Dança e liderança: o que uma tem a ver com a outra?

Dança e liderança: o que uma tem a ver com a outra?

Ontem, meu filho - que mudou de escola esse ano e lutou bravamente para se adaptar ao novo colégio e todas as transformações que isso trouxe à sua vida -, foi a uma festa de aniversário. Na pré-adolescência, as festas começam a ter presença do DJ e de uma pista de dança. Já no fim da festa, o DJ colocou uma música que ele ama tanto que decorou a coreografia.

Ele não hesitou. Foi para a pista e dançou. Estava se divertindo muito, e causou reações entre os amigos, que se surpreenderam. Logo após a performance, ele me ligou e disse: "não sabia que para ganhar a confiança deles eu só precisava dançar". Com os meus botões de mãe, que busca olhar as duas metades do copo, a cheia e a vazia, lembrei-me das valiosas lições que aprendi na pós-graduação que fiz sobre Liderança e Gestão Pública, e lendo alguns autores maravilhosos como Nassim Taleb (mais especificamente em "Arriscando a própria pele").

A música o levou ao centro da arena. Ele ditou o ritmo do seu corpo, que traduziu o momento aos demais... e subitamente todos voltaram suas atenções para ele. Sem perceber, tinha "ganhado" o privilégio de dizer qual seria o próximo passo, ou movimento. Isso porque liderança tem a ver com música que está tocando, e o movimento que ela estimula. Quem tem ritmo, se adapta com mais facilidade, quem tem energia, não consegue parar de dançar. E, se no limite, é a vida que está em jogo quando você está à frente da sua turma, de um time, da sua equipe ou de um exército, uma das canções que precisamos ter na cabeça (e na playlist) é "Stayin´ Alive", do Bee Gees.

No limite, liderar é guiar, estar à frente, ver além e direcionar quem vem atrás pelos caminhos mais seguros para alcançar o melhor resultado. Um líder precisa ouvir, entender, ler cenários e traduzir contextos. Em mudanças de gestão, onde a velocidade das transformações acelera e os cenários ainda estão se formando, até que as novas peças se encaixem no novo quebra-cabeças, é preciso afinar os sentidos.

Visão, tato... audição. O líder precisa separar o que é barulho do que é a mensagem. Estar atento para perceber que notas da nova música já começaram a surgir no finalzinho da canção que todos estão dançando. Quem já esteve numa boate ou discoteca vai lembrar que quando o DJ é bom, o corpo se ajusta à mudança de ritmo sem precisarmos parar entre uma música e outra. "Please don´t stop the music", é o que todos pedem.

Então para ser líder é preciso saber dançar, Geiza? Sim. E digo mais: precisamos saber dançar todos os tipos de música. Não apenas a que gostamos, ou que anima a nossa alma. Mas a que está no ambiente, às vezes mais lenta, às vezes mais agitada ou estridente... elas é que ditam o ritmo que teremos que imprimir se quisermos seguir em frente e nos mantermos vivos.

No livro Leadership for a Fractured World: How to Cross Boundaries, Build Bridges, and Lead Change"Leadership for a Fractured World: How to Cross Boundaries, Build Bridges, and Lead Change", Dean Williams, que foi meu professor em Harvard, compartilha oito lições sobre como liderar grandes transformações. Ele ensina que elas levam tempo, que não precisamos mudar o mundo hoje ou amanhã; mas temos de nos cercar de pessoas que possam nos impedir de fazer coisas estúpidas. Também ressalta que não devemos levar nada para o lado pessoal, mesmo que seja; e que quando tudo parecer sem sentido, devemos nos reconectar com o nosso propósito; que devemos rir bastante; nos perder, e reabastecer o corpo e o espírito; que devemos escolher nossas batalhas e quando sair delas e (não está nessa ordem no livro, mas deixei essa para o final), ele recomenda: "Comece a dançar"!

Geiza Rocha é jornalista, mestranda em Geografia pela PUC-Rio, pós graduada em Liderança e Gestão Pública pelo CLP/Harvard e em Comunicação para o Mercado pela ESPM.


Liane Borges

Repórter de televisão na SBT

1 m

Estou partindo pra dança agora mesmo 💃 Lembrando que tenho ritmo e fôlego! Belo artigo, Geiza!

Adriana Torres

CHRO I Prontidão para Mudanças I Transformação Cultural I Inclusão I Comunicação

1 m

Adorei Geiza Rocha

Daniela Goes

Diretora Administração e Finanças | Especialista em Saúde Suplementar | Advogada & Contadora | Gestão & Finanças

1 m

Adorei Geiza!! Boas lembranças nossas e do que aprendemos em Harvard. Vivas ao Martin!

Jackeline Marins

Mestre em Política Social pela Universidade Federal Fluminense - UFF

1 m

Amei o artigo! E lembro de tantos trabalhos seus, maravilhosos que tive o prazer de acompanhar! Parabéns, Geiza!

Ricardo Mota da Costa

Vice-presidente da CISBRA - Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil

1 m

Liderança pura e aplicada! 👏🏻

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