriva do latim “calculus”, que originalmente se referia a um conjunto de pedrinhas usadas para fazer contas. Talvez esse tenha sido um dos primeiros artifícios da humanidade para empreender a quantificação, que ia além dos dedos das mãos. Das pedrinhas ao ábaco, do ábaco à calculadora, da calculadora ao computador, milhares de anos se passaram. Cada uma dessas evoluções trouxe revoluções na forma como agimos, afinal, a matemática é a peça fundamental do desenvolvimento humano.
Nos últimos anos, se não meses, uma nova era começa a se estabelecer, impulsionada pela Inteligência Artificial (IA). O que no início dos anos 2000 era apenas o título de um filme de ficção científica dirigido por Spielberg, hoje está interagindo cada vez mais conosco, geralmente por meio de 3 letras: GPT. De fato, o uso da inteligência artificial já está conosco há muito mais tempo, porém a difusão dela para a sociedade é algo mais recente. Dia após dia, estamos tentando descobrir formas com que essa possa nos ajudar. Tal como a revolução do Google representou para nós em nossas pesquisas no passado, hoje os instrumentos de IA são a chave do futuro para automatizações, análises e predições.
Eu, que sou formado inicialmente em arquitetura, faço uma correlação direta com a evolução dos meios de desenho computacional (por intermédio dos softwares de arquitetura CAD e mais tarde os BIMs). Para desenhar um prédio, era necessário dezenas de arquitetos, engenheiros e projetistas desenhando sobre folhas gigantes, tentando integrar seus desenhos para que o projeto final fosse executado. À medida que a tecnologia foi evoluindo, os computadores foram substituindo o trabalho operacional físico por algo digital. Mas mesmo assim, atrás das telas, era necessária a presença de seres humanos desenhando, compatibilizando, criando. A tecnologia não substituiu o humano, apenas exigiu que ele adotasse novas formas de trabalhar.
O mesmo deve ter acontecido com a passagem das calculadoras para o Excel, mas será que é o mesmo que irá acontecer da passagem deste para a IA? Lembre-se que estamos falando até então da substituição de um trabalho operacional por outro, mas não a substituição de uma inteligência humana por uma artificial. Como é algo relativamente recente, não há uma relação histórica que poderíamos nos inspirar. Não é o caso dos ascensoristas ou mais recentemente dos cobradores de ônibus que paulatinamente estão vendo suas funções sendo substituídas pelo pagamento por NFC (pagamento por aproximação presentes em cartões de crédito/débito, transporte ou celular).
Esse caso não tem precedentes históricos, então tudo que diz respeito a essa questão é algo mais subjuntivo, tentando traçar cenários sobre algo que sequer sabemos como irá se comportar no futuro - mesmo tendo assistido todas as temporadas dos Simpsons, não consigo lembrar algo de concreto sobre o tema que eles poderiam ter previsto.
Sobre esses cenários futuros, creio que a melhor visão será dada por aqueles que hoje estão protagonizando essa corrida: Microsoft (Copilot) e Google (Gemini). Outras companhias como a Meta e o X também têm suas tecnologias, porém no quesito corporativo, acredito que essas tenham maior expertise e já estão com projetos bem desenvolvidos nesse aspecto. A Microsoft pode ainda conseguir maior dominância, uma vez que já está presente na maioria das empresas com sua suíte de aplicativos de escritório Microsoft 365, além é claro, do próprio sistema Windows. Sua abrangência vai desde o visual (por meio de automatizações de design no PowerPoint), passando pela comunicação no Teams, e também já existem versões de teste (Beta) para interação junto ao Excel. Suas principais funções serão de automatização de processos manuais, reduzindo erros e aumentando a eficiência na tomada de decisões, podendo ser aplicada nas análises de risco de crédito, detecção de fraude, gestão de portfólio, atendimento ao cliente e previsão de tendências de mercado.
Recomendados pelo LinkedIn
Com a introdução da IA, tarefas de reconciliação de contas, por exemplo, terão melhores resultados (agilidade e acuracidade) do que quando protagonizadas por um humano, já que atualmente essas atividades demandam muito tempo, o que pode gerar um cansaço mental e consequentemente erros. Entretanto, é importante ressaltar que ser artificial não é sinônimo de ser perfeito, e dessa forma, ter um olhar crítico - humano - ainda será uma necessidade. Portanto, não há motivos para pânico, pelo contrário. A tecnologia irá retirar uma carga de trabalho operacional gigante que hoje existe e deixará o analista finalmente ser um analista. Em outras palavras, ele cumprirá sim a função de analisar o produto do trabalho da IA, que trabalhará na parte operacional; a carga dupla de trabalho operacional e analítico será reduzida a apenas a analítica.
Junto com essa redução de atividade, certamente haverá também a redução de posições de trabalho, já que não haverá necessidade de tantas pessoas - assim como aconteceu com os arquitetos, engenheiros e projetistas alguns parágrafos atrás. Nesse sentido, a automação impulsionada pela IA pode levar à substituição de empregos tradicionais por sistemas automatizados, o que pode agravar a desigualdade econômica se não houver uma transição adequada para novos setores de trabalho. Nesse sentido, empresas e governos precisam criar um plano para que os efeitos colaterais inevitáveis dessa transformação não sejam impactantes para a economia, pois menos empregos geram menos consumo e inicia-se um ciclo de recessão que não é um colateral desejável.
Nesse caminho, novas profissões certamente irão surgir e precisamos estar atentos a como isso evolui e quais caminhos seguir para mantermos a empregabilidade. Se o fato de reduzir trabalhos operacionais é uma realidade, uma ação é empreender por atividades mais analíticas, tais como um analista de IA que avaliará as respostas trazidas pelas máquinas e as classificará dada a sua utilidade. Toda evolução certamente exigirá uma transformação e estamos prestes a vivenciar algo inteiramente novo que mudará o mundo que vivemos mais cedo do que imaginamos. O que precisamos agora é nos preparar para isso, temas que irei abordando ao longo dos próximos artigos.
Referências:
#inteligencia #empregos #AI #Copilot #finanças
Sales Finance Intern | Business Partner | Trade Spend Management
10 mEve, tô impressionado kkkkk parabéns pelo texto super atual e imersivo !!
Coordenadora de RGM | Gestão de Receitas | Trade Marketing | Desenvolvimento de Negócios | Análise de Mercado
10 mMuito bom, Everton! Agora a análise e a estratégia devem ser o foco maior e como trazer todos esses dados a nosso favor