A dança do dólar: quais são as perspectivas para a moeda norte-americana?
Por André Sacconato para Portal Contábeis
Até pouco tempo atrás, estávamos explicando, nesta coluna, os motivos para a queda do valor do dólar na economia brasileira.
Além disso, já alertávamos para a fragilidade do processo que levara a moeda brasileira aos seus valores mais altos desde 2020: todos pareciam se configurar em fenômenos de curto prazo.
Dito e feito: nos últimos dias, o dólar voltou a quebrar a barreira dos R$ 5, após tentativa de alcançar a marca de R$ 4,50, sem sucesso. E tudo aconteceu muito rápido, em questão de duas semanas.
Para entender as perspectivas da taxa de câmbio, é importante compreender os mecanismos que levaram a moeda americana à rápida revalorização.
São, principalmente, três fatores que forçaram o valor do câmbio a ultrapassar, com vigor, a simbólica marca dos R$ 5, dois internacionais e um nacional.
O primeiro, e mais forte, foram as declarações do presidente do Banco Central daquele país (FED), sobre o futuro das taxas de juros e da inflação.
Ele disse, textualmente, que as condições inflacionárias estadunidenses continuam se deteriorando, e, por isso, será necessária uma dose extra de juros para contê-las, começando pela reunião de maio.
Os mercados imediatamente ajustaram as expectativas para um aumento de 0,5% nesta reunião – caso isso aconteça, deveremos aguardar, no mínimo, um aumento igual para as próximas.
Assim, as taxas de juros dos títulos dos Estados Unidos, que chegaram próximo a zero há alguns anos, bateram recordes.
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O título do governo de dez anos atingiu 3% ao ano (a.a.), pela primeira vez em quatro anos. Depois de uma sucessão de erros do FED, mantendo compras de títulos e juros próximo a zero mesmo com a explosão da inflação, agora, o mercado entende que a dose terá de ser muito maior para conseguir controlar a situação.
A simples expectativa de aumento dos FED funds já elevou a taxa de mercado, sendo suficiente para atrair muitos dólares que estavam no Brasil.
O segundo fator é a China. Além dos movimentos contra o mercado do governo do país asiático, que levaram à piora do crescimento potencial da economia chinesa, agora, o movimento Covid Zero do governo, que praticamente fechou Xangai e já parece alcançar Pequim, reforça a piora das condições do país.
Isso automaticamente prejudica o futuro das empresas de commodities brasileiras e espanta o capital estrangeiro da nossa Bolsa, sem contar que o nervosismo do ambiente externo assusta também o capital das economias emergentes.
O terceiro fator é nacional: o indulto dado pelo presidente Jair Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira piorou o clima entre os Poderes no País, o que traz nervosismo ao investidor estrangeiro.
Somado a este fato, temos o acirramento da polarização nas últimas pesquisas eleitorais. O mercado preferiria um posicionamento mais ao centro, e percebe que isso não vai acontecer.
Ambos os acontecimentos são claramente hostis ao capital estrangeiro, o qual prefere, por segurança, deixar o Brasil.
Ao analisar estas condições, percebemos que só um, e talvez o menos importante (Covid Zero) é temporário. A alta das taxas de juros norte-americanas deve perdurar até, pelo menos, 2023. E a insegurança causada por todo o imbróglio político nacional deve se intensificar até outubro. Assim, a perspectiva do câmbio é de desvalorização, sempre acima dos R$ 5 por dólar.
Deste modo, não parece ser uma boa ideia esperar, caso haja a necessidade de comprar moeda estrangeira – ao menos se você não tiver, no mínimo, um ano para essa espera.